NimbyPolis: As vizinhas da Noémia

03-07-2011
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São três irmãs: Maria Esperança, a mais velha, a Maria da Caridade, a do meio, e a Maria da Fé, a mais velha e a única que é casada. As duas primeiras têm um salão de cabeleireiro, que abriram há 3 anos com dinheiros da CE, parcialmente a fundo perdido, através do programa de apoio a jovens empresários. Tiveram a ajuda generosa do Presidente da Junta, o Ti Zé da Ponte, a quem, a dada altura, tiveram que despachar
- Não apareça mais Ti Zé, olhe mas é pela sua patroa…!
por incompetência nas lides amorosas. Mas abandonaram (e isso foi o que lhes interessou de verdade) a chafurdice da criação de porcos, galinhas e outros animais, devido ao impacte ambiental
- O impacte é significativo, têm que implementar um plano para minimizar a poluição – diziam os técnicos
dos dejectos que o rio lá da terra já não diluía. Registe-se, em abono da verdade, que os tais técnicos nunca lhes aplicaram qualquer coima, tendo-se constado
- São umas vacas…! Coitados dos porcos…!
que tal raridade se teria ficado a dever a troca de favores entre as partes interessadas. Mas lá se urbanizaram através do tal salão, isto é, deixaram de cheirar a estrume de porco, passando a ter alguma cotação para os gajos que até aí se mostravam desinteressados, qual nuvem que muito promete mas que se esfuma ao mínimo sopro.
O Tone, também vizinho, foi um dos rapazes onde a Esperança e a Caridade fizeram o tirocínio e o curso completo, com agrado para os três. Passada essa fase, como boas empresárias que são e porque ele tinha sido, de longe, o que melhor desempenho tinha mostrado, era chegada a altura da reciclagem (delas, claro). Mas ele tardava em mostrar-se, mesmo com um controlo apertado que elas tinham montado e que incluía o visionamento ininterrupto do espelho do salão (plano de monitorização selectiva,
- Olhem o plano…
como os técnicos ambientais lhes quiseram impingir para manter a suinicultura). Após um mês de resultados infrutíferos resolveram investigar. Ninguém sabia dele, incluindo o Pároco Frederico, que contactou vários colegas sem sucesso. Um belo dia, quando estavam muito desconsoladas
- Porca de vida esta…!
a ver um telejornal, ouviram uma mulher dizer, a propósito de um pai açoriano que tinha escondido (vendido?) um filho e não dizia a ninguém:
- Procurem na Internet que lá encontra-se tudo…!
Foram de imediato falar com Padre Frederico, que tinha a Internet na residência paroquial. Após alguns visionamentos impróprios que o Padre intencionalmente provocou, mas dos quais ia pedindo desculpa às moçoilas com umas festinhas
- Oh minhas filhas, fechem os olhos que isto é obra do diabo…!
lá encontraram as notícias actualizadas que as irmãs pretendiam. O Tone tinha estado no Alentejo, na casa da Ludovina Escarameia, a dona da «Abençoada Coisa Alentejana», tipo casa de alterne literária, daí fora para a Coreia do Norte (o plano de matar o Presidente tinha abortado por culpa do Celestino), mas agora encontrava-se em Vladivostok, pois estava de namoro com uma gaja, a Katia, que encontrou na estação de comboios da cidade.
Mas havia mais: o Celestino e a Noémia tinham fugido para Fernão Ferro (Seixal) onde alugaram uma vivenda e já estavam a morar juntos. Tinham deixado a casa da Comadre Ludovina num vendaval e um bilhete na mesinha de cabeceira informando:
- Olhe cunhada, é só para lhe dizer que fomos de lua-de-mel. Se não nos conseguir contactar estamos numa vivenda chique à entrada de Fernão Ferro quando se vem de Sesimbra, mas é melhor ninguém nos incomodar nos próximos tempos…!
Quem estava muito informado era o Padre Querubim. Aí o Padre Frederico nem pestanejou e usou de pronto o seu SMS.
- Caro colega Padre Querubim: Quero informá-lo que a Noémia, a rapariga que se juntou com o Celestino, é minha paroquiana em Refoios do Lima. Não o conheço pessoalmente, mas o que vi permite-me afirmar que o colega é um fraco pastor. Deixou que uma das suas ímpias ovelhas se tresmalhasse e, por via disso, transviasse a mais ingénua ovelhita do meu ordeiro e devoto rebanho. Exijo que tome medidas drásticas de modo a que a Noémia regresse a casa de imediato.
- Caro colega Padre Frederico: Sou Alentejano mas não sou lento de ideias. A ausência da Noémia está a pô-lo nervoso. Qual era a relação que o colega tinha com ela? Está com ciúmes?
- Ouça lá, ó seu padreco de meia tigela. Está a insinuar que eu e a Noémia temos um caso? Olhe que eu acuso-o ao Bispo por difamação…! E ele tem mão pesada para padres libidinosos que não respeitam o celibato como o colega…! Aquela troca de mensagens azedou e não deu em nada. As irmãs Esperança e Caridade estavam sideradas, como se o comboio lhes estivesse a passar por cima. O Padre consolou-as como pode e, quando regressaram a casa, já era quase meia-noite. Pelo caminho foram gizando um plano de vingança. Eles não esperariam pela demora…

