Anunciado o grupo de trabalho português para o IPv6
A Versão Seguinte da Internet
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2003
%Pedro Fonseca
IPv6 Task Force Portugal é o nome do grupo de trabalho que vai contribuir para a adopção nacional de uma nova versão do protocolo da Internet, cuja primeira reunião se realiza no próximo dia 25 de Fevereiro. O anúncio foi feito na quinta-feira passada, no seminário "O Protocolo IPv6 - A Nova Geração Internet", realizado em Lisboa pela Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (UMIC). Esta entidade está a dinamizar a criação da referida "estrutura que apoie a introdução no mercado" do IPv6 - a versão 6 do Internet Protocol (IP) -, como referiu o seu responsável, Diogo Vasconcelos, acompanhando o que a União Europeia tem defendido, nomeadamente no plano de acção e-Europe 2005.
Este grupo de trabalho surge após a criação de entidades similares noutros países, como a Espanha - a primeira no espaço europeu e cujos trabalhos deverão terminar em Maio -, a França, o Reino Unido (criada em Janeiro de 2002 com uma vigência de cinco anos), a Suíça, a Alemanha, a Bélgica, o Luxemburgo, a Finlândia ou a Suécia.
Os objectivos visam divulgar junto do mercado e estimular políticas de adopção generalizada do IPv6 em Portugal. Diogo Vasconcelos anunciou que, num próximo programa de bolsas para a sociedade de informação, estas serão canalizadas para certas áreas prioritárias, entre as quais o IPv6.
Este vai suceder ao actual IPv4, embora nem todos os seus aspectos técnicos (como a normalização e a segurança) estejam ainda definitivamente concluídos. Para os utilizadores em geral, a mudança de protocolo não altera a forma de aceder à Internet - embora possam surgir novos serviços - mas, para os fornecedores de equipamentos, serviços e acessos, é uma mudança com contornos significativos.
A principal razão para o aparecimento do IPv6 é a possível escassez de endereços de IP (ver caixa). De um total de 4300 milhões, em 1990 apenas um oitavo desses endereços estava ocupado; mas, em 2000, só metade estava disponível. Parece muito mas a China - que está a começar a aderir em força à Internet - tem 1300 milhões de habitantes e algumas universidades norte-americanas (como a de Stanford, na Califórnia) têm mais endereços atribuídos do que a China ou a Índia, segundo José Joaquim Fernandes, da Direcção-Geral para a Sociedade da Informação na Comissão Europeia.
No final de 2001, 2237 milhões de endereços estavam ocupados - 74 por cento nos EUA, 17 por cento na Europa e 9 por cento na Ásia -, salientou Patrick Cocquet, vice-presidente do IPv6 Forum, que prevê para 2005 o fim dos endereços disponíveis. Nesse ano, serão necessário mil milhões de endereços, adverte Peter Hovell, da BTexact, uma empresa do grupo British Telecom dedicada às novas tecnologias nas telecomunicações.
O IPv6 significa o fim das guerras pela distribuição dos endereços porque deixa virtualmente de existir qualquer limitação ao número de endereços disponíveis. O novo protocolo alberga 340 milhões de biliões de biliões de endereços - uma capacidade de gerir confortavelmente nas próximas décadas a adesão e a ligação de utilizadores e novos equipamentos, sejam telemóveis, frigoríficos, automóveis ou computadores portáteis. Mas o sucesso do IPv6 está também ligado ao desenvolvimento da banda larga e dos serviços correlacionados, lembrou Patrick Cocquet, quando mais aplicações significam mais lucros para os operadores, vantagens para os equipamentos móveis e se facilita a gestão das redes pelos operadores. Para estas empresas, a questão não é se devem mudar para o IPv6 mas quando o devem fazer tendo em conta um plano de negócios interessante.
Do lado político, desde 2000 - mas, principalmente, a partir de 2002 -, a Comissão Europeia apelou aos Estados-membros para adoptarem o IPv6 de forma generalizada antes de 2005. O resultado visível foram 90 milhões de euros para diversos programas de investigação e desenvolvimento no V Programa-Quadro, valor entretanto aumentado no VI Programa-Quadro.
