portugal dos pequeninos: JUDGE JACKSON À SOLTA EM PORTUGAL

27-01-2012
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Sigo a Ana na reprodução, com a devida vénia, do post que se segue. Depois dos comentários geralmente delirantes deixados neste post, julgo que a prosa é esclarecedora, também, enquanto resposta. Eu não diria melhor. Quanto à senhora juíza Jackson, interrogadora de DSK, perpetrou perguntas acerca da presença do presidente do FMI num avião dignas de um bom talk show para atrasados mentais. Mas a América é mesmo assim. O melhor e o pior do que não presta.«A imagem exibida pela polícia americana do presidente do FMI merecia uma atenção demorada. Quatro linhas de reflexão, como diria o outro. Primeiro: O homem está algemado e rodeado por um número considerável de polícias (o campo foi reduzido). A acusação é de "acto sexual criminoso", segundo o Libération. Porque está algemado? Espera-se que salte para cima dos polícias e tente violá-los? Que tente furtar-se à justiça? Não, DSK é mostrado a todos os povos do mundo como símbolo da justiça americana, universal, não poupando os poderosos. Se o cadáver de Bin Laden podia chocar os bons cidadãos, tomai então este outro vilão. Segundo: A imprensa responsável da Europa já publica tudo: o passado intimo, a transcrição de tablóides, a citação de bloguers e o comentário anónimo de "pessoas bem informadas". Terceiro: Este homem, que umas horas antes era tudo, está agora desprovido de toda a dignidade (aos justicialistas que acharem a frase excessiva aconselho que se façam algemar). Foi-lhe retirada a gravata e os atacadores. Ele, que convenceu tanta gente com a palavra, não pode recusar as câmaras assestadas sobre a face. Olhem a face de DSK: é a face de Saddam, o diabo iraquiano, no cadafalso de Bagdad. O lisboeta informado, humilhado pela troika há oito dias, pode agora exultar. Quatro: O presumível crime de DSK é pouco referido. Mas como é evidente, o homem não foi preso por administrar o FMI. O puritanismo hipócrita exulta e, desta feita, a imprensa europeia está toda sentada no chá americano.»Luís Januário, A Natureza do MalAdenda: Ao Libération DSK afirmou que não se admirava nada que lhe montassem uma cilada, para efeitos políticos tout court, em que fosse interveniente alguém a clamar ter sido "molestada" e a pedir uns dinheiros. Parece que alguém tomou boa nota da sugestão.Adenda2: O lixo mediático caseirinho no seu esplendor.Adenda3: Do Miguel Castelo-Branco, praticamente perfeito:«Pronto, parece que colou a estória do ogre velho, gordo, peludo, rico e impune sevando lubricidade sobre a desprotegida trabalhadora. É o sonho americano, o esquematismo, a ausência de qualquer linha actancial, a suspensão da inteligência. Há fulanos maus, absoluta e irrecuperavelmente maus e há, por necessidade de equilíbrio cósmico, os absolutamente bons. O aggiornamento dos contos para crianças implica fazer correcções em favor das crenças de género, religião, raça e mesmo saúde dos bons e dos maus. É a América, sem grandeza, sem elaboração, pequena e puritana, pacóvia e excessiva. A América da Lei Seca, claro; do Código Hayes, claro; dos 90.000.000 de processos do FBI sobre meio-país, mas também a América do anti-tabagismo primário - totalitário, roncante, quase idiota - que faz transportar a gente mais gorda e feia do planeta em carros que poluem mais por quilómetro que 10 maços de tabaco; a América que inventou o medo das pedofilias e o espalhou ao ponto de, hoje, um adulto não se atrever afagar a cabeça de uma criança; a América, onde um professor não pode receber estudantes no seu gabinete e fechar a porta; a América obececada com a saúde, mas que nem gastronomia possui - o mínimo que se pode exigir a uma cultura - para além das pipocas e sandes; a América que odiou as monarquias e só quis Reis da Marmelada, dos imperadores dos tijolos, marqueses dos elevadores e das máquinas de lavar a roupa; a América que converteu a religião no terceiro negócio mais lucrativo do país, imediatamente antes do negócio da coca e das armas. Há quem goste daquilo, habitualmente pessoas muito pouco exigentes e fascinadas pelo grande, pelo rico e pelo "shining". Acho, tudo aquilo, absolutamente nasty, revolting e disgusting. É claro que há gente que não respeita nada nem ninguém, por mais que naquelas línguas saiam torrentes de boas-novas e protestos de amor pelos "valores" e até por "deus". Conheci no Oriente uma dessas criaturas velhas e impenitentes que se atirava com despudor a tudo quanto lhe entrasse porta adentro, uma mistura de direito de pernada neo-colonial e clara percepção de impunidade. Não sei, nem me interessa, se DSK é um predador, mas a América que se eriça de furores para o julgar seria melhor se o não fosse; ou seja, se não fosse América e fosse um pouco mais europeia.»