São três irmãs: Maria Esperança, a mais velha, a Maria da Caridade, a do meio, e a Maria da Fé, a mais velha e a única que é casada. As duas primeiras têm um salão de cabeleireiro, que abriram há 3 anos com dinheiros da CE, parcialmente a fundo perdido, através do programa de apoio a jovens empresários. Tiveram a ajuda generosa do Presidente da Junta, o Ti Zé da Ponte, a quem, a dada altura, tiveram que despachar
- Não apareça mais Ti Zé, olhe mas é pela sua patroa…!
por incompetência nas lides amorosas. Mas abandonaram (e isso foi o que lhes interessou de verdade) a chafurdice da criação de porcos, galinhas e outros animais, devido ao impacte ambiental
- O impacte é significativo, têm que implementar um plano para minimizar a poluição – diziam os técnicos
dos dejectos que o rio lá da terra já não diluía. Registe-se, em abono da verdade, que os tais técnicos nunca lhes aplicaram qualquer coima, tendo-se constado
- São umas vacas…! Coitados dos porcos…!
que tal raridade se teria ficado a dever a troca de favores entre as partes interessadas. Mas lá se urbanizaram através do tal salão, isto é, deixaram de cheirar a estrume de porco, passando a ter alguma cotação para os gajos que até aí se mostravam desinteressados, qual nuvem que muito promete mas que se esfuma ao mínimo sopro.
O Tone, também vizinho, foi um dos rapazes onde a Esperança e a Caridade fizeram o tirocínio e o curso completo, com agrado para os três. Passada essa fase, como boas empresárias que são e porque ele tinha sido, de longe, o que melhor desempenho tinha mostrado, era chegada a altura da reciclagem (delas, claro). Mas ele tardava em mostrar-se, mesmo com um controlo apertado que elas tinham montado e que incluía o visionamento ininterrupto do espelho do salão (plano de monitorização selectiva,
- Olhem o plano…
como os técnicos ambientais lhes quiseram impingir para manter a suinicultura). Após um mês de resultados infrutíferos resolveram investigar. Ninguém sabia dele, incluindo o Pároco Frederico, que contactou vários colegas sem sucesso. Um belo dia, quando estavam muito desconsoladas
- Porca de vida esta…!
a ver um telejornal, ouviram uma mulher dizer, a propósito de um pai açoriano que tinha escondido (vendido?) um filho e não dizia a ninguém:
- Procurem na Internet que lá encontra-se tudo…!
Foram de imediato falar com Padre Frederico, que tinha a Internet na residência paroquial. Após alguns visionamentos impróprios que o Padre intencionalmente provocou, mas dos quais ia pedindo desculpa às moçoilas com umas festinhas
- Oh minhas filhas, fechem os olhos que isto é obra do diabo…!
lá encontraram as notícias actualizadas que as irmãs pretendiam. O Tone tinha estado no Alentejo, na casa da Ludovina Escarameia, a dona da «Abençoada Coisa Alentejana», tipo casa de alterne literária, daí fora para a Coreia do Norte (o plano de matar o Presidente tinha abortado por culpa do Celestino), mas agora encontrava-se em Vladivostok, pois estava de namoro com uma gaja, a Katia, que encontrou na estação de comboios da cidade.
Mas havia mais: o Celestino e a Noémia tinham fugido para Fernão Ferro (Seixal) onde alugaram uma vivenda e já estavam a morar juntos. Tinham deixado a casa da Comadre Ludovina num vendaval e um bilhete na mesinha de cabeceira informando:
- Olhe cunhada, é só para lhe dizer que fomos de lua-de-mel. Se não nos conseguir contactar estamos numa vivenda chique à entrada de Fernão Ferro quando se vem de Sesimbra, mas é melhor ninguém nos incomodar nos próximos tempos…!
Quem estava muito informado era o Padre Querubim. Aí o Padre Frederico nem pestanejou e usou de pronto o seu SMS.
- Caro colega Padre Querubim: Quero informá-lo que a Noémia, a rapariga que se juntou com o Celestino, é minha paroquiana em Refoios do Lima. Não o conheço pessoalmente, mas o que vi permite-me afirmar que o colega é um fraco pastor. Deixou que uma das suas ímpias ovelhas se tresmalhasse e, por via disso, transviasse a mais ingénua ovelhita do meu ordeiro e devoto rebanho. Exijo que tome medidas drásticas de modo a que a Noémia regresse a casa de imediato.
- Caro colega Padre Frederico: Sou Alentejano mas não sou lento de ideias. A ausência da Noémia está a pô-lo nervoso. Qual era a relação que o colega tinha com ela? Está com ciúmes?
- Ouça lá, ó seu padreco de meia tigela. Está a insinuar que eu e a Noémia temos um caso? Olhe que eu acuso-o ao Bispo por difamação…! E ele tem mão pesada para padres libidinosos que não respeitam o celibato como o colega…! Aquela troca de mensagens azedou e não deu em nada. As irmãs Esperança e Caridade estavam sideradas, como se o comboio lhes estivesse a passar por cima. O Padre consolou-as como pode e, quando regressaram a casa, já era quase meia-noite. Pelo caminho foram gizando um plano de vingança. Eles não esperariam pela demora…

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