Luso descendente precursora da “criação da licença de maternidade” Por Júlio Cruz No decurso dos anos 2005/2006, no âmbito de um projecto levado a cabo pelo Conselho dos Municípios e Regiões da Europa, foi criada a Carta Europeia para a igualdade das mulheres e dos homens na vida local, onde mais uma vez se reafirmam os direitos da mulher à maternidade.Em tempos conturbados com a baixa de taxa de natalidade e onde todos os incentivos são poucos, há ainda que recordar o tempo em que eram nenhuns.Foi a coragem e a tenacidade de uma luso descendente americana que parece estar na génese dessa abençoada licença de maternidade, chamava-se Bridget Peixotto e era membro da comunidade judaica de nova-iorque, de descendência portuguesa.Bridget Peixotto contraíu matrimónio com Francis Raphael Maduro Peixotto, corrector de seguros, em 12 de Fevereiro de 1912, sendo ela professora do ensino básico.No ano lectivo de 1912/13 estando a exercer o seu múnus laboral escolar e já grávida, adoeceu gravemente e comunicou o facto aos seus superiores hierárquicos. Na altura era socialmente aceite que uma mulher após ter um filho deixava de trabalhar para cuidar do mesmo.Ora foi o que ia acontecendo a Bridget que depois de ter a sua filha Helen Esther Peixotto, foi suspensa e despedida, por “negligência do dever com o propósito de dar à luz”.E foi assim que a América ficou suspensa durante dois anos pelo desenlace da batalha judicial que Bridget travou com as autoridades para recuperar o seu posto de trabalho, e que haveria de mudar radicalmente a vida das mulheres.Como ela própria referiu na época, ao jornal New York Times: “Contestarei o caso até ao fim. O Conselho Educativo, ao permitir que mulheres casadas ensinem ao mesmo tempo que as proíbe de cumprirem uma função fundamental do casamento, está a agir de forma ilegal. É absolutamente imoral e não será apoiado por nenhum tribunal. Em nenhum lado se pode proclamar a maternidade como uma negligência do dever. É permitido às mulheres casadas ensinarem nas escolas públicas, mas negasse-lhes tempo para que tenham filhos.”No recurso de primeira estância para o Conselho Educativo perdeu, com 27 votos contra e 5 a favor mas haveria de ganhar mais tarde, em Tribunal, quando em 1915, numa decisão que fez história, foi reintegrada com salários retroactivos. Três anos depois, em 1918, chegou a directora da Escola, sendo reformada em 1948, quando atingiu o limite de idade, aos 70 anos.Bridget Peixotto faleceu a 10 de Abril de 1972, em Nova Iorque, com 92 anos de idade, deixando um legado invejável. No obituário que lhe dedicou o jornal New York Times afirmava que ela era “responsável pela institucionalização da licença de parto por todo o país” e no mundo, já que: “O seu caso permitiu que largos milhares de mulheres pudessem tirar uma licença para dar à luz. A decisão motivou também alterações no sistema do sector privado, fazendo com que hoje seja perfeitamente normal que uma mulher possa manter o emprego quando fica grávida.”Foi sem dúvida a tenacidade desta mulher de sangue luso que esteve na base da institucionalização do direito à licença de maternidade.
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Luso descendente precursora da “criação da licença de maternidade” Por Júlio Cruz No decurso dos anos 2005/2006, no âmbito de um projecto levado a cabo pelo Conselho dos Municípios e Regiões da Europa, foi criada a Carta Europeia para a igualdade das mulheres e dos homens na vida local, onde mais uma vez se reafirmam os direitos da mulher à maternidade.Em tempos conturbados com a baixa de taxa de natalidade e onde todos os incentivos são poucos, há ainda que recordar o tempo em que eram nenhuns.Foi a coragem e a tenacidade de uma luso descendente americana que parece estar na génese dessa abençoada licença de maternidade, chamava-se Bridget Peixotto e era membro da comunidade judaica de nova-iorque, de descendência portuguesa.Bridget Peixotto contraíu matrimónio com Francis Raphael Maduro Peixotto, corrector de seguros, em 12 de Fevereiro de 1912, sendo ela professora do ensino básico.No ano lectivo de 1912/13 estando a exercer o seu múnus laboral escolar e já grávida, adoeceu gravemente e comunicou o facto aos seus superiores hierárquicos. Na altura era socialmente aceite que uma mulher após ter um filho deixava de trabalhar para cuidar do mesmo.Ora foi o que ia acontecendo a Bridget que depois de ter a sua filha Helen Esther Peixotto, foi suspensa e despedida, por “negligência do dever com o propósito de dar à luz”.E foi assim que a América ficou suspensa durante dois anos pelo desenlace da batalha judicial que Bridget travou com as autoridades para recuperar o seu posto de trabalho, e que haveria de mudar radicalmente a vida das mulheres.Como ela própria referiu na época, ao jornal New York Times: “Contestarei o caso até ao fim. O Conselho Educativo, ao permitir que mulheres casadas ensinem ao mesmo tempo que as proíbe de cumprirem uma função fundamental do casamento, está a agir de forma ilegal. É absolutamente imoral e não será apoiado por nenhum tribunal. Em nenhum lado se pode proclamar a maternidade como uma negligência do dever. É permitido às mulheres casadas ensinarem nas escolas públicas, mas negasse-lhes tempo para que tenham filhos.”No recurso de primeira estância para o Conselho Educativo perdeu, com 27 votos contra e 5 a favor mas haveria de ganhar mais tarde, em Tribunal, quando em 1915, numa decisão que fez história, foi reintegrada com salários retroactivos. Três anos depois, em 1918, chegou a directora da Escola, sendo reformada em 1948, quando atingiu o limite de idade, aos 70 anos.Bridget Peixotto faleceu a 10 de Abril de 1972, em Nova Iorque, com 92 anos de idade, deixando um legado invejável. No obituário que lhe dedicou o jornal New York Times afirmava que ela era “responsável pela institucionalização da licença de parto por todo o país” e no mundo, já que: “O seu caso permitiu que largos milhares de mulheres pudessem tirar uma licença para dar à luz. A decisão motivou também alterações no sistema do sector privado, fazendo com que hoje seja perfeitamente normal que uma mulher possa manter o emprego quando fica grávida.”Foi sem dúvida a tenacidade desta mulher de sangue luso que esteve na base da institucionalização do direito à licença de maternidade.