O responsável da equipa técnica que negociou o acordo ortográfico que se prepara para entrar em vigor, afirmou ontem, ao programa Directo Europa, da Rádio JORNAL da MADEIRA, que será muito mais fácil de se proceder à alfabetização. No entender de João Malaca Casteleiro, é muito mais fácil para uma criança escrever "ótimo" sem "p", ou direção só com o c cedilhado" do que estar a escrever consoantes que não vai articular. Referindo que esta é uma das principais mudanças na nova ortografia, aquele responsável, que tem uma longa carreira a lutar para que a língua portuguesa tenha as mesmas regras em qualquer parte do mundo (num universo de 200 milhões de falantes), defende que o português unificado é uma grande vantagem.Explicando que o novo acordo ortográfico caem as consoantes que não são articuladas, Malaca Casteleiro afirma, em declarações prestadas ao programa conduzido por Tiago Freitas, que o acordo ortográfico vai reflectir-se mais nas crianças do ensino básico, mas é de opinião que «os jovens vão aderir às alterações com muito mais facilidade».«Não se vai falar de uma maneira diferente.Vamos é escrever de uma forma diferente, suprimindo as consoantes que não são articuladas». Malaca Casteleiro diz compreender que da parte dos adultos haja alguma dificuldade porque quando se aprende uma palavra, aprende-se o significado, a pronúncia e a grafia. Tendo em conta que a imagem gráfica da palavra escrita fica gravada na nossa mente, de tal modo que quando escrevemos fazêmo-lo de uma maneira inconsciente, sem reflexão, Malaca Casteleiro admite que, nos primeiros tempos, o adulto terá de reflectir sobre aquilo que escreve.Questionado sobre se com a queda da consoante muda, os portugueses tenderão a a abrir algumas palavras como fazem os brasileiros, Malaca Casteleiro considera que esse é um falso argumento, um argumento demagógico.«Uma coisa é a oralidade e a imagem acústica que nós temos da pronúncia da palavra. Se tirarmos o "c" à palavra direcção, não vamos dizer de outra forma», diz.Em suma, Malaca Casteleiro defende que se torna importante ter uma grafia única porque é necessário resolver um problema ortográfico que se arrasta há quase cem anos. «A primeira tentativa aconteceu em 1911. Quase cem anos depois, estamos com um problema por resolver. Um problema que não é bom para a língua portuguesa. Não é bom apresentar no plano internacional, duas ortografias: a lusitana e a brasileira», explica Malaca Casteleiro, o qual realça o caricato que é quando nas oganizações internacionais, onde o português é a língua de trabalho, não se sabe qual a ortografia a adoptar. «Por vezes, é preciso que os relatórios e textos sejam publicados em duas versões», sublinha.Por outro lado, «nas escolas, nas universidades estrangeiras onde se aprende o português, o mesmo problema se põe. Os alunos passam por um professor de português e depois por um professor brasileiro, e é o mesmo problema da mudança da ortografia», adianta ainda.Questionado sobre se seria possível que a médio-longo prazo, o brasileiro se tornasse uma língua diferente do português, Malaca Casteleiro disse crer que não. O Latim fragmentou-se e deu origem a diferentes línguas mas era um tempo diferente de hoje.Em 1990, quando Portugal assinou o Acordo Ortográfico com os outros países lusófonos, Malaca Casteleiro assumiu a liderança da equipa técnica do país. Depois, no final dos anos 90, coordenou o Dicionário da Ligua Portuguesa Contemporânea, editado em 2001 pela Academia das Ciências de Lisboa, que ficou conhecido por Dicionário da Academia. João Malaca Casteleiro foi agraciado pelo governo francês com o grau de Cavaleiro da rdem das Palmas Académicas em 4 de Julho de 1986. Mais tarde, em 26 de Abril de 2001, Jorge Sampaio impôs-lhe a comenda de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.Licenciado, em 1960, Linguista em Filologia românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Malaca Casteleiro doutorou-se em 1979 pela mesma Faculidade. Carla Ribeiro
