Carlos Gaspar considera hipótese um "nonsense". Media americanos alertaram para possível interesse chinês nas Lajes
Na altura, foi interpretado como um passeio inocente. A 27 de Junho, depois de um périplo por países sul-americanos, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao aterrou na ilha Terceira e por lá andou durante quatro horas. Tomou um café numa esplanada de Angra do Heroísmo, visitou o centro histórico e foi ao Monte Brasil para apreciar a vista sobre a cidade.
Só que Gordon G. Chang, autor do livro The Coming Collapse of China, publicou um artigo de opinião na National Review Online onde alertava para a possibilidade da "paragem técnica" da comitiva de 100 chineses nos Açores ser bem menos inocente. A China estaria interessada em ocupar a Base das Lajes caso os norte-americanos de lá saíssem. "A Base das Lajes foi certamente a razão para que Wen fizesse um desvio de percurso para ganhar amigos na Terceira", assegurava, antes de referir que "nos últimos anos, Pequim definira Portugal como a sua porta de entrada na Europa".
Essa leitura ganha outra relevância depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ter afirmado que "Portugal assumirá em breve a sua posição nacional sobre" a anunciada redução da presença militar dos Estados Unidos na Base das Lajes, nos Açores.
Na semana passada, segundo o Expresso, uma delegação americana veio a Lisboa anunciar que a Base n.º 65 da Força Aérea dos EUA iria ser reduzida, passando de 800 para 160 efectivos. Para lá da possibilidade de cerca de 300 portugueses poderem vir a perder o seu emprego na base, o impacto da decisão na economia regional seria avassalador, com uma perda de 30 milhões de euros de receita anual.
A possibilidade da chegada dos chineses é vista como remota pelos especialistas em relações internacionais. O investigador Carlos Gaspar, classificou a leitura de Chang como um "nonsense". Embora reconhecendo se, "em si mesma, interessante que [essa interpretação] tenha acontecido", Gaspar acrescenta que "os chineses são realistas" em relação à eventualidade de a China vir a poder ter uma base no Atlântico.
Uma outra publicação norte-americana, o US News, confrontou também este mês um responsável norte-americano sobre essa possibilidade. "Estamos a falar de um país membro da NATO. Isso seria remar contra a maré", reagiu Jonathan Greenert, do Departamento de Defesa. Além disso, apesar da redução, os EUA manifestaram a intenção de manter a bandeira americana na ilha.
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E, contudo, um outro analista norte-americano evitava desvalorizar. Patrick Cronin, director do Asia-Pacific Security Program no Centro para uma Nova Segurança Americana, alertou na USNews para a oportunidade que representava para a China as "dificuldades económicas" na Europa. Segundo Cronin, o apoio de um aliado NATO "não está blindado no longo prazo quando se considera o investimento potencial que é tão desesperadamente necessitado".
Estes dois analistas sublinham a forma como a China tem encarado Portugal nos últimos anos. Recentemente, a China fez investimentos em Portugal, nomeadamente na área da energia. A empresa China Three Gorges adquiriu 21% da EDP e a State Grid Corporation investiu na REN.
Existe outro país asiático interessado numa base área portuguesa. Há meses que o Ministério da Defesa reconheceu o interesse da Coreia do Sul em instalar uma escola de pilotos de aviões de combate na base militar de Beja. A proposta foi feita por uma empresa da Coreia do Sul, de capitais maioritariamente públicos, que gere a formação dos pilotos da Força Aérea daquele país.
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Carlos Gaspar considera hipótese um "nonsense". Media americanos alertaram para possível interesse chinês nas Lajes
Na altura, foi interpretado como um passeio inocente. A 27 de Junho, depois de um périplo por países sul-americanos, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao aterrou na ilha Terceira e por lá andou durante quatro horas. Tomou um café numa esplanada de Angra do Heroísmo, visitou o centro histórico e foi ao Monte Brasil para apreciar a vista sobre a cidade.
Só que Gordon G. Chang, autor do livro The Coming Collapse of China, publicou um artigo de opinião na National Review Online onde alertava para a possibilidade da "paragem técnica" da comitiva de 100 chineses nos Açores ser bem menos inocente. A China estaria interessada em ocupar a Base das Lajes caso os norte-americanos de lá saíssem. "A Base das Lajes foi certamente a razão para que Wen fizesse um desvio de percurso para ganhar amigos na Terceira", assegurava, antes de referir que "nos últimos anos, Pequim definira Portugal como a sua porta de entrada na Europa".
Essa leitura ganha outra relevância depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ter afirmado que "Portugal assumirá em breve a sua posição nacional sobre" a anunciada redução da presença militar dos Estados Unidos na Base das Lajes, nos Açores.
Na semana passada, segundo o Expresso, uma delegação americana veio a Lisboa anunciar que a Base n.º 65 da Força Aérea dos EUA iria ser reduzida, passando de 800 para 160 efectivos. Para lá da possibilidade de cerca de 300 portugueses poderem vir a perder o seu emprego na base, o impacto da decisão na economia regional seria avassalador, com uma perda de 30 milhões de euros de receita anual.
A possibilidade da chegada dos chineses é vista como remota pelos especialistas em relações internacionais. O investigador Carlos Gaspar, classificou a leitura de Chang como um "nonsense". Embora reconhecendo se, "em si mesma, interessante que [essa interpretação] tenha acontecido", Gaspar acrescenta que "os chineses são realistas" em relação à eventualidade de a China vir a poder ter uma base no Atlântico.
Uma outra publicação norte-americana, o US News, confrontou também este mês um responsável norte-americano sobre essa possibilidade. "Estamos a falar de um país membro da NATO. Isso seria remar contra a maré", reagiu Jonathan Greenert, do Departamento de Defesa. Além disso, apesar da redução, os EUA manifestaram a intenção de manter a bandeira americana na ilha.
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E, contudo, um outro analista norte-americano evitava desvalorizar. Patrick Cronin, director do Asia-Pacific Security Program no Centro para uma Nova Segurança Americana, alertou na USNews para a oportunidade que representava para a China as "dificuldades económicas" na Europa. Segundo Cronin, o apoio de um aliado NATO "não está blindado no longo prazo quando se considera o investimento potencial que é tão desesperadamente necessitado".
Estes dois analistas sublinham a forma como a China tem encarado Portugal nos últimos anos. Recentemente, a China fez investimentos em Portugal, nomeadamente na área da energia. A empresa China Three Gorges adquiriu 21% da EDP e a State Grid Corporation investiu na REN.
Existe outro país asiático interessado numa base área portuguesa. Há meses que o Ministério da Defesa reconheceu o interesse da Coreia do Sul em instalar uma escola de pilotos de aviões de combate na base militar de Beja. A proposta foi feita por uma empresa da Coreia do Sul, de capitais maioritariamente públicos, que gere a formação dos pilotos da Força Aérea daquele país.