Enquanto não chega a conta satélite da actividade
Peso do Turismo no PIB na Economia É Um Mistério
Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2004
Sector representa entre cerca de dois por cento e 17 por cento do produto interno bruto português de acordo com números divulgados no congresso das agências de viagens e turismo
Inês Sequeira, Pernambuco*
O peso do sector do turismo no produto interno bruto (PIB) português varia entre cerca de dois por cento e 17 por cento da economia nacional, em função das fontes e critérios de cálculo que se utilizem, de acordo com estimativas do ex-secretário de Estado do Tesouro e das Finanças e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Miguel Frasquilho. O também director da Espírito Santo Research que falava durante um painel sobre as estatísticas de turismo realizado durante o último congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, durante a semana passada, considera que "a fraca produtividade" do turismo "pode ser em grande parte explicada pela inexistência de estatísticas reveladoras do total envolvimento das actividades económicas ligadas ao sector". Daí a necessidade de uma Conta Satélite do Turismo em Portugal que avalie o peso do sector na economia de acordo com os critérios da Organização Mundial do Turismo - esta medida foi aliás prometida pelo anterior Governo para os primeiros meses de 2005.
Para já, os números oficiais do Instituto Nacional de Estatística indicam "uma importância muito reduzida deste sector na actividade económica", com o valor acrescentado bruto (VAB), riqueza gerada pelo sector, a representar apenas 2,07 por cento do total nacional se consideramos o conceito de turismo do INE que inclui apenas as agências de viagens e turismo, o alojamento e a restauração entre dois a três por cento do total nacional, lembrou o economista. A situação melhora um pouco se aos três subsectores anteriores somarmos o transporte aéreo. Feitos os cálculos, o VAB gerado directamente pelo turismo sobe para cerca de 2,56 por cento do PIB, afirmou Miguel Frasquilho. Se considerarmos os efeitos indirectos em outros sectores de actividade, o peso total do turismo no VAB salta para 3,67 por cento.
De qualquer forma, salienta o antigo secretário de Estado, todos estes cálculos encontram-se bem distantes dos 17 por cento de peso total atribuídos pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) ao turismo em Portugal.
Efeitos directos "versus" indirectos
Durante o painel dedicado à conta satélite do turismo, Carlos Costa, docente da Escola Superior de Hotelaria do Estoril, também levantou várias dúvidas quanto aos números que têm sido avançados relativamente ao peso do sector. O antigo chefe de gabinete de Pina Moura no ministério das Finanças citou um estudo da Universidade do Algarve encomendado pela Confederação do Turismo Português, que atribuía ao sector um peso directo e indirecto de cerca de 11 por cento na economia. Considero que isso não é correcto, afirmou Costa defendendo que só podem ser contabilizados os contributos directos - 5,6 por cento, de acordo com o mesmo estudo. "Não se pode somar contributos indirectos com contributos directos, uma vez que estes últimos são contributos directos de outros sectores", afirmou o académico que, no entanto, reconheceu o importante efeito multiplicador do sector no resto da economia.
Já Licínio Cunha, secretário de Estado do Turismo em vários Governos de Cavaco Silva, tem uma opinião completamente diversa: os cálculos da importância económica do turismo têm de incluir ganhos que têm sido até agora desprezados. Exemplos? Até o turismo emissor traz receitas para a economia doméstica através da compra de malas ou de fatos de banho feitas pelos portugueses antes de viajarem para o estrangeiro. Os pacotes de viagens adquiridos a operadores turísticos em território nacional, mesmo quando se referem a deslocações para outros países, deveriam ser incluídos no "bolo" das receitas, indicou.
Conclusão? Continua por se saber qual a importância real do sector, apesar das mensagens dos empresários e dos últimos Governos sobre o papel do turismo na retoma econômica do país, concluíram os três intervenientes no painel.
*A jornalista viajou a convite da APAVT
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Enquanto não chega a conta satélite da actividade
Peso do Turismo no PIB na Economia É Um Mistério
Segunda-feira, 06 de Dezembro de 2004
Sector representa entre cerca de dois por cento e 17 por cento do produto interno bruto português de acordo com números divulgados no congresso das agências de viagens e turismo
Inês Sequeira, Pernambuco*
O peso do sector do turismo no produto interno bruto (PIB) português varia entre cerca de dois por cento e 17 por cento da economia nacional, em função das fontes e critérios de cálculo que se utilizem, de acordo com estimativas do ex-secretário de Estado do Tesouro e das Finanças e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Miguel Frasquilho. O também director da Espírito Santo Research que falava durante um painel sobre as estatísticas de turismo realizado durante o último congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, durante a semana passada, considera que "a fraca produtividade" do turismo "pode ser em grande parte explicada pela inexistência de estatísticas reveladoras do total envolvimento das actividades económicas ligadas ao sector". Daí a necessidade de uma Conta Satélite do Turismo em Portugal que avalie o peso do sector na economia de acordo com os critérios da Organização Mundial do Turismo - esta medida foi aliás prometida pelo anterior Governo para os primeiros meses de 2005.
Para já, os números oficiais do Instituto Nacional de Estatística indicam "uma importância muito reduzida deste sector na actividade económica", com o valor acrescentado bruto (VAB), riqueza gerada pelo sector, a representar apenas 2,07 por cento do total nacional se consideramos o conceito de turismo do INE que inclui apenas as agências de viagens e turismo, o alojamento e a restauração entre dois a três por cento do total nacional, lembrou o economista. A situação melhora um pouco se aos três subsectores anteriores somarmos o transporte aéreo. Feitos os cálculos, o VAB gerado directamente pelo turismo sobe para cerca de 2,56 por cento do PIB, afirmou Miguel Frasquilho. Se considerarmos os efeitos indirectos em outros sectores de actividade, o peso total do turismo no VAB salta para 3,67 por cento.
De qualquer forma, salienta o antigo secretário de Estado, todos estes cálculos encontram-se bem distantes dos 17 por cento de peso total atribuídos pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) ao turismo em Portugal.
Efeitos directos "versus" indirectos
Durante o painel dedicado à conta satélite do turismo, Carlos Costa, docente da Escola Superior de Hotelaria do Estoril, também levantou várias dúvidas quanto aos números que têm sido avançados relativamente ao peso do sector. O antigo chefe de gabinete de Pina Moura no ministério das Finanças citou um estudo da Universidade do Algarve encomendado pela Confederação do Turismo Português, que atribuía ao sector um peso directo e indirecto de cerca de 11 por cento na economia. Considero que isso não é correcto, afirmou Costa defendendo que só podem ser contabilizados os contributos directos - 5,6 por cento, de acordo com o mesmo estudo. "Não se pode somar contributos indirectos com contributos directos, uma vez que estes últimos são contributos directos de outros sectores", afirmou o académico que, no entanto, reconheceu o importante efeito multiplicador do sector no resto da economia.
Já Licínio Cunha, secretário de Estado do Turismo em vários Governos de Cavaco Silva, tem uma opinião completamente diversa: os cálculos da importância económica do turismo têm de incluir ganhos que têm sido até agora desprezados. Exemplos? Até o turismo emissor traz receitas para a economia doméstica através da compra de malas ou de fatos de banho feitas pelos portugueses antes de viajarem para o estrangeiro. Os pacotes de viagens adquiridos a operadores turísticos em território nacional, mesmo quando se referem a deslocações para outros países, deveriam ser incluídos no "bolo" das receitas, indicou.
Conclusão? Continua por se saber qual a importância real do sector, apesar das mensagens dos empresários e dos últimos Governos sobre o papel do turismo na retoma econômica do país, concluíram os três intervenientes no painel.
*A jornalista viajou a convite da APAVT