gonn1000: VAMPIROS COM SANGUE NOVO

01-07-2011
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O mexicano Guillermo del Toro tem sabido sedimentar um percurso capaz de alternar entre títulos ligados aos estúdios de Hollywood – “Mimic”, “Hellboy” – e produções espanholas de cariz mais autoral – “Nas Costas do Diabo”, “O Labirinto do Fauno” - sem nunca deixar de projectar em cada um deles, de forma mais ou menos pronunciada, um estilo próprio que se vai tornando cada vez mais reconhecível e apurado.“Blade II” (2002), a sua terceira longa-metragem, não é excepção, pois apesar do realizador dar aqui continuidade a uma saga iniciada por Stephen Norrington (em “Blade”, de 1998), consegue injectar-lhe uma vitalidade, energia e atmosfera que só a espaços se encontravam no primeiro episódio, este pouco mais do que sequências de combate com algumas boas ideias visuais.A sequela não deixa de viver muito desses dois elementos, mas não só os desenvolve com maior consistência como dá à saga um universo singular e inventivo, redefinindo as histórias de vampiros para o novo milénio, algo a que o seu antecessor almejou sem grandes resultados.Del Toro constrói aqui uma visão aliciante de um submundo vampiresco nas suas mais diversas variantes, dos puros aos híbridos, cujo equilíbrio é ameaçado quando surge uma raça mais avançada, perigosa, resistente e, sobretudo, com um maior apetite, cuja ementa inclui não só sangue de humanos mas também de vampiros. A rápida propagação desta nova espécie obriga a que tenham que se formar alianças improváveis, no caso entre Blade, caçador de vampiros apesar de conter também genes destes, e os seus inimigos bebedores de sangue, que lhe propõem uma parceria destinada a evitar uma carnificina superior à sua.Este ponto de partida promete sumarentas (aliás, sanguinolentas) sequências de violência destravada, objectivo que “Blade II” atinge várias vezes e com invejável eficácia, disparando doses cavalares de adrenalina em cenas de acção muito bem coreografadas. É certo que a sua pertinência poderá ser discutível para a narrativa (como aquela em que o protagonista luta com os seus futuros aliados, que invadem o seu armazém), mas se ninguém vier aqui à procura de um filme cujo maior trunfo é o argumento, Del Toro compensa esta descarga ocasionalmente gratuita e mecânica com uma plasticidade que vai da estupenda fotografia de Gabriel Berinstain – determinante para a densidade dos ambientes urbanos, com sedutores azuis metálicos e esverdeados sépia – à carga magnética dos décors, tornando Praga num cenário urbano apropriadamente opressivo, soturno e sinuoso.A minúcia estética contamina tudo, da sofisticação hi-tech dos gadjets usados pelas personagens ao guarda-roupa, com cabedal e coolness sugados à saga “Matrix” e à imagética techno-industrial (cuja música, intercalada com algum hip-hop, dinamita o filme do início ao fim e atinge o auge na estonteante rave de vampiros).Além de uma explosiva aula de estilo, “Blade II” é um título que cativa pela boa gestão do suspense, algum terror e humor e até mesmo um amargurado romantismo, que não estando tão presente como os episódios de combate acelerado acrescenta um interessante fulgor dramático (infelizmente, não o suficiente para que as inquietações das personagens sejam tão memoráveis como os ambientes que percorrem, mesmo que a relação de Blade com Nyssa, uma das suas novas aliadas, tenha os seus momentos).Dominado por hipnóticos borrões de cor, um ritmo alucinante e fartas doses de gore, o filme é uma experiência sensorial tão excessiva quanto divertida, e mais não se poderia pedir a uma adaptação de um (anti-)herói dos comics com estes contornos, sendo de resto uma das mais estimulantes inspiradas no universo Marvel (e também das mais distantes da matriz da BD original, o que aqui só resulta a seu favor). Não será um filme para toda a gente, mas quem for apreciador destas iguarias tem aqui uma bem confeccionada e, claro, condimentada com muito molho.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM


O mexicano Guillermo del Toro tem sabido sedimentar um percurso capaz de alternar entre títulos ligados aos estúdios de Hollywood – “Mimic”, “Hellboy” – e produções espanholas de cariz mais autoral – “Nas Costas do Diabo”, “O Labirinto do Fauno” - sem nunca deixar de projectar em cada um deles, de forma mais ou menos pronunciada, um estilo próprio que se vai tornando cada vez mais reconhecível e apurado.“Blade II” (2002), a sua terceira longa-metragem, não é excepção, pois apesar do realizador dar aqui continuidade a uma saga iniciada por Stephen Norrington (em “Blade”, de 1998), consegue injectar-lhe uma vitalidade, energia e atmosfera que só a espaços se encontravam no primeiro episódio, este pouco mais do que sequências de combate com algumas boas ideias visuais.A sequela não deixa de viver muito desses dois elementos, mas não só os desenvolve com maior consistência como dá à saga um universo singular e inventivo, redefinindo as histórias de vampiros para o novo milénio, algo a que o seu antecessor almejou sem grandes resultados.Del Toro constrói aqui uma visão aliciante de um submundo vampiresco nas suas mais diversas variantes, dos puros aos híbridos, cujo equilíbrio é ameaçado quando surge uma raça mais avançada, perigosa, resistente e, sobretudo, com um maior apetite, cuja ementa inclui não só sangue de humanos mas também de vampiros. A rápida propagação desta nova espécie obriga a que tenham que se formar alianças improváveis, no caso entre Blade, caçador de vampiros apesar de conter também genes destes, e os seus inimigos bebedores de sangue, que lhe propõem uma parceria destinada a evitar uma carnificina superior à sua.Este ponto de partida promete sumarentas (aliás, sanguinolentas) sequências de violência destravada, objectivo que “Blade II” atinge várias vezes e com invejável eficácia, disparando doses cavalares de adrenalina em cenas de acção muito bem coreografadas. É certo que a sua pertinência poderá ser discutível para a narrativa (como aquela em que o protagonista luta com os seus futuros aliados, que invadem o seu armazém), mas se ninguém vier aqui à procura de um filme cujo maior trunfo é o argumento, Del Toro compensa esta descarga ocasionalmente gratuita e mecânica com uma plasticidade que vai da estupenda fotografia de Gabriel Berinstain – determinante para a densidade dos ambientes urbanos, com sedutores azuis metálicos e esverdeados sépia – à carga magnética dos décors, tornando Praga num cenário urbano apropriadamente opressivo, soturno e sinuoso.A minúcia estética contamina tudo, da sofisticação hi-tech dos gadjets usados pelas personagens ao guarda-roupa, com cabedal e coolness sugados à saga “Matrix” e à imagética techno-industrial (cuja música, intercalada com algum hip-hop, dinamita o filme do início ao fim e atinge o auge na estonteante rave de vampiros).Além de uma explosiva aula de estilo, “Blade II” é um título que cativa pela boa gestão do suspense, algum terror e humor e até mesmo um amargurado romantismo, que não estando tão presente como os episódios de combate acelerado acrescenta um interessante fulgor dramático (infelizmente, não o suficiente para que as inquietações das personagens sejam tão memoráveis como os ambientes que percorrem, mesmo que a relação de Blade com Nyssa, uma das suas novas aliadas, tenha os seus momentos).Dominado por hipnóticos borrões de cor, um ritmo alucinante e fartas doses de gore, o filme é uma experiência sensorial tão excessiva quanto divertida, e mais não se poderia pedir a uma adaptação de um (anti-)herói dos comics com estes contornos, sendo de resto uma das mais estimulantes inspiradas no universo Marvel (e também das mais distantes da matriz da BD original, o que aqui só resulta a seu favor). Não será um filme para toda a gente, mas quem for apreciador destas iguarias tem aqui uma bem confeccionada e, claro, condimentada com muito molho.E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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