Crise Aberta no PSD de Viana
Por ANTÓNIO GONÇALVES
Sábado, 12 de Abril de 2003
A secção do PSD de Viana do Castelo está a viver momentos particularmente perturbados (e com várias interpretações), não por divisões que se possam situar directamente no plano das opções político-partidárias mas na singela questão da regularidade - ou irregularidade - das contas do exercício relativo ao ano passado. Um cheque do partido está no epicentro da turbulência e já levou à demissão de um elemento daquela estrutura partidária, Torcato Marques, enquanto o tesoureiro, Carlos Morais, optou por se desmarcar da contenda ao não aprovar as citadas contas na reunião da passada terça-feira. O partido, em comunicado, fala apenas de uma abstenção naquela votação e refere não ter havido votos contra.
A realização de eleições para a comissão política concelhia (CPC) em Março de 2002, perante o confronto de duas listas, desencadeou o pagamento de refiliações e regularizações dos militantes por parte dos candidatos das duas listas. Um cenário que é habitual em refregas eleitorais sempre que há pelo menos duas candidaturas, como nos confirmaram fontes do PSD. Torcato Marques, actual administrador do Centro Hospitalar do Alto Minho, adiantou do seu bolso, para o citado efeito, pelo menos 1.047,56 euros. Outros candidatos, noutros montantes, tomaram atitudes idênticas. A lista integrada por Marques, liderada por Antonino Antunes, acabou por sair vitoriosa. Mas a cobrança aos militantes a quem havia sido regularizada a situação partidária ficou por se efectivar na totalidade. O que acontece muitas vezes, como nos adiantaram.
Em Julho seguinte, o presidente da CPC assinou um cheque do próprio partido, preenchido pela funcionária e com aquele exacto valor, acompanhado de um recibo relativo a reembolso de despesas efectuadas por Torcato Marques. Além da assinatura de Antunes, era necessária uma segunda e foi a do próprio Marques a constar no cheque. Já este ano, o assunto volta à baila internamente. Ao que apurámos, o tesoureiro da CPC não se dispôs a aceitar tal procedimento. Em declarações ao PÚBLICO, Carlos Morais escusou-se a confirmar ou desmentir tal atitude, adiantando que tomou "as devidas providências na altura certa, alertando para as irregularidades acontecidas". Quaisquer outros esclarecimentos, continuou, "só nos órgãos do partido, como é meu dever".
Recentemente, Torcato Marques apresentou a demissão da CPC, como referimos na edição de ontem. Alegadamente, por ter sido "enganado" por Antonino Antunes e "alvo de uma armadilha". Na mesma altura, um auto-intitulado "grupo de militantes" dava o alarme para a questão do pagamento das quotas no partido, na secção de Viana, através de cartas anónimas (foram utilizados os serviços postais do aeroporto Sá Carneiro, no Porto). Antunes e Marques estão na mira dos contestatários anónimos que pretenderão convocar uma assembleia concelhia extraordinária para debater o assunto.
O presidente da CPC, ausente, em gozo de férias, na América do Sul, emitiu ontem um comunicado pessoal onde expressa que todo este processo é oriundo da "oposição interna", a coberto do anonimato, "que não olha a meios". Embora não de forma directa, trata-se de uma alusão aos apoiantes de António Amaral, o militante que havia disputado a liderança da CPC, no ano passado, com Antunes. Por outro lado, é adiantado que as contas de 2002 foram aprovadas na passada terça-feira, numa reunião normal da CPC, "não tendo sido antes por não terem sido tempestivamente apresentadas pelo responsável [tesoureiro]", havendo "irregularidades que tinham a ver com o membro demissionário [Torcato Marques]".
Em declarações ao PÚBLICO, Antonino Antunes referiu que, quando regressar, no próximo dia 23 de Abril, vai "colocar tudo em pratos limpos". A atitude a tomar poderá passar pelo desencadear de procedimentos criminais baseados nas declarações feitas pelos militantes do PSD sobre esta questão.
Também ontem, a CPC de Viana do PSD emitiu um comunicado, subscrito pelo seu vice-presidente, Amorim Fernandes, em que é notado que o "recibo [de Torcato Marques] carecia de suporte documental". Numa referência à reunião da CPC da passada terça-feira, diz-se que o próprio Torcato Marques estava presente, tendo as contas sido aprovadas. Mas, afinal, não terá sido só assim. Carlos Morais, o tesoureiro da CPC, votou contra e apresentou declaração de voto. Na calha poderá estar, por parte deste dirigente, a demissão do cargo que ocupa. "Não digo que sim, nem que não. Tomarei uma posição sobre esse assunto em breve", rematou.
Refira-se ainda que, ao contrário das afirmações de Torcato Marques ontem relatadas no PÚBLICO, esta não é primeira vez que integra uma estrutura partidária. Aquele militante social-democrata pertenceu à comissão política da secção de Viana no mandato anterior, liderada por Carlos Antunes, e a sua actuação foi marcada pela pouca participação, como nos assegurou fonte partidária, embora estivesse presente sempre que foram tratados os assuntos mais importantes, nomeadamente os relacionados com as candidaturas autárquicas. Torcato Marques também pertence à actual comissão política distrital dos sociais-democratas.