Sigo a Ana na reprodução, com a devida vénia, do post que se segue. Depois dos comentários geralmente delirantes deixados neste post, julgo que a prosa é esclarecedora, também, enquanto resposta. Eu não diria melhor. Quanto à senhora juíza Jackson, interrogadora de DSK, perpetrou perguntas acerca da presença do presidente do FMI num avião dignas de um bom talk show para atrasados mentais. Mas a América é mesmo assim. O melhor e o pior do que não presta.«A imagem exibida pela polícia americana do presidente do FMI merecia uma atenção demorada. Quatro linhas de reflexão, como diria o outro. Primeiro: O homem está algemado e rodeado por um número considerável de polícias (o campo foi reduzido). A acusação é de "acto sexual criminoso", segundo o Libération. Porque está algemado? Espera-se que salte para cima dos polícias e tente violá-los? Que tente furtar-se à justiça? Não, DSK é mostrado a todos os povos do mundo como símbolo da justiça americana, universal, não poupando os poderosos. Se o cadáver de Bin Laden podia chocar os bons cidadãos, tomai então este outro vilão. Segundo: A imprensa responsável da Europa já publica tudo: o passado intimo, a transcrição de tablóides, a citação de bloguers e o comentário anónimo de "pessoas bem informadas". Terceiro: Este homem, que umas horas antes era tudo, está agora desprovido de toda a dignidade (aos justicialistas que acharem a frase excessiva aconselho que se façam algemar). Foi-lhe retirada a gravata e os atacadores. Ele, que convenceu tanta gente com a palavra, não pode recusar as câmaras assestadas sobre a face. Olhem a face de DSK: é a face de Saddam, o diabo iraquiano, no cadafalso de Bagdad. O lisboeta informado, humilhado pela troika há oito dias, pode agora exultar. Quatro: O presumível crime de DSK é pouco referido. Mas como é evidente, o homem não foi preso por administrar o FMI. O puritanismo hipócrita exulta e, desta feita, a imprensa europeia está toda sentada no chá americano.»Luís Januário, A Natureza do MalAdenda: Ao Libération DSK afirmou que não se admirava nada que lhe montassem uma cilada, para efeitos políticos tout court, em que fosse interveniente alguém a clamar ter sido "molestada" e a pedir uns dinheiros. Parece que alguém tomou boa nota da sugestão.Adenda2: O lixo mediático caseirinho no seu esplendor.Adenda3: Do Miguel Castelo-Branco, praticamente perfeito:«Pronto, parece que colou a estória do ogre velho, gordo, peludo, rico e impune sevando lubricidade sobre a desprotegida trabalhadora. É o sonho americano, o esquematismo, a ausência de qualquer linha actancial, a suspensão da inteligência. Há fulanos maus, absoluta e irrecuperavelmente maus e há, por necessidade de equilíbrio cósmico, os absolutamente bons. O aggiornamento dos contos para crianças implica fazer correcções em favor das crenças de género, religião, raça e mesmo saúde dos bons e dos maus. É a América, sem grandeza, sem elaboração, pequena e puritana, pacóvia e excessiva. A América da Lei Seca, claro; do Código Hayes, claro; dos 90.000.000 de processos do FBI sobre meio-país, mas também a América do anti-tabagismo primário - totalitário, roncante, quase idiota - que faz transportar a gente mais gorda e feia do planeta em carros que poluem mais por quilómetro que 10 maços de tabaco; a América que inventou o medo das pedofilias e o espalhou ao ponto de, hoje, um adulto não se atrever afagar a cabeça de uma criança; a América, onde um professor não pode receber estudantes no seu gabinete e fechar a porta; a América obececada com a saúde, mas que nem gastronomia possui - o mínimo que se pode exigir a uma cultura - para além das pipocas e sandes; a América que odiou as monarquias e só quis Reis da Marmelada, dos imperadores dos tijolos, marqueses dos elevadores e das máquinas de lavar a roupa; a América que converteu a religião no terceiro negócio mais lucrativo do país, imediatamente antes do negócio da coca e das armas. Há quem goste daquilo, habitualmente pessoas muito pouco exigentes e fascinadas pelo grande, pelo rico e pelo "shining". Acho, tudo aquilo, absolutamente nasty, revolting e disgusting. É claro que há gente que não respeita nada nem ninguém, por mais que naquelas línguas saiam torrentes de boas-novas e protestos de amor pelos "valores" e até por "deus". Conheci no Oriente uma dessas criaturas velhas e impenitentes que se atirava com despudor a tudo quanto lhe entrasse porta adentro, uma mistura de direito de pernada neo-colonial e clara percepção de impunidade. Não sei, nem me interessa, se DSK é um predador, mas a América que se eriça de furores para o julgar seria melhor se o não fosse; ou seja, se não fosse América e fosse um pouco mais europeia.»

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