Fui ver o Código Da Vinci. (atenção spoilers... se não viu o filme ou leu o livro, passe adiante) E não entendo o hype. Os actores, tirando Paul Bethany e Ian McKellen que se entregam e parecem ter tido uma missão específica no argumento, andam numa sonolência que faz confusão. Eu, fã confesso de Audrey Tautou, fiquei desconsolado com a dormência que lhe é emprestada pelo guião, ou pela falta de convicção no material. A Hanks só lhe falta bocejar. Eu, ser enfiado numa gruta nos últimos 3 anos, não li o livro, e como tal tive ao menos a expectativa do desenlace. No entanto, a intriga policial em si é fraquinha, embora as questões levantadas sejam interessantes, e mereçam uma investigação quando o tempo for mais simpático comigo. A ideia que o Graal seja Maria Madalena é muito interessante e faz algum sentido. É-me pelo menos mais simpática, porque reflete a noção de humanidade em Cristo, conceito muito mais consentâneo com a ideia que eu poderia fazer de religião, não fosse agnóstico. Mas a questão que me colocou esta obra divide-se em duas:1º - Porque terá isto chateado tanta gente? Porque terá a Igreja e a Opus Dei solicitado um boicote à obra? Na mesma linha do que foi dito da obra de Scorcese, eu considero esta última um filme muito mais certeiro, acutilante e mesmo terno. Logo, muito mais susceptível de chatear a molécula aos sectores mais fundamentalistas. E a Opus Dei e o Vaticano enxofram-se por serem mostrados como um centro de poder sobre as massas, de influência e não mais que isso? A verdade chateia assim tanto?2ª - O final da obra aponta para a experiência subjectiva de fé como sendo a única forma de entender estes fenómenos. A liberdade de sentir a experiência transcendental, porque a fé é essencialmente liberdade em crer num ente ou estrutura superior através de um juízo de afeição e convicção. O dogmatismo é apenas uma forma de criar um clube, não de propalar fé. E será sempre esse o erro das religiões dominantes. A tentativa de controlar e não esclarecer, de impor medo, e não esclarecimento. Sendo assim, como pode ser este filme ou obra ou ataque? Quando até o suposto detractor da posição oposta à religião tradicional é visto como um fanático para o qual os fins justificam os meios? Parece-me mais um produto de consciência pesada, por actos e posições que cada vez mais afastam as pessoas das religiões organizadas precisamente porque estas preocupam-se mais em controlar do que em mostrar alternativas a uma experiência de afeição e inspiração como é a sorte de crer em algu superior que supostamente nos protege e ama. Como agnóstico, prefiro questionar pela liberdade intelectual. Pode ser mais solitário, mas pelo menos verificamos as nossas histórias.Eu prefiro ter fé no meu semelhante, como dizia a certa altura Tautou, porque até podemos ser bons, e ao sermos, essa bondade e humanidade nasce de um impulso interno que é, em meu ver, o verdadeiro milagre. O milagre da escolha que nos faz livres na escolha de um Bem criterioso e equilibrado. Sim, Kant outra vez. :)Bom dia a todos.
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Fui ver o Código Da Vinci. (atenção spoilers... se não viu o filme ou leu o livro, passe adiante) E não entendo o hype. Os actores, tirando Paul Bethany e Ian McKellen que se entregam e parecem ter tido uma missão específica no argumento, andam numa sonolência que faz confusão. Eu, fã confesso de Audrey Tautou, fiquei desconsolado com a dormência que lhe é emprestada pelo guião, ou pela falta de convicção no material. A Hanks só lhe falta bocejar. Eu, ser enfiado numa gruta nos últimos 3 anos, não li o livro, e como tal tive ao menos a expectativa do desenlace. No entanto, a intriga policial em si é fraquinha, embora as questões levantadas sejam interessantes, e mereçam uma investigação quando o tempo for mais simpático comigo. A ideia que o Graal seja Maria Madalena é muito interessante e faz algum sentido. É-me pelo menos mais simpática, porque reflete a noção de humanidade em Cristo, conceito muito mais consentâneo com a ideia que eu poderia fazer de religião, não fosse agnóstico. Mas a questão que me colocou esta obra divide-se em duas:1º - Porque terá isto chateado tanta gente? Porque terá a Igreja e a Opus Dei solicitado um boicote à obra? Na mesma linha do que foi dito da obra de Scorcese, eu considero esta última um filme muito mais certeiro, acutilante e mesmo terno. Logo, muito mais susceptível de chatear a molécula aos sectores mais fundamentalistas. E a Opus Dei e o Vaticano enxofram-se por serem mostrados como um centro de poder sobre as massas, de influência e não mais que isso? A verdade chateia assim tanto?2ª - O final da obra aponta para a experiência subjectiva de fé como sendo a única forma de entender estes fenómenos. A liberdade de sentir a experiência transcendental, porque a fé é essencialmente liberdade em crer num ente ou estrutura superior através de um juízo de afeição e convicção. O dogmatismo é apenas uma forma de criar um clube, não de propalar fé. E será sempre esse o erro das religiões dominantes. A tentativa de controlar e não esclarecer, de impor medo, e não esclarecimento. Sendo assim, como pode ser este filme ou obra ou ataque? Quando até o suposto detractor da posição oposta à religião tradicional é visto como um fanático para o qual os fins justificam os meios? Parece-me mais um produto de consciência pesada, por actos e posições que cada vez mais afastam as pessoas das religiões organizadas precisamente porque estas preocupam-se mais em controlar do que em mostrar alternativas a uma experiência de afeição e inspiração como é a sorte de crer em algu superior que supostamente nos protege e ama. Como agnóstico, prefiro questionar pela liberdade intelectual. Pode ser mais solitário, mas pelo menos verificamos as nossas histórias.Eu prefiro ter fé no meu semelhante, como dizia a certa altura Tautou, porque até podemos ser bons, e ao sermos, essa bondade e humanidade nasce de um impulso interno que é, em meu ver, o verdadeiro milagre. O milagre da escolha que nos faz livres na escolha de um Bem criterioso e equilibrado. Sim, Kant outra vez. :)Bom dia a todos.