Se ainda há filmes que valem sobretudo pela força dos diálogos e dos actores, então "Perto Demais" (Closer) é um desses casos, congregando um muito estimável elenco - Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman - numa adaptação da premiada peça teatral homónima de Patrick Marber. Se a estes promissores condimentos adicionarmos Mike Nichols, um cineasta com provas dadas - desde os emblemáticos "Who's Afraid Of Virginia Woolf" e "The Graduate", passando pela mini-série "Angels in America" - e um considerável hype internacional, então "Perto Demais" tem tudo para se tornar numa aliciante proposta cinematográfica.Abordando as ambivalências das relações humanas, sobretudo as fricções entre o(s resquícios de) amor e o sexo, o filme segue o percurso de quatro personagens à beira do abismo, hesitando entre a segurança e desconforto da solidão e a efervescência imprevisível e não raras vezes dolorosa de um contacto mais próximo - por vezes demasiado próximo - com o outro. "Perto Demais" tem sido quase unanimemente incensado devido a à sua perspectiva supostamente perspicaz, densa e aprofundada sobre o complexo universo emocional humano, com um enfoque singular acerca das relações assentes no amor e/ou no sexo. De facto, Nichols apresenta um interessante olhar sobre essa temática, oferecendo um trabalho com alguma tensão dramática, apropriadas atmosferas realistas e assinaláveis doses de um cruel humor negro, mas o seu retrato aposta num abrupto niilismo que lança as personagens numa espiral descendente onde a ingenuidade é um mito e a redenção quase tão improvável.Os protagonistas afastam-se da bidimensionalidade que marca muitas obras próximas destes domínios, mas a sua áspera ambiguidade nem sempre as torna em figuras que envolvam especialmente, uma vez que os ambientes do filme, carregados de frivolidade e cinismo, exageram nas doses de negritude e desolação. O trabalho dos actores é meritório, desde as estrelas em ascensão Clive Owen e Natalie Portman - ambos justamente nomeados para o Óscar de Melhor Actor e Actriz Secundários - até aos mais mediáticos Jude Law (ainda assim, o mais inconstante dos quatro) e Julia Roberts (segura e convincente), mas as suas personagens raramente geram empatia, arrastando-se numa avassaladora teia de infidelidade, mentira, ciúme e traição.Muitos têm elogiado "Perto Demais" por ser um raro filme mainstream para adultos, a milhas das rotineiras comédias românticas estereotipadas que banalizam a temática das relações amorosas. Contudo, embora o filme de Mike Nichols trate o tema com inteligência e argúcia q.b., não é propriamente um achado nem uma obra tão ímpar como alguns sugerem. Recentemente, muitos outros títulos têm abordado a tensão conjugal de forma não menos subtil, como "5X2", de François Ozon, "Desencontros" (We Don't Live Here Anymore), de John Curran ou "Antes do Anoitecer" (Before Sunset), de Richard Linklater, comprovando que o género não está assim tão desfasado e não precisa de ser salvo por uma obra como "Perto Demais". No entanto, se encarado com entusiasmo moderado, o filme de Mike Nichols possui, ainda assim, um boa dose de elementos recomendáveis - a acutilância dos diálogos, a entrega das interpretações, as cruas atmosferas urbanas, a música de Damien Rice - proporcionando uma experiência cinematográfica pertinente e interessante, mas sem o fulgor das obras geniais.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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Se ainda há filmes que valem sobretudo pela força dos diálogos e dos actores, então "Perto Demais" (Closer) é um desses casos, congregando um muito estimável elenco - Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman - numa adaptação da premiada peça teatral homónima de Patrick Marber. Se a estes promissores condimentos adicionarmos Mike Nichols, um cineasta com provas dadas - desde os emblemáticos "Who's Afraid Of Virginia Woolf" e "The Graduate", passando pela mini-série "Angels in America" - e um considerável hype internacional, então "Perto Demais" tem tudo para se tornar numa aliciante proposta cinematográfica.Abordando as ambivalências das relações humanas, sobretudo as fricções entre o(s resquícios de) amor e o sexo, o filme segue o percurso de quatro personagens à beira do abismo, hesitando entre a segurança e desconforto da solidão e a efervescência imprevisível e não raras vezes dolorosa de um contacto mais próximo - por vezes demasiado próximo - com o outro. "Perto Demais" tem sido quase unanimemente incensado devido a à sua perspectiva supostamente perspicaz, densa e aprofundada sobre o complexo universo emocional humano, com um enfoque singular acerca das relações assentes no amor e/ou no sexo. De facto, Nichols apresenta um interessante olhar sobre essa temática, oferecendo um trabalho com alguma tensão dramática, apropriadas atmosferas realistas e assinaláveis doses de um cruel humor negro, mas o seu retrato aposta num abrupto niilismo que lança as personagens numa espiral descendente onde a ingenuidade é um mito e a redenção quase tão improvável.Os protagonistas afastam-se da bidimensionalidade que marca muitas obras próximas destes domínios, mas a sua áspera ambiguidade nem sempre as torna em figuras que envolvam especialmente, uma vez que os ambientes do filme, carregados de frivolidade e cinismo, exageram nas doses de negritude e desolação. O trabalho dos actores é meritório, desde as estrelas em ascensão Clive Owen e Natalie Portman - ambos justamente nomeados para o Óscar de Melhor Actor e Actriz Secundários - até aos mais mediáticos Jude Law (ainda assim, o mais inconstante dos quatro) e Julia Roberts (segura e convincente), mas as suas personagens raramente geram empatia, arrastando-se numa avassaladora teia de infidelidade, mentira, ciúme e traição.Muitos têm elogiado "Perto Demais" por ser um raro filme mainstream para adultos, a milhas das rotineiras comédias românticas estereotipadas que banalizam a temática das relações amorosas. Contudo, embora o filme de Mike Nichols trate o tema com inteligência e argúcia q.b., não é propriamente um achado nem uma obra tão ímpar como alguns sugerem. Recentemente, muitos outros títulos têm abordado a tensão conjugal de forma não menos subtil, como "5X2", de François Ozon, "Desencontros" (We Don't Live Here Anymore), de John Curran ou "Antes do Anoitecer" (Before Sunset), de Richard Linklater, comprovando que o género não está assim tão desfasado e não precisa de ser salvo por uma obra como "Perto Demais". No entanto, se encarado com entusiasmo moderado, o filme de Mike Nichols possui, ainda assim, um boa dose de elementos recomendáveis - a acutilância dos diálogos, a entrega das interpretações, as cruas atmosferas urbanas, a música de Damien Rice - proporcionando uma experiência cinematográfica pertinente e interessante, mas sem o fulgor das obras geniais.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM