EXPRESSO: País

29-08-2002
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Mosquito da malária pica deputado

Laurentino Dias esteve 18 dias internado no Egas Moniz

O CASO do deputado socialista Laurentino Dias, picado pelo mosquito da malária numa viagem a Moçambique, é um dos exemplos mais recentes da incúria com que, por vezes, se viaja para países potencialmente perigosos. Nem sempre os portugueses que se deslocam a países africanos realizam, antes da partida, a consulta do viajante, confiando na opinião dos farmacêuticos ou dos agentes de viagem. Laurentino Dias viaja com frequência para Moçambique, país com o qual a Assembleia da República mantém uma colaboração estreita.

Em Abril, voltou ao Maputo, desta vez acompanhado pelo deputado do CDS/PP Nuno Melo, para mais uma sessão de formação e esclarecimento com a classe política moçambicana sobre assuntos tão diversos como a organização dos partidos ou a preparação das eleições. Confirmado o dia da viagem, depois de alguns adiamentos, o deputado foi a uma farmácia e solicitou «Mefloquina», o medicamento adequado para aquele país. Mas, na farmácia de Lisboa a que se deslocou, o remédio estava esgotado e, em sua substituição, venderam-lhe um outro, à base de resoquina, cujos efeitos são nulos perante as picadas do mosquito de que foi alvo. Mais sorte teve Nuno Melo, que adquiriu o medicamento certo nos serviços da Assembleia da República.

Azar dos azares, as picadelas aconteceram, segundo disse o deputado ao EXPRESSO, dentro do avião da TAP que o trouxe de Moçambique na noite de 24 para 25 de Abril. «Senti duas picadas, uma no pescoço e outra na mão. Falei com a assistente de bordo e chamei-lhe a atenção. Ela achou estranho, mas depois de eu insistir foi buscar um insecticida e matou os mosquitos», recorda Laurentino Dias.

Os sintomas só apareceram oito dias depois da picada, período normal de incubação de uma doença que, no início, pode ser confundida com uma gripe forte. A dúvida de Laurentino Dias apenas ficou dissipada com uma consulta no Hospital Egas Moniz, em Lisboa (antigo Centro de Medicina Tropical). Confirmaram-se, então, as suas piores suspeitas: «Já não me deixaram sair do hospital, e foram precisos 18 dias de internamento e boa condição física para suportar as 'doses cavalares' de quinino.»

Fernando Borges, director clínico do Egas Moniz, confirma que neste tipo de situações o melhor «é a realização da consulta do viajante» e que uma vacina pode ser indicada para um determinado país mas ser totalmente ineficaz na protecção dos mosquitos de um outro local do mesmo continente. No caso da resoquina, ela não é um antídoto aconselhável para Moçambique, Angola ou África do Sul.

Também a filha de um conhecido farmacêutico lisboeta e o seu marido, durante uma viagem de férias a São Tomé e Príncipe, sofreram os efeitos da ignorância e da falta de cuidados. Aconselhado pela agência de viagens, o casal adquiriu resoquina e quando regressou foi internado de urgência. «Não sabíamos da necessidade de uma consulta do viajante», reconhecem.

A ausência de uma informação adequada nas farmácias pode induzir os viajantes em erro. Apesar das tentativas para chegar à fala com um representante da Associação Nacional de Farmácias, ninguém quis prestar esclarecimentos.

Já o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT), Eduardo Pinto Lopes, confrontado com o problema da informação, afirma que a maioria dos operadores tem condições para esclarecer adequadamente os clientes: «Nós recomendamos aos clientes, em casos de necessidade, a consulta a um médico ou a tomada de medidas profilácticas.» Mas Eduardo Lopes reconhece que pode haver uma parte das agências que não cumpram a legislação que as obriga a dar uma informação adequada aos clientes sobre a viagem.

Mosquito da malária pica deputado

Laurentino Dias esteve 18 dias internado no Egas Moniz

O CASO do deputado socialista Laurentino Dias, picado pelo mosquito da malária numa viagem a Moçambique, é um dos exemplos mais recentes da incúria com que, por vezes, se viaja para países potencialmente perigosos. Nem sempre os portugueses que se deslocam a países africanos realizam, antes da partida, a consulta do viajante, confiando na opinião dos farmacêuticos ou dos agentes de viagem. Laurentino Dias viaja com frequência para Moçambique, país com o qual a Assembleia da República mantém uma colaboração estreita.

Em Abril, voltou ao Maputo, desta vez acompanhado pelo deputado do CDS/PP Nuno Melo, para mais uma sessão de formação e esclarecimento com a classe política moçambicana sobre assuntos tão diversos como a organização dos partidos ou a preparação das eleições. Confirmado o dia da viagem, depois de alguns adiamentos, o deputado foi a uma farmácia e solicitou «Mefloquina», o medicamento adequado para aquele país. Mas, na farmácia de Lisboa a que se deslocou, o remédio estava esgotado e, em sua substituição, venderam-lhe um outro, à base de resoquina, cujos efeitos são nulos perante as picadas do mosquito de que foi alvo. Mais sorte teve Nuno Melo, que adquiriu o medicamento certo nos serviços da Assembleia da República.

Azar dos azares, as picadelas aconteceram, segundo disse o deputado ao EXPRESSO, dentro do avião da TAP que o trouxe de Moçambique na noite de 24 para 25 de Abril. «Senti duas picadas, uma no pescoço e outra na mão. Falei com a assistente de bordo e chamei-lhe a atenção. Ela achou estranho, mas depois de eu insistir foi buscar um insecticida e matou os mosquitos», recorda Laurentino Dias.

Os sintomas só apareceram oito dias depois da picada, período normal de incubação de uma doença que, no início, pode ser confundida com uma gripe forte. A dúvida de Laurentino Dias apenas ficou dissipada com uma consulta no Hospital Egas Moniz, em Lisboa (antigo Centro de Medicina Tropical). Confirmaram-se, então, as suas piores suspeitas: «Já não me deixaram sair do hospital, e foram precisos 18 dias de internamento e boa condição física para suportar as 'doses cavalares' de quinino.»

Fernando Borges, director clínico do Egas Moniz, confirma que neste tipo de situações o melhor «é a realização da consulta do viajante» e que uma vacina pode ser indicada para um determinado país mas ser totalmente ineficaz na protecção dos mosquitos de um outro local do mesmo continente. No caso da resoquina, ela não é um antídoto aconselhável para Moçambique, Angola ou África do Sul.

Também a filha de um conhecido farmacêutico lisboeta e o seu marido, durante uma viagem de férias a São Tomé e Príncipe, sofreram os efeitos da ignorância e da falta de cuidados. Aconselhado pela agência de viagens, o casal adquiriu resoquina e quando regressou foi internado de urgência. «Não sabíamos da necessidade de uma consulta do viajante», reconhecem.

A ausência de uma informação adequada nas farmácias pode induzir os viajantes em erro. Apesar das tentativas para chegar à fala com um representante da Associação Nacional de Farmácias, ninguém quis prestar esclarecimentos.

Já o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT), Eduardo Pinto Lopes, confrontado com o problema da informação, afirma que a maioria dos operadores tem condições para esclarecer adequadamente os clientes: «Nós recomendamos aos clientes, em casos de necessidade, a consulta a um médico ou a tomada de medidas profilácticas.» Mas Eduardo Lopes reconhece que pode haver uma parte das agências que não cumpram a legislação que as obriga a dar uma informação adequada aos clientes sobre a viagem.

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