Na vertente técnica, há quem alerte para que a escassez dos endereços constituiria uma falsa questão. Investigadores japoneses, cujo país lidera a adopção do IPv6, referem que só daqui a 15 a 25 anos haverá falta de endereços no contexto do IPv4, enquanto alguns norte-americanos - mais atrasados na adopção do IPv6 e actuais detentores da maior fatia de endereços de IP - referem que o problema só se colocará a partir de 2010.
Os apoiantes do IPv6 defendem que se deverá evitar outra situação análoga à do "bug" do ano 2000, quando muitas das questões técnicas foram resolvidas à pressa e com custos elevados, pelo que a transição para o novo protocolo deveria ser feita de forma suave e devidamente testada antes de a escassez ser um problema real.
Entretanto, enquanto se espera por uma solução de segurança - por exemplo, ao nível das "firewalls", como foi referido por Pedro Veiga, da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) -, operadores tão diferentes como a japonesa NTT ou a sueca Telia já têm redes principais ("backbones") a funcionar comercialmente com base no IPv6.
Portugal tem acompanhado esta questão desde 1994, lembrou Pedro Veiga, quando Fernando Boavida (hoje na Universidade de Coimbra) iniciou os primeiros estudos ainda relacionados com o IpnG (ver caixa). Em Junho de 1996, o nó da Universidade de Lisboa foi um dos três primeiros a nível mundial a ter IPv6 e, em Novembro desse ano, Pedro Roque apresentou a primeira instalação mundial de IPv6 para Linux.
Francisco Fontes, da PT Inovação, revelou no seminário que a sua empresa tem projectos internos e em consórcios comunitários desde 1998 mas, pessoalmente, acredita que apenas em 2004 haverá serviços pré-comerciais, embora já tenham diferentes aplicações em demonstração.
Um elemento da Anacom referiu que esta agência reguladora das telecomunicações já pediu um calendário aos operadores para a adopção do IPv6 mas que este não poderá ser divulgado publicamente. A acreditar nas palavras de Peter Hovell, "o IPv4 ainda faz sentido comercial mas os engenheiros devem começar a perceber o IPv6; daqui a três a cinco anos, todos os fornecedores de acesso à Internet (ISP) terão oferta e algum tráfego em IPv6, e, entre cinco a dez anos, o IPv6 estará generalizado".
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Anunciado o grupo de trabalho português para o IPv6
A Versão Seguinte da Internet
Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2003
%Pedro Fonseca
IPv6 Task Force Portugal é o nome do grupo de trabalho que vai contribuir para a adopção nacional de uma nova versão do protocolo da Internet, cuja primeira reunião se realiza no próximo dia 25 de Fevereiro. O anúncio foi feito na quinta-feira passada, no seminário "O Protocolo IPv6 - A Nova Geração Internet", realizado em Lisboa pela Unidade de Missão Inovação e Conhecimento (UMIC). Esta entidade está a dinamizar a criação da referida "estrutura que apoie a introdução no mercado" do IPv6 - a versão 6 do Internet Protocol (IP) -, como referiu o seu responsável, Diogo Vasconcelos, acompanhando o que a União Europeia tem defendido, nomeadamente no plano de acção e-Europe 2005.
Este grupo de trabalho surge após a criação de entidades similares noutros países, como a Espanha - a primeira no espaço europeu e cujos trabalhos deverão terminar em Maio -, a França, o Reino Unido (criada em Janeiro de 2002 com uma vigência de cinco anos), a Suíça, a Alemanha, a Bélgica, o Luxemburgo, a Finlândia ou a Suécia.
Os objectivos visam divulgar junto do mercado e estimular políticas de adopção generalizada do IPv6 em Portugal. Diogo Vasconcelos anunciou que, num próximo programa de bolsas para a sociedade de informação, estas serão canalizadas para certas áreas prioritárias, entre as quais o IPv6.
Este vai suceder ao actual IPv4, embora nem todos os seus aspectos técnicos (como a normalização e a segurança) estejam ainda definitivamente concluídos. Para os utilizadores em geral, a mudança de protocolo não altera a forma de aceder à Internet - embora possam surgir novos serviços - mas, para os fornecedores de equipamentos, serviços e acessos, é uma mudança com contornos significativos.