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Crise Aberta no PSD de Viana
Por ANTÓNIO GONÇALVES
Sábado, 12 de Abril de 2003
A secção do PSD de Viana do Castelo está a viver momentos particularmente perturbados (e com várias interpretações), não por divisões que se possam situar directamente no plano das opções político-partidárias mas na singela questão da regularidade - ou irregularidade - das contas do exercício relativo ao ano passado. Um cheque do partido está no epicentro da turbulência e já levou à demissão de um elemento daquela estrutura partidária, Torcato Marques, enquanto o tesoureiro, Carlos Morais, optou por se desmarcar da contenda ao não aprovar as citadas contas na reunião da passada terça-feira. O partido, em comunicado, fala apenas de uma abstenção naquela votação e refere não ter havido votos contra.
A realização de eleições para a comissão política concelhia (CPC) em Março de 2002, perante o confronto de duas listas, desencadeou o pagamento de refiliações e regularizações dos militantes por parte dos candidatos das duas listas. Um cenário que é habitual em refregas eleitorais sempre que há pelo menos duas candidaturas, como nos confirmaram fontes do PSD. Torcato Marques, actual administrador do Centro Hospitalar do Alto Minho, adiantou do seu bolso, para o citado efeito, pelo menos 1.047,56 euros. Outros candidatos, noutros montantes, tomaram atitudes idênticas. A lista integrada por Marques, liderada por Antonino Antunes, acabou por sair vitoriosa. Mas a cobrança aos militantes a quem havia sido regularizada a situação partidária ficou por se efectivar na totalidade. O que acontece muitas vezes, como nos adiantaram.
Em Julho seguinte, o presidente da CPC assinou um cheque do próprio partido, preenchido pela funcionária e com aquele exacto valor, acompanhado de um recibo relativo a reembolso de despesas efectuadas por Torcato Marques. Além da assinatura de Antunes, era necessária uma segunda e foi a do próprio Marques a constar no cheque. Já este ano, o assunto volta à baila internamente. Ao que apurámos, o tesoureiro da CPC não se dispôs a aceitar tal procedimento. Em declarações ao PÚBLICO, Carlos Morais escusou-se a confirmar ou desmentir tal atitude, adiantando que tomou "as devidas providências na altura certa, alertando para as irregularidades acontecidas". Quaisquer outros esclarecimentos, continuou, "só nos órgãos do partido, como é meu dever".
Recentemente, Torcato Marques apresentou a demissão da CPC, como referimos na edição de ontem. Alegadamente, por ter sido "enganado" por Antonino Antunes e "alvo de uma armadilha". Na mesma altura, um auto-intitulado "grupo de militantes" dava o alarme para a questão do pagamento das quotas no partido, na secção de Viana, através de cartas anónimas (foram utilizados os serviços postais do aeroporto Sá Carneiro, no Porto). Antunes e Marques estão na mira dos contestatários anónimos que pretenderão convocar uma assembleia concelhia extraordinária para debater o assunto.
O presidente da CPC, ausente, em gozo de férias, na América do Sul, emitiu ontem um comunicado pessoal onde expressa que todo este processo é oriundo da "oposição interna", a coberto do anonimato, "que não olha a meios". Embora não de forma directa, trata-se de uma alusão aos apoiantes de António Amaral, o militante que havia disputado a liderança da CPC, no ano passado, com Antunes. Por outro lado, é adiantado que as contas de 2002 foram aprovadas na passada terça-feira, numa reunião normal da CPC, "não tendo sido antes por não terem sido tempestivamente apresentadas pelo responsável [tesoureiro]", havendo "irregularidades que tinham a ver com o membro demissionário [Torcato Marques]".
Em declarações ao PÚBLICO, Antonino Antunes referiu que, quando regressar, no próximo dia 23 de Abril, vai "colocar tudo em pratos limpos". A atitude a tomar poderá passar pelo desencadear de procedimentos criminais baseados nas declarações feitas pelos militantes do PSD sobre esta questão.
Também ontem, a CPC de Viana do PSD emitiu um comunicado, subscrito pelo seu vice-presidente, Amorim Fernandes, em que é notado que o "recibo [de Torcato Marques] carecia de suporte documental". Numa referência à reunião da CPC da passada terça-feira, diz-se que o próprio Torcato Marques estava presente, tendo as contas sido aprovadas. Mas, afinal, não terá sido só assim. Carlos Morais, o tesoureiro da CPC, votou contra e apresentou declaração de voto. Na calha poderá estar, por parte deste dirigente, a demissão do cargo que ocupa. "Não digo que sim, nem que não. Tomarei uma posição sobre esse assunto em breve", rematou.
Refira-se ainda que, ao contrário das afirmações de Torcato Marques ontem relatadas no PÚBLICO, esta não é primeira vez que integra uma estrutura partidária. Aquele militante social-democrata pertenceu à comissão política da secção de Viana no mandato anterior, liderada por Carlos Antunes, e a sua actuação foi marcada pela pouca participação, como nos assegurou fonte partidária, embora estivesse presente sempre que foram tratados os assuntos mais importantes, nomeadamente os relacionados com as candidaturas autárquicas. Torcato Marques também pertence à actual comissão política distrital dos sociais-democratas.