Alberto Sordi:"Onde se fala de meias medidas, feridas antigas, clima de guerra, situação difícil, época passada, posição de recusa, equipa desconhecida, grande azar, demasiado perfeito, demasiado tempo, homem de respeito, doutores da bola, etc., etc., etc.ANTÓNIO TAVARES-TELES1. É sem dúvida instrutiva a leitura dos jornais desportivos de ontem, sobre o FC Porto-Benfica. O JOGO (por exemplo) deu óbvia importância ao famoso clássico, mas repartiu de forma muito equitativa essa importância pelos dois contendores ao longo de 11 páginas, sendo que aliás até dedica mais uma aos encarnados do que aos azuis e brancos. 2. "A Bola" porém não esteve com meias medidas: 2 páginas para introduzir o jogo, mais 3 para o FC Porto e... 7 para o Benfica, sendo que duas delas são de evocação da "Luz mística", a propósito do centenário do clube da águia. Assim como quem diz: que grande que o Benfica é! 3. "Mas o "Record", se não é tão desproporcionado como "A Bola" - 3 páginas para o FC Porto, 6 para o Benfica - apresentou uma particularidade curiosa, para não dizer outra coisa: pôs em grande destaque (2 páginas) o FC Porto, 0 - Benfica, 2, de 1991, a única vez em que os benfiquistas bateram os portistas no Porto nos últimos 27 anos (ganharam aliás o campeonato graças a essa vitória), num jogo que no entanto ficou marcado por inúmeros incidentes fora das quatro linhas, com fortes queixas por parte dos visitantes e até do árbitro Carlos Valente, que "levou uma estaladão (José Guilherme Aguiar "dixit") de uma senhora", embora toda a delegação lisboeta se queixou de uma recepção muito pouco urbana, foi o mínimo que se disse. "Só que trazer isso para a ribalta a um dia do jogo de amanhã à noite, remexendo em feridas antigas, sinceramente, só mesmo de quem quer acirrar ânimos. E no entanto nós podemos ler frequentemente no "Record", tal como ainda ontem aliás da pena de Bernardo Ribeiro, que "alguns dirigentes não resistem (...) e, antes dos jogos, parece obrigatório instalar um clima de guerra (...) para tentarem tirar dividendos não se sabe bem do quê"... Da venda do papel não é, seguramente... 4. Contudo, nem só o "Record" entendeu ir por aí: o ""Correio da Manhã", que "deu" 5 páginas à apresentação do clássico, também não foi de modas, e distribuiu essas páginas assim: 1 para o FC Porto, 1 para o Benfica, e 3 para o mesmo FC Porto-Benfica de 1991, tudo sob o título de "Escaldante - 14 anos depois", e com, a fechar, para melhor repisar as coisas, uma entrevista com Carlos Valente, que (evidentemente) lá teve de voltar a dizer que "foi a situação mais difícil da (sua) carreira (porque) se passaram coisas muito duras". 5. "Como se vê ( e ainda citando o mesmo Bernardo Ribeiro) "(os dirigentes) pregam muito, dizem que são pela verdade desportiva, que querem transformar o futebol numa indústria-espectáculo e mais meia dúzia de patacoadas que estamos fartos de ouvir", mas os jornais, esses, não: para eles só a verdade desportiva e o futebol indústria-espectáculo contam. Patacoadas, nenhumas, evidentemente... E quanto ao "clima de guerra para tirar dividendos" isso é que nem pensar... Como diria o muito talentoso e eloquente e conciso Alberto Sordi: "Mamma mia!"... 6. Entretanto, não pude também de deixar de registar uma "frase muito curiosa de Santos Neves (n'"A BOLA") sobre (ainda) o FC Porto, ou se quiserem sobre a final da Taça Intercontinental e o Once Caldas. Escreve Santos Neves: "(O FC Porto) teve o mérito de representar bem a Europa ao trazer do Japão a Taça Intercontinental, perante finalista sul-americano do qual quase ninguém fora da Colômbia ouvira falar". Ora bem, quem ler isto até poderá ficar a pensar que, no final da época passada, talvez perante uma posição de recusa de todos os grandes clubes da América do Sul em representar o seu continente em Yokohama, a CONMEBOL decidiu: ai é, os grandes não querem? Pois se é assim vamos mandar ao Japão uma equipa desconhecida, daquelas que nunca disputaram sequer uma eliminatória com ninguém (aliás, o Diego, pelo Santos, e o Luís Fabiano, pelo São Paulo, que o digam) e, de equipa desconhecida em equipa desconhecida, ao cabo de muita pesquisa, a que equipa chegaram? Ao Once Caldas, pois claro! E foi isso que o FC Porto pôde ganhar (embora, como sublinha Santos Neves, "nos penáltis") a dita Taça Intercontinental!E cá chegamos outra vez ao caro Alberto Sordi... O Jogo 27-02-2005
