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Com 45 anos, não sou novo, ainda não sendo velho. Já há “putos” na política, cheios de cagança a postular lições de vida, da vida que não tiveram. É a ordem das coisas, para outros, também este post foi escrito por “putos”. Por outro lado, já se acumula saber, que de nada servirá à juventude, surda pela característica arrogância de quem se sente eternamente jovem.
A meia idade destes dias, em que a reforma é uma miragem, já não tem fim à vista. Trabalhar-se-á enquanto o corpo aguentar, vicissitudes dos que nasceram em berço de palha mas, felizmente, num tempo em que um bom Serviço Nacional de Saúde trouxe das mais baixas mortalidades infantis de sempre e em que a escola pública deu a quem quis a oportunidade de romper as amarras do meio onde se nasceu.
O discurso político procura responsabilizar os cidadãos pelo presente estado de falência nacional, quando, em simultâneo, observamos a riqueza do país se concentrar numa pequena percentagem da população, na directa proporção em que os crescentes impostos são canalizados para um sistema financeiro descapitalizado, apesar de não se ter feito uma fogueira com o dinheiro que sumiu.
Em certa medida, sim, os cidadãos têm responsabilidade no actual estado das coisas, ou não tivessem eles validado com o seu voto as políticas das últimas décadas que até aqui nos conduziram. Mas é uma falácia encerrar as justificações nesta explicação. O Estado é opaco e os governos fazem tudo o que podem para ocultar a informação que devia ser pública e livremente acessível a quem a quisesse consultar. Isto impede o eleitor de tomar decisões esclarecidas, ficando sujeito à propaganda política, como foi o recente caso de “cortar nas gorduras do estado” como forma de endireitar as contas públicas. Por outro lado, há muitas decisões que só são conhecidas depois de tomadas ou para as quais os cidadãos não foram consultados. Foi o que se passou com os swaps, com nacionalização do BPN e com os apoios à banca.
Estes são, no entanto aspectos conjecturais, já que não podemos encontrar explicações para o nosso estado falhado sem olharmos para o mundo globalizado onde estamos. Portugal vem abdicando da sua soberania desde que aderiu à CEE, permitindo que as suas políticas económicas fossem externamente ditadas a troco de fundos comunitários, renunciando a uma moeda própria, assinando tratados onde se abdica de autonomia, como no Tratado de Lisboa e, ainda por exemplo, aceitado que o Orçamento de Estado tenha que ser validado por um directório de estados.
Sempre a troco de fundos comunitários, a capacidade produtiva do país foi sendo transformada. Os campos de cultivo deram lugar a eucaliptais, a pesca passou a ser dominada pelos espanhóis, a actividade industrial é residual e passámos a ser um país de serviços, lugar aprazível para aqueles que produzem de facto possam vir gozar o sol na terceira idade.
A redução da capacidade produtiva é a marca da política europeia, a qual transformou grande parte dos estados membros em mercados consumidores, com vantagem para a Alemanha, que ganhou um mercado interno, mas, sobretudo, com enormes ganhos para as grandes empresas que puderam abandonar o espaço europeu, para se estabelecerem onde a mão de obra e os custos de contexto eram residuais. Esta mudança só foi possível porque os estados membros permitiram que a importação de bens fosse completamente liberalizada. A progressiva introdução de produtos a preços muito competitivos foi o toque de finados para as indústrias locais.
Reside nesta política europeia, cegamente seguida pelos estados membros, a raiz do declínio europeu e, em última análise, da falência nacional. Falidos a troco de subsídios, que serviram para enriquecer muitos, sem que o país mudasse.
Depois da chinezação da produção, a competitividade sem regras chegou, como seria de esperar, aos próprios cidadãos, que se vêem sucessivamente compelidos a aceitar piores condições laborais, caso queiram manter os seus empregos em algum nicho prestes a ser ocupado por alguma empresa “chinesa” que faça o mesmo por metade do preço.
Por causa da política do neofeudalismo, vai-se a reforma transformando em algo intangível, garantida aos que fazem da política a sua profissão, incerta para quem vive do trabalho. Para quê então esperar pela crise da meia idade para comprar um descapotável? Mais vale atalhar caminho e fazê-lo já.
