Aqueles olhos meus de mil novecentos e deznão viram enterrar os mortos,nem a feira de cinza do que chora de madrugada,nem o coração que treme acantonado como um cavalinho do mar.Aqueles olhos de mil novecentos e dezviram a branca parede onde urinavam meninas,o focinho do touro, a seta venenosae uma luz incompreensível que iluminava pelos cantospedaços de limão seco sob o negro duro das garrafas.Aqueles olhos meus no pescoço do poldro,no seio trespassado de Santa Rosa adormecida,nos telhados do amor, com gemidos e mãos sem vergonhanum jardim onde os gatos comiam as rãs.Sótão onde o velho pó junta estátuas e musgos.Caixas que guardam silêncios de caranguejos devorados.No sítio onde o sonho tropeçava na sua realidade.Ali os meus pequenos olhos.Não me perguntem nada. Já vi como as coisasprocuram a sua direcção e encontram o seu vazio.No ar deserto há uma dor de ausênciase nos meus olhos pessoas vestidas, sem nudez!federico garcia lorcanova iorque num poetatrad. antónio mourahiena editora1995
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Aqueles olhos meus de mil novecentos e deznão viram enterrar os mortos,nem a feira de cinza do que chora de madrugada,nem o coração que treme acantonado como um cavalinho do mar.Aqueles olhos de mil novecentos e dezviram a branca parede onde urinavam meninas,o focinho do touro, a seta venenosae uma luz incompreensível que iluminava pelos cantospedaços de limão seco sob o negro duro das garrafas.Aqueles olhos meus no pescoço do poldro,no seio trespassado de Santa Rosa adormecida,nos telhados do amor, com gemidos e mãos sem vergonhanum jardim onde os gatos comiam as rãs.Sótão onde o velho pó junta estátuas e musgos.Caixas que guardam silêncios de caranguejos devorados.No sítio onde o sonho tropeçava na sua realidade.Ali os meus pequenos olhos.Não me perguntem nada. Já vi como as coisasprocuram a sua direcção e encontram o seu vazio.No ar deserto há uma dor de ausênciase nos meus olhos pessoas vestidas, sem nudez!federico garcia lorcanova iorque num poetatrad. antónio mourahiena editora1995