A principal razão para o aparecimento do IPv6 é a possível escassez de endereços de IP (ver caixa). De um total de 4300 milhões, em 1990 apenas um oitavo desses endereços estava ocupado; mas, em 2000, só metade estava disponível. Parece muito mas a China - que está a começar a aderir em força à Internet - tem 1300 milhões de habitantes e algumas universidades norte-americanas (como a de Stanford, na Califórnia) têm mais endereços atribuídos do que a China ou a Índia, segundo José Joaquim Fernandes, da Direcção-Geral para a Sociedade da Informação na Comissão Europeia.
No final de 2001, 2237 milhões de endereços estavam ocupados - 74 por cento nos EUA, 17 por cento na Europa e 9 por cento na Ásia -, salientou Patrick Cocquet, vice-presidente do IPv6 Forum, que prevê para 2005 o fim dos endereços disponíveis. Nesse ano, serão necessário mil milhões de endereços, adverte Peter Hovell, da BTexact, uma empresa do grupo British Telecom dedicada às novas tecnologias nas telecomunicações.
O IPv6 significa o fim das guerras pela distribuição dos endereços porque deixa virtualmente de existir qualquer limitação ao número de endereços disponíveis. O novo protocolo alberga 340 milhões de biliões de biliões de endereços - uma capacidade de gerir confortavelmente nas próximas décadas a adesão e a ligação de utilizadores e novos equipamentos, sejam telemóveis, frigoríficos, automóveis ou computadores portáteis. Mas o sucesso do IPv6 está também ligado ao desenvolvimento da banda larga e dos serviços correlacionados, lembrou Patrick Cocquet, quando mais aplicações significam mais lucros para os operadores, vantagens para os equipamentos móveis e se facilita a gestão das redes pelos operadores. Para estas empresas, a questão não é se devem mudar para o IPv6 mas quando o devem fazer tendo em conta um plano de negócios interessante.
Do lado político, desde 2000 - mas, principalmente, a partir de 2002 -, a Comissão Europeia apelou aos Estados-membros para adoptarem o IPv6 de forma generalizada antes de 2005. O resultado visível foram 90 milhões de euros para diversos programas de investigação e desenvolvimento no V Programa-Quadro, valor entretanto aumentado no VI Programa-Quadro.
Na vertente técnica, há quem alerte para que a escassez dos endereços constituiria uma falsa questão. Investigadores japoneses, cujo país lidera a adopção do IPv6, referem que só daqui a 15 a 25 anos haverá falta de endereços no contexto do IPv4, enquanto alguns norte-americanos - mais atrasados na adopção do IPv6 e actuais detentores da maior fatia de endereços de IP - referem que o problema só se colocará a partir de 2010.
Os apoiantes do IPv6 defendem que se deverá evitar outra situação análoga à do "bug" do ano 2000, quando muitas das questões técnicas foram resolvidas à pressa e com custos elevados, pelo que a transição para o novo protocolo deveria ser feita de forma suave e devidamente testada antes de a escassez ser um problema real.
Entretanto, enquanto se espera por uma solução de segurança - por exemplo, ao nível das "firewalls", como foi referido por Pedro Veiga, da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) -, operadores tão diferentes como a japonesa NTT ou a sueca Telia já têm redes principais ("backbones") a funcionar comercialmente com base no IPv6.
Portugal tem acompanhado esta questão desde 1994, lembrou Pedro Veiga, quando Fernando Boavida (hoje na Universidade de Coimbra) iniciou os primeiros estudos ainda relacionados com o IpnG (ver caixa). Em Junho de 1996, o nó da Universidade de Lisboa foi um dos três primeiros a nível mundial a ter IPv6 e, em Novembro desse ano, Pedro Roque apresentou a primeira instalação mundial de IPv6 para Linux.
Francisco Fontes, da PT Inovação, revelou no seminário que a sua empresa tem projectos internos e em consórcios comunitários desde 1998 mas, pessoalmente, acredita que apenas em 2004 haverá serviços pré-comerciais, embora já tenham diferentes aplicações em demonstração.
Um elemento da Anacom referiu que esta agência reguladora das telecomunicações já pediu um calendário aos operadores para a adopção do IPv6 mas que este não poderá ser divulgado publicamente. A acreditar nas palavras de Peter Hovell, "o IPv4 ainda faz sentido comercial mas os engenheiros devem começar a perceber o IPv6; daqui a três a cinco anos, todos os fornecedores de acesso à Internet (ISP) terão oferta e algum tráfego em IPv6, e, entre cinco a dez anos, o IPv6 estará generalizado".