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Com 45 anos, não sou novo, ainda não sendo velho. Já há “putos” na política, cheios de cagança a postular lições de vida, da vida que não tiveram. É a ordem das coisas, para outros, também este post foi escrito por “putos”. Por outro lado, já se acumula saber, que de nada servirá à juventude, surda pela característica arrogância de quem se sente eternamente jovem.
A meia idade destes dias, em que a reforma é uma miragem, já não tem fim à vista. Trabalhar-se-á enquanto o corpo aguentar, vicissitudes dos que nasceram em berço de palha mas, felizmente, num tempo em que um bom Serviço Nacional de Saúde trouxe das mais baixas mortalidades infantis de sempre e em que a escola pública deu a quem quis a oportunidade de romper as amarras do meio onde se nasceu.
O discurso político procura responsabilizar os cidadãos pelo presente estado de falência nacional, quando, em simultâneo, observamos a riqueza do país se concentrar numa pequena percentagem da população, na directa proporção em que os crescentes impostos são canalizados para um sistema financeiro descapitalizado, apesar de não se ter feito uma fogueira com o dinheiro que sumiu.
Em certa medida, sim, os cidadãos têm responsabilidade no actual estado das coisas, ou não tivessem eles validado com o seu voto as políticas das últimas décadas que até aqui nos conduziram. Mas é uma falácia encerrar as justificações nesta explicação. O Estado é opaco e os governos fazem tudo o que podem para ocultar a informação que devia ser pública e livremente acessível a quem a quisesse consultar. Isto impede o eleitor de tomar decisões esclarecidas, ficando sujeito à propaganda política, como foi o recente caso de “cortar nas gorduras do estado” como forma de endireitar as contas públicas. Por outro lado, há muitas decisões que só são conhecidas depois de tomadas ou para as quais os cidadãos não foram consultados. Foi o que se passou com os swaps, com nacionalização do BPN e com os apoios à banca.
Estes são, no entanto aspectos conjecturais, já que não podemos encontrar explicações para o nosso estado falhado sem olharmos para o mundo globalizado onde estamos. Portugal vem abdicando da sua soberania desde que aderiu à CEE, permitindo que as suas políticas económicas fossem externamente ditadas a troco de fundos comunitários, renunciando a uma moeda própria, assinando tratados onde se abdica de autonomia, como no Tratado de Lisboa e, ainda por exemplo, aceitado que o Orçamento de Estado tenha que ser validado por um directório de estados.
Sempre a troco de fundos comunitários, a capacidade produtiva do país foi sendo transformada. Os campos de cultivo deram lugar a eucaliptais, a pesca passou a ser dominada pelos espanhóis, a actividade industrial é residual e passámos a ser um país de serviços, lugar aprazível para aqueles que produzem de facto possam vir gozar o sol na terceira idade.
A redução da capacidade produtiva é a marca da política europeia, a qual transformou grande parte dos estados membros em mercados consumidores, com vantagem para a Alemanha, que ganhou um mercado interno, mas, sobretudo, com enormes ganhos para as grandes empresas que puderam abandonar o espaço europeu, para se estabelecerem onde a mão de obra e os custos de contexto eram residuais. Esta mudança só foi possível porque os estados membros permitiram que a importação de bens fosse completamente liberalizada. A progressiva introdução de produtos a preços muito competitivos foi o toque de finados para as indústrias locais.
Reside nesta política europeia, cegamente seguida pelos estados membros, a raiz do declínio europeu e, em última análise, da falência nacional. Falidos a troco de subsídios, que serviram para enriquecer muitos, sem que o país mudasse.
Depois da chinezação da produção, a competitividade sem regras chegou, como seria de esperar, aos próprios cidadãos, que se vêem sucessivamente compelidos a aceitar piores condições laborais, caso queiram manter os seus empregos em algum nicho prestes a ser ocupado por alguma empresa “chinesa” que faça o mesmo por metade do preço.
Por causa da política do neofeudalismo, vai-se a reforma transformando em algo intangível, garantida aos que fazem da política a sua profissão, incerta para quem vive do trabalho. Para quê então esperar pela crise da meia idade para comprar um descapotável? Mais vale atalhar caminho e fazê-lo já.