Câmara Corporativa: Na apresentação do governo-sombra

28-01-2012
marcar artigo


‘Em vez de confraternizar com os jornalistas antes ou depois de subir ao palanque, Menezes entra e sai da sala por uma porta lateral. Ninguém o apanha. Aparentemente, não quer ser um líder fácil.O objectivo é criar distância, explicaram ao Expresso. "Porque, se a pessoa se banaliza, vai-se a imagem de Estado". Passar de autarca do Norte com fama de populista a candidato a primeiro-ministro tem que se lhe diga, e do guião sobre a mesa constam dicas sugestivas.Além de não poder continuar a viajar de avião em económica, mas apenas em executiva, o líder social-democrata vai passar a fazer-se acompanhar nas deslocações que fizer pelo país por "dois ou três carros escuros e um «staff» de três ou quatro pessoas". À imagem e semelhança do primeiro-ministro.’Ângela Silva, O guião de Menezes para chegar ao poder [Expresso, 17.11.2007] A São Caetano andou esta tarde numa grande azáfama. Cunha Vaz, no 1.º andar, tomou conta das operações. Os acontecimentos precipitaram-se — e era o momento certo para fazer a apresentação à sociedade do núcleo duro do governo-sombra.A montagem do cenário — em tão curto espaço de tempo — esteve a cargo de profissionais: — Vão à arrecadação e desencantem-me uma mesa antiga, gritava Cunha Vaz. Eles vão ver, eles vão ver o que é um governo. Tu, Ribau, fazes de ministro da Presidência. Mas olha bem para mim: não abres a boca e nem mordes as mocas das gajas boas que vão aparecer para a conferência de imprensa. E tira-me essa gravata de azeiteiro.Entretanto, os homens da agência de comunicação continuavam a rever todos os pormenores do briefing que se seguiu à reunião do conselho de ministros. Alertam Cunha Vaz para a necessidade de se arranjar também um engenheiro para fazer o papel de ministro das Obras Públicas. O Zeca Mendonça lembra-se de Jorge Costa. — Quem, pergunta Cunha Vaz, o Bicho do FC do Porto?O Zeca sossega-o: — Também é do futebol, mas é o do Boavista, que trabalha para o Valentim.Encontradas as muletas, o patrão da agência de comunicação concentra-se no candidato a primeiro-ministro, procurando dar-lhe ânimo do alto do seu metro e cinquenta e três: — Luís, nem que tenha de te dar anfetaminas, hoje vais ter de parecer que sabes o que queres!A um canto, um acabrunhado Menezes sussurrou, enquanto relia o que dissera sobre o aeroporto de Lisboa: — Ó António, mandaste-me defender a Ota. Eu defendi. Depois, disseste que a opção que estava a dar era a Portela + 1 e eu repeti sem pestanejar. Há dias, vieste com a conversa de que, afinal, um engenheiro te dissera que Alcochete seria a solução e eu pus aquelas mulas do Conselho Nacional a votar. Agora, queres que eu diga que o Sócrates é que mudou de opinião? Ainda o Ribau desata a rir-se em directo, porra.


‘Em vez de confraternizar com os jornalistas antes ou depois de subir ao palanque, Menezes entra e sai da sala por uma porta lateral. Ninguém o apanha. Aparentemente, não quer ser um líder fácil.O objectivo é criar distância, explicaram ao Expresso. "Porque, se a pessoa se banaliza, vai-se a imagem de Estado". Passar de autarca do Norte com fama de populista a candidato a primeiro-ministro tem que se lhe diga, e do guião sobre a mesa constam dicas sugestivas.Além de não poder continuar a viajar de avião em económica, mas apenas em executiva, o líder social-democrata vai passar a fazer-se acompanhar nas deslocações que fizer pelo país por "dois ou três carros escuros e um «staff» de três ou quatro pessoas". À imagem e semelhança do primeiro-ministro.’Ângela Silva, O guião de Menezes para chegar ao poder [Expresso, 17.11.2007] A São Caetano andou esta tarde numa grande azáfama. Cunha Vaz, no 1.º andar, tomou conta das operações. Os acontecimentos precipitaram-se — e era o momento certo para fazer a apresentação à sociedade do núcleo duro do governo-sombra.A montagem do cenário — em tão curto espaço de tempo — esteve a cargo de profissionais: — Vão à arrecadação e desencantem-me uma mesa antiga, gritava Cunha Vaz. Eles vão ver, eles vão ver o que é um governo. Tu, Ribau, fazes de ministro da Presidência. Mas olha bem para mim: não abres a boca e nem mordes as mocas das gajas boas que vão aparecer para a conferência de imprensa. E tira-me essa gravata de azeiteiro.Entretanto, os homens da agência de comunicação continuavam a rever todos os pormenores do briefing que se seguiu à reunião do conselho de ministros. Alertam Cunha Vaz para a necessidade de se arranjar também um engenheiro para fazer o papel de ministro das Obras Públicas. O Zeca Mendonça lembra-se de Jorge Costa. — Quem, pergunta Cunha Vaz, o Bicho do FC do Porto?O Zeca sossega-o: — Também é do futebol, mas é o do Boavista, que trabalha para o Valentim.Encontradas as muletas, o patrão da agência de comunicação concentra-se no candidato a primeiro-ministro, procurando dar-lhe ânimo do alto do seu metro e cinquenta e três: — Luís, nem que tenha de te dar anfetaminas, hoje vais ter de parecer que sabes o que queres!A um canto, um acabrunhado Menezes sussurrou, enquanto relia o que dissera sobre o aeroporto de Lisboa: — Ó António, mandaste-me defender a Ota. Eu defendi. Depois, disseste que a opção que estava a dar era a Portela + 1 e eu repeti sem pestanejar. Há dias, vieste com a conversa de que, afinal, um engenheiro te dissera que Alcochete seria a solução e eu pus aquelas mulas do Conselho Nacional a votar. Agora, queres que eu diga que o Sócrates é que mudou de opinião? Ainda o Ribau desata a rir-se em directo, porra.

marcar artigo