Um concerto memorável!O Coliseu lotado curvou-se perante um Chico Buarque intemporal e de fino toque.Encoberto pela imagem da "partitura quadrada" de Heitor Villa Lobos(?) surgiu a silhueta de CB, cantando um samba de 1939, de Lamertine Babo, Voltei a cantar, numa clara alusão ao seu regresso às canções, depois da literatura.Por mim, seja muitíssimo bem-vindo sr. Chico.Esta introdução contou ainda com o violão de Luiz Cláudio Ramos, parceiro inseparável de Chico, produtor musical, maestro e arranjador.Logo de seguida, a banda entra com tudo, em Mambebe (1972). Um conjunto de superiores instrumentistas, com piano, teclados, sopros, violas, bateria, baixo, contra-baixo e múltiplas percussões, faziam um som compacto, preciso - bem executado. Dura na queda (2000), do disco Carioca, que coemça "o sol ensolarará a estrada dela" e termina com uma salsa genial, completaram este medley de 3. A plateia não se fez encantar, por enquanto."Mané para Didi, Didi para Mané, Mané para Pagão, Pagão para Pelé e Canhoteu", de O futebol (1989), serviu de pretexto para piscar olho aos anfitriões, foi dedicada a Eusébio, óbvio, mas também ... "ao menino Anderson".Morena de Angola (1980) soltou o primeiro entusiasmo dos espectadores. A senhora ao meu lado acordou e desatou a bater palmas e a trautear sorridente. Foi bonito o arranjo daquela parte final do coro "iá-iá-iá" (estão a ver?). Misterioso.Depois dessa, sentou-se para, calmamente, demonstrar aquilo que melhor sabe fazer: compor músicas e letras, cantar e tocar violão. E daí só saiu depois de tocar aí umas 20 músicas (do total de 30).Este desenvolvimento foi num registo mais recatado, mais íntimo, mais sentido.Do seu último disco, Carioca, tocou todinhas. É um vintage que alguns fãs ainda não aprenderam a gostar. A boa música é para ser bebida de gole em gole.Imagina, de Tom Jobim e Chico Buarque, foi cantada em dueto, numa execução sublime. Mil Perdões, Eu te Amo, As virtrines, A História de Lily Braun, Morro dois Irmãos e mais outras tantas, vieram também do baú de Chico.Havia muitos que queriam ouvir as antigas, que toda a gente sabe e canta. Só que entre centenas de canções a selecção incidiu sobretudo na sua qualidade e não tanto no seu sucesso. Boa opção, diria.No final, Chico levantou-se e o concerto entrou numa dinâmica mais viva e em crescendo. Duas das minhas canções favoritas: Bye bye Brasil e Cantando no Toró, lançaram o mote desta toada. Depois foi o show de Wilson das Neves, o baterista, de 70 anos, que ainda toca com uma leveza impressionante. Os velhos amigos cantaram Grande Hotel, um samba deles dois, e o Wilson, cheio de samba no pé, animou a geral. Ainda tentou provocar o seu parceiro para a folia, mas ele fez-se rogado. Deram uns toques, apenas. Nos encores finais Chico foi finalmente ao encontro da maioria (não o meu caso) que clamava pelos grandes hits. A escolha das cancões foi, como semopre, criteriosa.Primeiro Foi bonita a festa pá, uma canção com mais de 30 anos e que Chico dedicou aos portugueses, depois da revolução de Abril de 74. Bateream-se palmas ritmadas e na ficou "um cheirinho de alecrim".Quem te viu e quem te vê é seguramente um dos melhores sambas de toda a história da mpb, Chico escolheu-o e não houve como não bater palmas com vontade, como se diz na letra da canção.Para a saideira deu-nos mais um doce, a valsa João e Maria. Soube bem cantar com ele Agora eu era herói e o meu cavalo só falava inglês enquanto balançavamos ao ritmo do compasso ternário. Terminou.«Tudo era muito bem-acabado, música e letra se encaixavam, isto é, o som da palavra em integração absoluta com a música, uma carecterística marcante na obra de Chico Buarque.»(cit. Almir Chediak, SongbooK)Na sua música cabe tudo: bossa nova, samba, embolada, salsa, bolero, blues, jazz-swing, pop, rap, e tudo soa sempre ao estilo buarquiano.No seu último disco, a música Outros Sonhos diz a certa altura: "Sonhei que a beleza não fenecia". Pergunto; será Chico Buarque a imagem real desse seu sonho?Volta sempre amigo!nota1: fotos retiradas daqui, daqui e daquinota2: corrigido 4.11.2006