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O responsável da equipa técnica que negociou o acordo ortográfico que se prepara para entrar em vigor, afirmou ontem, ao programa Directo Europa, da Rádio JORNAL da MADEIRA, que será muito mais fácil de se proceder à alfabetização. No entender de João Malaca Casteleiro, é muito mais fácil para uma criança escrever "ótimo" sem "p", ou direção só com o c cedilhado" do que estar a escrever consoantes que não vai articular. Referindo que esta é uma das principais mudanças na nova ortografia, aquele responsável, que tem uma longa carreira a lutar para que a língua portuguesa tenha as mesmas regras em qualquer parte do mundo (num universo de 200 milhões de falantes), defende que o português unificado é uma grande vantagem.Explicando que o novo acordo ortográfico caem as consoantes que não são articuladas, Malaca Casteleiro afirma, em declarações prestadas ao programa conduzido por Tiago Freitas, que o acordo ortográfico vai reflectir-se mais nas crianças do ensino básico, mas é de opinião que «os jovens vão aderir às alterações com muito mais facilidade».«Não se vai falar de uma maneira diferente.Vamos é escrever de uma forma diferente, suprimindo as consoantes que não são articuladas». Malaca Casteleiro diz compreender que da parte dos adultos haja alguma dificuldade porque quando se aprende uma palavra, aprende-se o significado, a pronúncia e a grafia. Tendo em conta que a imagem gráfica da palavra escrita fica gravada na nossa mente, de tal modo que quando escrevemos fazêmo-lo de uma maneira inconsciente, sem reflexão, Malaca Casteleiro admite que, nos primeiros tempos, o adulto terá de reflectir sobre aquilo que escreve.Questionado sobre se com a queda da consoante muda, os portugueses tenderão a a abrir algumas palavras como fazem os brasileiros, Malaca Casteleiro considera que esse é um falso argumento, um argumento demagógico.«Uma coisa é a oralidade e a imagem acústica que nós temos da pronúncia da palavra. Se tirarmos o "c" à palavra direcção, não vamos dizer de outra forma», diz.Em suma, Malaca Casteleiro defende que se torna importante ter uma grafia única porque é necessário resolver um problema ortográfico que se arrasta há quase cem anos. «A primeira tentativa aconteceu em 1911. Quase cem anos depois, estamos com um problema por resolver. Um problema que não é bom para a língua portuguesa. Não é bom apresentar no plano internacional, duas ortografias: a lusitana e a brasileira», explica Malaca Casteleiro, o qual realça o caricato que é quando nas oganizações internacionais, onde o português é a língua de trabalho, não se sabe qual a ortografia a adoptar. «Por vezes, é preciso que os relatórios e textos sejam publicados em duas versões», sublinha.Por outro lado, «nas escolas, nas universidades estrangeiras onde se aprende o português, o mesmo problema se põe. Os alunos passam por um professor de português e depois por um professor brasileiro, e é o mesmo problema da mudança da ortografia», adianta ainda.Questionado sobre se seria possível que a médio-longo prazo, o brasileiro se tornasse uma língua diferente do português, Malaca Casteleiro disse crer que não. O Latim fragmentou-se e deu origem a diferentes línguas mas era um tempo diferente de hoje.Em 1990, quando Portugal assinou o Acordo Ortográfico com os outros países lusófonos, Malaca Casteleiro assumiu a liderança da equipa técnica do país. Depois, no final dos anos 90, coordenou o Dicionário da Ligua Portuguesa Contemporânea, editado em 2001 pela Academia das Ciências de Lisboa, que ficou conhecido por Dicionário da Academia. João Malaca Casteleiro foi agraciado pelo governo francês com o grau de Cavaleiro da rdem das Palmas Académicas em 4 de Julho de 1986. Mais tarde, em 26 de Abril de 2001, Jorge Sampaio impôs-lhe a comenda de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.Licenciado, em 1960, Linguista em Filologia românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Malaca Casteleiro doutorou-se em 1979 pela mesma Faculidade. Carla Ribeiro