Espero um poucoque escureçam as diferenças e as indiferençase abro as janelas. Não há pressamas faço-o para que não se me empenem os movimentos.Peço emprestada a cabeça da minha anterior curiosidadee rodo-a. Rodar, não é bem.Dou as boas-tardes servilmente a todas as bajuladorasdos medos, as estrelas. Boas-tardes, não é bem.Reforço com o fio do olhar os fiosdos prateados botõezinhos da distânciaalguns que se desfiaram estão tem-te não caias.Não há pressa. Faço-o apenas para mostrar à distânciaquanto lhe agradeço a oferta.Se não houvesse a distânciamurchariam as longas viagensviriam de motorizada trazer-nos a casacomo pizzas o mundo que a nossa partida desejava.A velhice seria uma sanguessugacolada à juventudee chamar-me-iam vovó desde os meus verdes anosnetos e amores indiferentemente.E que seriam os astrossem o apoio que lhes dá a distância?Pratarias terrestres, alguns candelabros, cinzeirospara que neles deite a cinza o rico belicosopara que a admiração invista a sua sobrevalorização.Se não houvesse a distânciaa saudade tratar-nos-ia por tu.E os pudores dos agora tão raros encontroscom a plural necessidade nossafatalmente se afeiçoariamà linguagem grosseira do hábito.É claro, se não houvesse a distânciao nosso próximo não seria essa estrela longínquaviria à primeira aproximaçãosó dois passos separariam os sonhosda sua silhueta.Assim como junto a nós ficariaa derradeira partida da alma.Para onde tanto deambular? Háum espaço vazio. Nós desceríamospara vivermos no nosso corpo subterrâneoe ela com a sua fábula e os seus pertencesreencarnaria em corpo.Se não existisses ó distânciao esquecimento passaria mais facilmentemais depressa numa só noitea difícil prolongada juventude suaaquilo que por melhor soar chamamos recordação.Recordação não é bem. ReforçoCom o fio do olhar semelhançasQue se desfiaram e estão tem-te não caias.Reforço, não é bem. Servilmente volto-medesviando-me desses bajuladores do tempo quepor brevidade chamei recordação.Recordação, não é bem. Reabasteço estrelas cadentescom prolongada aniquilação. Há pressa.kiki dimouláinimigo rumor 14trad. manuel resendelivros cotovia2003
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Espero um poucoque escureçam as diferenças e as indiferençase abro as janelas. Não há pressamas faço-o para que não se me empenem os movimentos.Peço emprestada a cabeça da minha anterior curiosidadee rodo-a. Rodar, não é bem.Dou as boas-tardes servilmente a todas as bajuladorasdos medos, as estrelas. Boas-tardes, não é bem.Reforço com o fio do olhar os fiosdos prateados botõezinhos da distânciaalguns que se desfiaram estão tem-te não caias.Não há pressa. Faço-o apenas para mostrar à distânciaquanto lhe agradeço a oferta.Se não houvesse a distânciamurchariam as longas viagensviriam de motorizada trazer-nos a casacomo pizzas o mundo que a nossa partida desejava.A velhice seria uma sanguessugacolada à juventudee chamar-me-iam vovó desde os meus verdes anosnetos e amores indiferentemente.E que seriam os astrossem o apoio que lhes dá a distância?Pratarias terrestres, alguns candelabros, cinzeirospara que neles deite a cinza o rico belicosopara que a admiração invista a sua sobrevalorização.Se não houvesse a distânciaa saudade tratar-nos-ia por tu.E os pudores dos agora tão raros encontroscom a plural necessidade nossafatalmente se afeiçoariamà linguagem grosseira do hábito.É claro, se não houvesse a distânciao nosso próximo não seria essa estrela longínquaviria à primeira aproximaçãosó dois passos separariam os sonhosda sua silhueta.Assim como junto a nós ficariaa derradeira partida da alma.Para onde tanto deambular? Háum espaço vazio. Nós desceríamospara vivermos no nosso corpo subterrâneoe ela com a sua fábula e os seus pertencesreencarnaria em corpo.Se não existisses ó distânciao esquecimento passaria mais facilmentemais depressa numa só noitea difícil prolongada juventude suaaquilo que por melhor soar chamamos recordação.Recordação não é bem. ReforçoCom o fio do olhar semelhançasQue se desfiaram e estão tem-te não caias.Reforço, não é bem. Servilmente volto-medesviando-me desses bajuladores do tempo quepor brevidade chamei recordação.Recordação, não é bem. Reabasteço estrelas cadentescom prolongada aniquilação. Há pressa.kiki dimouláinimigo rumor 14trad. manuel resendelivros cotovia2003