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Alberto Sordi:"Onde se fala de meias medidas, feridas antigas, clima de guerra, situação difícil, época passada, posição de recusa, equipa desconhecida, grande azar, demasiado perfeito, demasiado tempo, homem de respeito, doutores da bola, etc., etc., etc.ANTÓNIO TAVARES-TELES1. É sem dúvida instrutiva a leitura dos jornais desportivos de ontem, sobre o FC Porto-Benfica. O JOGO (por exemplo) deu óbvia importância ao famoso clássico, mas repartiu de forma muito equitativa essa importância pelos dois contendores ao longo de 11 páginas, sendo que aliás até dedica mais uma aos encarnados do que aos azuis e brancos. 2. "A Bola" porém não esteve com meias medidas: 2 páginas para introduzir o jogo, mais 3 para o FC Porto e... 7 para o Benfica, sendo que duas delas são de evocação da "Luz mística", a propósito do centenário do clube da águia. Assim como quem diz: que grande que o Benfica é! 3. "Mas o "Record", se não é tão desproporcionado como "A Bola" - 3 páginas para o FC Porto, 6 para o Benfica - apresentou uma particularidade curiosa, para não dizer outra coisa: pôs em grande destaque (2 páginas) o FC Porto, 0 - Benfica, 2, de 1991, a única vez em que os benfiquistas bateram os portistas no Porto nos últimos 27 anos (ganharam aliás o campeonato graças a essa vitória), num jogo que no entanto ficou marcado por inúmeros incidentes fora das quatro linhas, com fortes queixas por parte dos visitantes e até do árbitro Carlos Valente, que "levou uma estaladão (José Guilherme Aguiar "dixit") de uma senhora", embora toda a delegação lisboeta se queixou de uma recepção muito pouco urbana, foi o mínimo que se disse. "Só que trazer isso para a ribalta a um dia do jogo de amanhã à noite, remexendo em feridas antigas, sinceramente, só mesmo de quem quer acirrar ânimos. E no entanto nós podemos ler frequentemente no "Record", tal como ainda ontem aliás da pena de Bernardo Ribeiro, que "alguns dirigentes não resistem (...) e, antes dos jogos, parece obrigatório instalar um clima de guerra (...) para tentarem tirar dividendos não se sabe bem do quê"... Da venda do papel não é, seguramente... 4. Contudo, nem só o "Record" entendeu ir por aí: o ""Correio da Manhã", que "deu" 5 páginas à apresentação do clássico, também não foi de modas, e distribuiu essas páginas assim: 1 para o FC Porto, 1 para o Benfica, e 3 para o mesmo FC Porto-Benfica de 1991, tudo sob o título de "Escaldante - 14 anos depois", e com, a fechar, para melhor repisar as coisas, uma entrevista com Carlos Valente, que (evidentemente) lá teve de voltar a dizer que "foi a situação mais difícil da (sua) carreira (porque) se passaram coisas muito duras". 5. "Como se vê ( e ainda citando o mesmo Bernardo Ribeiro) "(os dirigentes) pregam muito, dizem que são pela verdade desportiva, que querem transformar o futebol numa indústria-espectáculo e mais meia dúzia de patacoadas que estamos fartos de ouvir", mas os jornais, esses, não: para eles só a verdade desportiva e o futebol indústria-espectáculo contam. Patacoadas, nenhumas, evidentemente... E quanto ao "clima de guerra para tirar dividendos" isso é que nem pensar... Como diria o muito talentoso e eloquente e conciso Alberto Sordi: "Mamma mia!"... 6. Entretanto, não pude também de deixar de registar uma "frase muito curiosa de Santos Neves (n'"A BOLA") sobre (ainda) o FC Porto, ou se quiserem sobre a final da Taça Intercontinental e o Once Caldas. Escreve Santos Neves: "(O FC Porto) teve o mérito de representar bem a Europa ao trazer do Japão a Taça Intercontinental, perante finalista sul-americano do qual quase ninguém fora da Colômbia ouvira falar". Ora bem, quem ler isto até poderá ficar a pensar que, no final da época passada, talvez perante uma posição de recusa de todos os grandes clubes da América do Sul em representar o seu continente em Yokohama, a CONMEBOL decidiu: ai é, os grandes não querem? Pois se é assim vamos mandar ao Japão uma equipa desconhecida, daquelas que nunca disputaram sequer uma eliminatória com ninguém (aliás, o Diego, pelo Santos, e o Luís Fabiano, pelo São Paulo, que o digam) e, de equipa desconhecida em equipa desconhecida, ao cabo de muita pesquisa, a que equipa chegaram? Ao Once Caldas, pois claro! E foi isso que o FC Porto pôde ganhar (embora, como sublinha Santos Neves, "nos penáltis") a dita Taça Intercontinental!E cá chegamos outra vez ao caro Alberto Sordi... O Jogo 27-02-2005