Estamos nistoEste «post» só não leva o clássico antetítulo «Glórias do jornalismo português» porque não desejo ferir os jornalistas em causa preferindo admitir que dias infelizes todos temos. Refiro-me concretamente à entrevista de São José Almeida e Nuno Sá Lourenço a Francisco Lopes no Público de hoje. De facto, dois jornalistas com considerável experiência em política nacional foram capazes de perpetrar um erro político clamoroso e um patente erro factual que mostram como algumas cabeças andam confusas.O erro político clamoroso está em que, por duas ou três vezes, os jornalistas fazem perguntas como se a existência de diversos candidatos (e, no caso, a candidatura de F. Lopes) pudesse ajudar à vítoria de Cavaco Silva logo na primeira volta. E não sei se terão ficado convencidos com a lapidar resposta do candidato de que «na primeira volta, Cavaco Silva só tem possibilidade de ser eleito se tiver mais de 50% dos votos. Todos os votos na minha candidatura são votos que impedem que Cavaco seja eleito». Esta é uma matéria que, pela minha parte, julgo ter esclarecido devidamente quando em 17 de Janeiro deste ano aqui escrevi: «(...)Entretanto, a mais grave distorção que consta das declarações de Louçã é a de as próximas presidenciais «são eleições que se vão decidir na primeira volta». Entendamo-nos: as eleições podem, de facto e por hipótese, tal como há cinco anos, decidir-se na 1ª volta mas fundamentalmente se Cavaco Silva conservar a tangencial maioria absoluta de votos que teve nas anteriores presidenciais. Mas, se assim fôr, batatas, não é a dispersão de votos por diversas candidaturas à sua esquerda que lhe daria a vitória mas sim o facto de ter um apoio eleitoral próprio bastante para tanto. Fica portanto o esclarecimento e o aviso: se alguém, com a ideia de que tudo se decide na 1ª volta, quer criar uma lógica de «voto útil» logo aí, está a falsificar elementar realidades aritméticas e a faltar descaradamente à verdade.»Por outro lado, o patente erro factual de São José Almeida e Nuno Sá Lourenço está na seguinte observação que fazem a Francisco Lopes: «Então acha que Álvaro Cunhal fez um disparate quando retirou a candidatura de Carlos Brito para apoiar Mário Soares.» A questão é simples: se se fala de Carlos Brito, então não há razão para falar de Mário Soares porque estamos a falar da eleição de 7.12.1980 em que Carlos Brito desiste na 1ª volta em favor do voto no General Ramalho Eanes contra a candidatura do General Soares Carneiro apoiado pela AD (e beneficiando da "deserção" de Mário Soares do campo de apoio a Eanes), e num quadro de facto bipolarizado; se se fala em Mário Soares, então estamos a falar da eleição de 26.01.1986 em que Ângelo Veloso desiste logo na 1ª volta a favor de Salgado Zenha e depois na 2ª volta o PCP apela ao voto em Mário Soares para derrotar Freitas do Amaral.E, pronto, agora para evitarem a permanência nos erros, os jornalistas só têm de tomar nota num caderninho.
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Estamos nistoEste «post» só não leva o clássico antetítulo «Glórias do jornalismo português» porque não desejo ferir os jornalistas em causa preferindo admitir que dias infelizes todos temos. Refiro-me concretamente à entrevista de São José Almeida e Nuno Sá Lourenço a Francisco Lopes no Público de hoje. De facto, dois jornalistas com considerável experiência em política nacional foram capazes de perpetrar um erro político clamoroso e um patente erro factual que mostram como algumas cabeças andam confusas.O erro político clamoroso está em que, por duas ou três vezes, os jornalistas fazem perguntas como se a existência de diversos candidatos (e, no caso, a candidatura de F. Lopes) pudesse ajudar à vítoria de Cavaco Silva logo na primeira volta. E não sei se terão ficado convencidos com a lapidar resposta do candidato de que «na primeira volta, Cavaco Silva só tem possibilidade de ser eleito se tiver mais de 50% dos votos. Todos os votos na minha candidatura são votos que impedem que Cavaco seja eleito». Esta é uma matéria que, pela minha parte, julgo ter esclarecido devidamente quando em 17 de Janeiro deste ano aqui escrevi: «(...)Entretanto, a mais grave distorção que consta das declarações de Louçã é a de as próximas presidenciais «são eleições que se vão decidir na primeira volta». Entendamo-nos: as eleições podem, de facto e por hipótese, tal como há cinco anos, decidir-se na 1ª volta mas fundamentalmente se Cavaco Silva conservar a tangencial maioria absoluta de votos que teve nas anteriores presidenciais. Mas, se assim fôr, batatas, não é a dispersão de votos por diversas candidaturas à sua esquerda que lhe daria a vitória mas sim o facto de ter um apoio eleitoral próprio bastante para tanto. Fica portanto o esclarecimento e o aviso: se alguém, com a ideia de que tudo se decide na 1ª volta, quer criar uma lógica de «voto útil» logo aí, está a falsificar elementar realidades aritméticas e a faltar descaradamente à verdade.»Por outro lado, o patente erro factual de São José Almeida e Nuno Sá Lourenço está na seguinte observação que fazem a Francisco Lopes: «Então acha que Álvaro Cunhal fez um disparate quando retirou a candidatura de Carlos Brito para apoiar Mário Soares.» A questão é simples: se se fala de Carlos Brito, então não há razão para falar de Mário Soares porque estamos a falar da eleição de 7.12.1980 em que Carlos Brito desiste na 1ª volta em favor do voto no General Ramalho Eanes contra a candidatura do General Soares Carneiro apoiado pela AD (e beneficiando da "deserção" de Mário Soares do campo de apoio a Eanes), e num quadro de facto bipolarizado; se se fala em Mário Soares, então estamos a falar da eleição de 26.01.1986 em que Ângelo Veloso desiste logo na 1ª volta a favor de Salgado Zenha e depois na 2ª volta o PCP apela ao voto em Mário Soares para derrotar Freitas do Amaral.E, pronto, agora para evitarem a permanência nos erros, os jornalistas só têm de tomar nota num caderninho.