Pulo do Lobo: Mocidade, mocidade

30-06-2011
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No outro dia a televisão passou uma cena elucidativa. Mário Soares andava pelas ruas de Coimbra. Às tantas, um militante do PCP (algum daqueles que Jerónimo não “tem na mão”) abeirou-se dele e disse-lhe que desta vez não iria "engolir um sapo", preparando-se para explicar os porquês da coisa. Por uma razão ou outra, Mário Soares, muito invulgarmente, não teve uma resposta na ponta da língua. E Joana Amaral Dias, que estava por perto, foi-o empurrando (pareceu-me), ao mesmo tempo que dizia algo como “Vá lá, vá lá! Temos que ir embora!”.Por algum motivo difícil de descortinar, os candidatos sentem-se na obrigação de terem mandatários para a juventude. Contrariamente à de Soares, os de Cavaco e Alegre são discretos e a gente quase nunca os vê (os de Jerónimo de Sousa e Louçã eu nem sequer sei quem são). Sábia atitude. Porque a inversa é catastrófica.Joana Amaral Dias não é, nem tem que ser, um vulto eminente do pensamento político português. Mas é um erro de casting flagrante, uma falsa boa ideia. Porquê? Porque, entre outras coisas, a sua presença constante acentua a idade de Soares. Ora, a idade é certamente um problema importante num candidato: seria pura hipocrisia negá-lo. De resto, o próprio Soares a ela constantemente se refere, e José Medeiros Ferreira quase fez do tema, no blog “Bicho Carpinteiro”, uma sua pessoal especialização. Mas se, em termos gerais e abstractos, isto é verdade, no caso de Soares, contando obviamente um pouco, conta verdadeiramente pouco. Contam muito as razões políticas, conta pouquíssimo a idade. Mantém muita vivacidade e um encanto pessoal indesmentível, palpável mesmo através de irritações, rabugices e uma tendência (que sempre teve) para se permitir coisas que nunca aos outros seriam permitidas. Se as razões que contassem fossem essas – vivacidade e encanto pessoal -, seria indiscutivelmente melhor candidato que o nosso actual recordista do salto à vara. Não são, mas não é nisso que vale a pena insistir.Aquilo em que vale a pena insistir – pondo-nos na cabeça de um apoiante de Mário Soares – é naquilo que, entre outros casos, o episódio de Coimbra revela. Revela que a presença constante da sua mandatária acentua a aparência da sua idade, e isso claramente o diminui. Não custa imaginar, num passeio por Vila Cara da Pouca Roupa, imaginar duas velhinhas enternecidas – conhecendo vagamente Soares, como vagamente se conhecem também todos os outros candidatos, ou não se conhecem de todo – dizendo uma para a outra: “Vem sempre com a netinha!” Acresce a isto – que já de si é desnecessário e injustamente penalizador, como expliquei atrás – que, entre as virtudes de Joana Amaral Dias, a simpatia não prima. Quando fala, sente-se imediatamente que há algo ali que não favorece Soares e que ela pensa que a favorece a ela. O espectáculo de Coimbra foi desagradável e revelador.Neste capítulo, o problema de Soares não é a idade: é a juventude, a "mocidade".

No outro dia a televisão passou uma cena elucidativa. Mário Soares andava pelas ruas de Coimbra. Às tantas, um militante do PCP (algum daqueles que Jerónimo não “tem na mão”) abeirou-se dele e disse-lhe que desta vez não iria "engolir um sapo", preparando-se para explicar os porquês da coisa. Por uma razão ou outra, Mário Soares, muito invulgarmente, não teve uma resposta na ponta da língua. E Joana Amaral Dias, que estava por perto, foi-o empurrando (pareceu-me), ao mesmo tempo que dizia algo como “Vá lá, vá lá! Temos que ir embora!”.Por algum motivo difícil de descortinar, os candidatos sentem-se na obrigação de terem mandatários para a juventude. Contrariamente à de Soares, os de Cavaco e Alegre são discretos e a gente quase nunca os vê (os de Jerónimo de Sousa e Louçã eu nem sequer sei quem são). Sábia atitude. Porque a inversa é catastrófica.Joana Amaral Dias não é, nem tem que ser, um vulto eminente do pensamento político português. Mas é um erro de casting flagrante, uma falsa boa ideia. Porquê? Porque, entre outras coisas, a sua presença constante acentua a idade de Soares. Ora, a idade é certamente um problema importante num candidato: seria pura hipocrisia negá-lo. De resto, o próprio Soares a ela constantemente se refere, e José Medeiros Ferreira quase fez do tema, no blog “Bicho Carpinteiro”, uma sua pessoal especialização. Mas se, em termos gerais e abstractos, isto é verdade, no caso de Soares, contando obviamente um pouco, conta verdadeiramente pouco. Contam muito as razões políticas, conta pouquíssimo a idade. Mantém muita vivacidade e um encanto pessoal indesmentível, palpável mesmo através de irritações, rabugices e uma tendência (que sempre teve) para se permitir coisas que nunca aos outros seriam permitidas. Se as razões que contassem fossem essas – vivacidade e encanto pessoal -, seria indiscutivelmente melhor candidato que o nosso actual recordista do salto à vara. Não são, mas não é nisso que vale a pena insistir.Aquilo em que vale a pena insistir – pondo-nos na cabeça de um apoiante de Mário Soares – é naquilo que, entre outros casos, o episódio de Coimbra revela. Revela que a presença constante da sua mandatária acentua a aparência da sua idade, e isso claramente o diminui. Não custa imaginar, num passeio por Vila Cara da Pouca Roupa, imaginar duas velhinhas enternecidas – conhecendo vagamente Soares, como vagamente se conhecem também todos os outros candidatos, ou não se conhecem de todo – dizendo uma para a outra: “Vem sempre com a netinha!” Acresce a isto – que já de si é desnecessário e injustamente penalizador, como expliquei atrás – que, entre as virtudes de Joana Amaral Dias, a simpatia não prima. Quando fala, sente-se imediatamente que há algo ali que não favorece Soares e que ela pensa que a favorece a ela. O espectáculo de Coimbra foi desagradável e revelador.Neste capítulo, o problema de Soares não é a idade: é a juventude, a "mocidade".

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