aforismos e afins: O 4º segredo de Fátima

03-07-2011
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«Não se é liberal ou comunista ou outra ideologia qualquer porque se considera que é a melhor forma de organização de uma sociedade?»«O Liberalismo não é uma ideologia.»«Porque que é que não é uma ideologia?»«Porque não trata do que deve ser, trata do que é.»A bold estão as palavras do Helder d'O Insurgente, escritas e repetidas aqui, como foi anunciado em primeira mão no Metablog.Não sei se há pessoas que acham o termo ideologia demasiado «carregado» pela (nossa) história. Mas as palavras são o que são. No Dicionário online da Porto Editora encontramos o seguinte:IDEOLOGIASistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social (partido político, grupo religioso, etc.).Dizer que o liberalismo não é uma corrente política, um conjunto de ideias, valores e princípios, parece-me verdadeiramente milagroso. Parece que a partir de hoje o Liberalismo não será mais normativo, mas positivo. Será mesmo ciência? Se trata do que é, à partida deve ter um método para chegar a esse conhecimento. Usará o método científico das ciências naturais? Admitirá ser refutável? Como as palavras são o que são, melhor dar-lhes voz:NORMATIVO1. que diz respeito a normas ou regras;2. que tem força de norma ou preceito;3. que indica normas ou regras;Admiro sinceramente quem tenha fé bastante para achar que o liberalismo não tem preceitos nem regras nem é normativo. Eu, desconseguindo tão desejável coisa, continuo meio estupidamente a acreditar que os voluntários ingleses combateram as tropas de Hitler porque achavam que o seu país devia ser livre. Que os impostos deviam ser baixos. Que o rendimento mínimo devia ser abolido. Que o «habeas corpus» deve ser respeitado. Que a velha Magna Carta e a Constituição Americana incluem um conjunto de ideias, valores, e princípios que os seus responsáveis acreditavam convictamente deverem ser a base duma sociedade livre e plural.Ponho-me a pensar porque raio é que há séculos e séculos que tantos pensadores perdem tanto tempo a discutir coisas que não contém regras ou preceitos. Imagino que o debate se dará por puro prazer, como se bebe um bom cognac ou se joga bridge.Ou, mais seriamente, talvez a resposta seja que para alguns, o (seu) liberalismo tenha um carácter mais de seita do que de corrente política. Onde o debate é fechado, se dá por entre rituais místicos de adoração de algo que não é normativo. E não é que eles podem ter razão? O liberalismo deles parece mesmo positivo:POSITIVOAdjectivo1. que não admite dúvida;2. que se funda em factores da vida real;3. certo; verdadeiro; inquestionável;4. decisivo; terminante.Substantivo1. o que é certo;2. aquilo com que se pode contar;3. o que é materialmente útil e proveitoso.Reparem que ninguém disse que o liberalismo é uma teoria moral, ou uma ética, porque de facto não trata do bem e do mal. E, mais do que isso, não impõe comportamentos a ninguém. Com certeza que não. Mas daí a dizer que o liberalismo não é normativo vai uma distância abissal. A-b-i-s-s-a-l. As palavas são o que são o que são o que são e não podem ser usadas a nosso bel-prazer.Mas há uma alternativa. (A semântica tem destas coisas). Pode ser que nós estejamos a interpretar abusivamente (como um todo) a expressão «dever ser» que o Helder usa. Se calhar o «dever» merece destaque individual, e assim a frase pode adquirir um carácter estritamente positivo, sugerindo dúvida, probabilidade. Pode ser que na frase apenas falte um predicado, tal como:«Porque [o Liberalismo] não trata do que deve ser muita bom, trata do que é muita bom».Com esta história toda, fico com sérias dúvidas se devo estar a ficar maluco, ou se estou mesmo. De facto. E como gosto quase tanto de pe(n)sar as palavras como outros ilustres colegas, acho que vou reler a Parte VI do genial Through the Looking Glass de Lewis Carroll, onde a Alice se encontra com Humpty Dumpty e se gera uma deliciosa conversa sobre o significado das palavras.Espero poder depois, consciente e iluminadamente, declarar que o Liberalismo não é um conjunto de ideias, princípios, regras, enfim, um todo normativo, mas, tão simplesmente, que o Liberalismo... é.Because.


«Não se é liberal ou comunista ou outra ideologia qualquer porque se considera que é a melhor forma de organização de uma sociedade?»«O Liberalismo não é uma ideologia.»«Porque que é que não é uma ideologia?»«Porque não trata do que deve ser, trata do que é.»A bold estão as palavras do Helder d'O Insurgente, escritas e repetidas aqui, como foi anunciado em primeira mão no Metablog.Não sei se há pessoas que acham o termo ideologia demasiado «carregado» pela (nossa) história. Mas as palavras são o que são. No Dicionário online da Porto Editora encontramos o seguinte:IDEOLOGIASistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social (partido político, grupo religioso, etc.).Dizer que o liberalismo não é uma corrente política, um conjunto de ideias, valores e princípios, parece-me verdadeiramente milagroso. Parece que a partir de hoje o Liberalismo não será mais normativo, mas positivo. Será mesmo ciência? Se trata do que é, à partida deve ter um método para chegar a esse conhecimento. Usará o método científico das ciências naturais? Admitirá ser refutável? Como as palavras são o que são, melhor dar-lhes voz:NORMATIVO1. que diz respeito a normas ou regras;2. que tem força de norma ou preceito;3. que indica normas ou regras;Admiro sinceramente quem tenha fé bastante para achar que o liberalismo não tem preceitos nem regras nem é normativo. Eu, desconseguindo tão desejável coisa, continuo meio estupidamente a acreditar que os voluntários ingleses combateram as tropas de Hitler porque achavam que o seu país devia ser livre. Que os impostos deviam ser baixos. Que o rendimento mínimo devia ser abolido. Que o «habeas corpus» deve ser respeitado. Que a velha Magna Carta e a Constituição Americana incluem um conjunto de ideias, valores, e princípios que os seus responsáveis acreditavam convictamente deverem ser a base duma sociedade livre e plural.Ponho-me a pensar porque raio é que há séculos e séculos que tantos pensadores perdem tanto tempo a discutir coisas que não contém regras ou preceitos. Imagino que o debate se dará por puro prazer, como se bebe um bom cognac ou se joga bridge.Ou, mais seriamente, talvez a resposta seja que para alguns, o (seu) liberalismo tenha um carácter mais de seita do que de corrente política. Onde o debate é fechado, se dá por entre rituais místicos de adoração de algo que não é normativo. E não é que eles podem ter razão? O liberalismo deles parece mesmo positivo:POSITIVOAdjectivo1. que não admite dúvida;2. que se funda em factores da vida real;3. certo; verdadeiro; inquestionável;4. decisivo; terminante.Substantivo1. o que é certo;2. aquilo com que se pode contar;3. o que é materialmente útil e proveitoso.Reparem que ninguém disse que o liberalismo é uma teoria moral, ou uma ética, porque de facto não trata do bem e do mal. E, mais do que isso, não impõe comportamentos a ninguém. Com certeza que não. Mas daí a dizer que o liberalismo não é normativo vai uma distância abissal. A-b-i-s-s-a-l. As palavas são o que são o que são o que são e não podem ser usadas a nosso bel-prazer.Mas há uma alternativa. (A semântica tem destas coisas). Pode ser que nós estejamos a interpretar abusivamente (como um todo) a expressão «dever ser» que o Helder usa. Se calhar o «dever» merece destaque individual, e assim a frase pode adquirir um carácter estritamente positivo, sugerindo dúvida, probabilidade. Pode ser que na frase apenas falte um predicado, tal como:«Porque [o Liberalismo] não trata do que deve ser muita bom, trata do que é muita bom».Com esta história toda, fico com sérias dúvidas se devo estar a ficar maluco, ou se estou mesmo. De facto. E como gosto quase tanto de pe(n)sar as palavras como outros ilustres colegas, acho que vou reler a Parte VI do genial Through the Looking Glass de Lewis Carroll, onde a Alice se encontra com Humpty Dumpty e se gera uma deliciosa conversa sobre o significado das palavras.Espero poder depois, consciente e iluminadamente, declarar que o Liberalismo não é um conjunto de ideias, princípios, regras, enfim, um todo normativo, mas, tão simplesmente, que o Liberalismo... é.Because.

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