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Um concerto memorável!O Coliseu lotado curvou-se perante um Chico Buarque intemporal e de fino toque.Encoberto pela imagem da "partitura quadrada" de Heitor Villa Lobos(?) surgiu a silhueta de CB, cantando um samba de 1939, de Lamertine Babo, Voltei a cantar, numa clara alusão ao seu regresso às canções, depois da literatura.Por mim, seja muitíssimo bem-vindo sr. Chico.Esta introdução contou ainda com o violão de Luiz Cláudio Ramos, parceiro inseparável de Chico, produtor musical, maestro e arranjador.Logo de seguida, a banda entra com tudo, em Mambebe (1972). Um conjunto de superiores instrumentistas, com piano, teclados, sopros, violas, bateria, baixo, contra-baixo e múltiplas percussões, faziam um som compacto, preciso - bem executado. Dura na queda (2000), do disco Carioca, que coemça "o sol ensolarará a estrada dela" e termina com uma salsa genial, completaram este medley de 3. A plateia não se fez encantar, por enquanto."Mané para Didi, Didi para Mané, Mané para Pagão, Pagão para Pelé e Canhoteu", de O futebol (1989), serviu de pretexto para piscar olho aos anfitriões, foi dedicada a Eusébio, óbvio, mas também ... "ao menino Anderson".Morena de Angola (1980) soltou o primeiro entusiasmo dos espectadores. A senhora ao meu lado acordou e desatou a bater palmas e a trautear sorridente. Foi bonito o arranjo daquela parte final do coro "iá-iá-iá" (estão a ver?). Misterioso.Depois dessa, sentou-se para, calmamente, demonstrar aquilo que melhor sabe fazer: compor músicas e letras, cantar e tocar violão. E daí só saiu depois de tocar aí umas 20 músicas (do total de 30).Este desenvolvimento foi num registo mais recatado, mais íntimo, mais sentido.Do seu último disco, Carioca, tocou todinhas. É um vintage que alguns fãs ainda não aprenderam a gostar. A boa música é para ser bebida de gole em gole.Imagina, de Tom Jobim e Chico Buarque, foi cantada em dueto, numa execução sublime. Mil Perdões, Eu te Amo, As virtrines, A História de Lily Braun, Morro dois Irmãos e mais outras tantas, vieram também do baú de Chico.Havia muitos que queriam ouvir as antigas, que toda a gente sabe e canta. Só que entre centenas de canções a selecção incidiu sobretudo na sua qualidade e não tanto no seu sucesso. Boa opção, diria.No final, Chico levantou-se e o concerto entrou numa dinâmica mais viva e em crescendo. Duas das minhas canções favoritas: Bye bye Brasil e Cantando no Toró, lançaram o mote desta toada. Depois foi o show de Wilson das Neves, o baterista, de 70 anos, que ainda toca com uma leveza impressionante. Os velhos amigos cantaram Grande Hotel, um samba deles dois, e o Wilson, cheio de samba no pé, animou a geral. Ainda tentou provocar o seu parceiro para a folia, mas ele fez-se rogado. Deram uns toques, apenas. Nos encores finais Chico foi finalmente ao encontro da maioria (não o meu caso) que clamava pelos grandes hits. A escolha das cancões foi, como semopre, criteriosa.Primeiro Foi bonita a festa pá, uma canção com mais de 30 anos e que Chico dedicou aos portugueses, depois da revolução de Abril de 74. Bateream-se palmas ritmadas e na ficou "um cheirinho de alecrim".Quem te viu e quem te vê é seguramente um dos melhores sambas de toda a história da mpb, Chico escolheu-o e não houve como não bater palmas com vontade, como se diz na letra da canção.Para a saideira deu-nos mais um doce, a valsa João e Maria. Soube bem cantar com ele Agora eu era herói e o meu cavalo só falava inglês enquanto balançavamos ao ritmo do compasso ternário. Terminou.«Tudo era muito bem-acabado, música e letra se encaixavam, isto é, o som da palavra em integração absoluta com a música, uma carecterística marcante na obra de Chico Buarque.»(cit. Almir Chediak, SongbooK)Na sua música cabe tudo: bossa nova, samba, embolada, salsa, bolero, blues, jazz-swing, pop, rap, e tudo soa sempre ao estilo buarquiano.No seu último disco, a música Outros Sonhos diz a certa altura: "Sonhei que a beleza não fenecia". Pergunto; será Chico Buarque a imagem real desse seu sonho?Volta sempre amigo!nota1: fotos retiradas daqui, daqui e daquinota2: corrigido 4.11.2006