Anna (Nicole Kidman) é uma jovem viúva da classe média alta nova-iorquina que está prestes a casar, uma década depois do seu marido ter falecido. Contudo, subitamente surge um elemento que colocará em causa a realização do seu novo matrimónio, uma vez que um rapaz de 10 anos (Cameron Bright) lhe revela que o seu ex-marido, Sean, reencarnou no seu corpo. Esta revelação origina uma conturbada teia de acontecimentos, onde Anna e a sua família hesitarão entre a crença e o cepticismo face a tão insólita situação.Com esta premissa, Jonathan Glazer gera "Birth - O Mistério", o seu segundo filme (o primeiro, "Sexy Beast", não passou por salas nacionais), misto de drama, romance, suspense e fantástico. A película gerou polémica devido a algumas cenas entre Kidman e Bright, alimentando a tensão em torno dos escândalos de pedofilia, embora Glazer não aprofunde muito essa questão e recuse situações típicas de um "filme-choque" (com eventual excepção para a cena do banho).Proposta de reflexão acerca dos limites do amor, da credulidade humana e da tolerância, "Birth - O Mistério" possui em curioso (e delicado) ponto de partida, mas infelizmente a execução raramente entusiasma. Glazer acerta na direcção de actores - além da irrepreensível dupla protagonista, há sólidos secundários como Danny Huston, Lauren Bacall ou Anne Heche -, na criação de atmosferas inebriantes - uma absorvente Nova Iorque de tons melancólicos e outonais -, na fotografia e na banda-sonora, mas falha num dos pontos essenciais: o argumento. Se o início do filme é promissor, o seu desenvolvimento é pouco mais do que redundante e enfadonho, e não se percebe onde está o mistério que o título anuncia, tendo em conta que uma das primeiras cenas lança óbvias pistas para a resolução do suposto enigma. A construção das personagens é débil, embora Cameron Bright tenha uma presença intrigante (o jovem actor foi também um dos poucos pontos positivos do fraco "Godsend - O Enviado") e Nicole Kidman seja sempre competente, com ocasionais momentos de fulgor como na bem conseguida cena da Ópera (num soberbo close-up pleno de intensidade). No entanto, o duo protagonista não consegue compensar os desequilíbrios do argumento nem uma narrativa com um ritmo letárgico e arrastado, e assim "Birth - O Mistério" não vai além de uma frágil mediania. Jonathan Glazer saiu-se bem nos videoclips, colaborando com nomes fortes como os Massive Attack, Blur ou Radiohead, mas a julgar pela sua experiência nas longas-metragens o seu contributo para a sétima arte não é assim tão surpreendente. Pelo menos enquanto o seu trabalho de realização (rigoroso e profissional, sublinhe-se) não for acompanhado por um argumento à altura...E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
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Anna (Nicole Kidman) é uma jovem viúva da classe média alta nova-iorquina que está prestes a casar, uma década depois do seu marido ter falecido. Contudo, subitamente surge um elemento que colocará em causa a realização do seu novo matrimónio, uma vez que um rapaz de 10 anos (Cameron Bright) lhe revela que o seu ex-marido, Sean, reencarnou no seu corpo. Esta revelação origina uma conturbada teia de acontecimentos, onde Anna e a sua família hesitarão entre a crença e o cepticismo face a tão insólita situação.Com esta premissa, Jonathan Glazer gera "Birth - O Mistério", o seu segundo filme (o primeiro, "Sexy Beast", não passou por salas nacionais), misto de drama, romance, suspense e fantástico. A película gerou polémica devido a algumas cenas entre Kidman e Bright, alimentando a tensão em torno dos escândalos de pedofilia, embora Glazer não aprofunde muito essa questão e recuse situações típicas de um "filme-choque" (com eventual excepção para a cena do banho).Proposta de reflexão acerca dos limites do amor, da credulidade humana e da tolerância, "Birth - O Mistério" possui em curioso (e delicado) ponto de partida, mas infelizmente a execução raramente entusiasma. Glazer acerta na direcção de actores - além da irrepreensível dupla protagonista, há sólidos secundários como Danny Huston, Lauren Bacall ou Anne Heche -, na criação de atmosferas inebriantes - uma absorvente Nova Iorque de tons melancólicos e outonais -, na fotografia e na banda-sonora, mas falha num dos pontos essenciais: o argumento. Se o início do filme é promissor, o seu desenvolvimento é pouco mais do que redundante e enfadonho, e não se percebe onde está o mistério que o título anuncia, tendo em conta que uma das primeiras cenas lança óbvias pistas para a resolução do suposto enigma. A construção das personagens é débil, embora Cameron Bright tenha uma presença intrigante (o jovem actor foi também um dos poucos pontos positivos do fraco "Godsend - O Enviado") e Nicole Kidman seja sempre competente, com ocasionais momentos de fulgor como na bem conseguida cena da Ópera (num soberbo close-up pleno de intensidade). No entanto, o duo protagonista não consegue compensar os desequilíbrios do argumento nem uma narrativa com um ritmo letárgico e arrastado, e assim "Birth - O Mistério" não vai além de uma frágil mediania. Jonathan Glazer saiu-se bem nos videoclips, colaborando com nomes fortes como os Massive Attack, Blur ou Radiohead, mas a julgar pela sua experiência nas longas-metragens o seu contributo para a sétima arte não é assim tão surpreendente. Pelo menos enquanto o seu trabalho de realização (rigoroso e profissional, sublinhe-se) não for acompanhado por um argumento à altura...E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL