O Acidental: Pessimista Antropológico? Não, obrigado

02-07-2011
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1. Quando se discute com alguém de esquerda, ouve-se sempre este insulto dissimulado:“És um pessimista antropológico!!”Aí, ficamos a saber que o nosso interlocutor, como é óbvio, tem o património exclusivo do “optimismo”, da “moral, do “bem”, do “amor pelo próximo”. São os tais sonhadores. São os tais padres sem batina. São aqueles que cospem arrogância moral (nem sequer é intelectual…) sobre os outros; aqui, o outro é apenas um espelho onde é projectada a suposta grandeza moral.2. Ora, como é natural, isto é um pouco mais complexo. Uma pessoa de “direita” nega a validade dos grandes projectos utópicos, isto é, recusa a validade do conceito de Homem. Isto é pessimismo? Não necessariamente. É, antes de mais, a defesa do pluralismo: há homens e não Homem; há culturas, há dezenas de correntes de pensamento, etc. Não, não sou pessimista. Sou pluralista. Essa coisa do “és pessimista” é mais uma das armadilhas morais de um debate cultural sempre enviesado à esquerda (e não é só em Portugal). Os ditos optimistas nunca respondem a uma pergunta: “Então, e se alguns homens não concordarem com essa utopia? E se alguns homens discordarem desse Bem? O que se faz com esses homens?”. A História do XX deu algumas respostas. Os optimistas mataram com o sorriso nos lábios. Aliás, continuam a matar. Optimismo, em politíca, é uma porta para o autoritarismo.3. Um “gajo de direita” (em Portugal, é assim que os “pluralistas” de esquerda falam dos seus adversários) sabe que qualquer indivíduo pode ser um anjo e uma besta no mesmo minuto. Isto é pessimismo? Não. É sensatez. E, já agora, também é humildade: sabe que ninguém é perfeito. O monista, ao invés, como tem deus no peito, julga-se acima do erro.Eu não sou pessimista. Tenho fé nos homens (não no Homem). Acredito no indivíduo. Acredito naquilo que cada um é capaz de fazer. Quem idolatra o Homem detesta estes homens, detesta o indivíduo. Quem tem o Bem optimista no bolso cospe sempre nos seus patrícios. O “optimismo sonhador” da retórica é sinal de disparates ou massacres.[Henrique Raposo]

1. Quando se discute com alguém de esquerda, ouve-se sempre este insulto dissimulado:“És um pessimista antropológico!!”Aí, ficamos a saber que o nosso interlocutor, como é óbvio, tem o património exclusivo do “optimismo”, da “moral, do “bem”, do “amor pelo próximo”. São os tais sonhadores. São os tais padres sem batina. São aqueles que cospem arrogância moral (nem sequer é intelectual…) sobre os outros; aqui, o outro é apenas um espelho onde é projectada a suposta grandeza moral.2. Ora, como é natural, isto é um pouco mais complexo. Uma pessoa de “direita” nega a validade dos grandes projectos utópicos, isto é, recusa a validade do conceito de Homem. Isto é pessimismo? Não necessariamente. É, antes de mais, a defesa do pluralismo: há homens e não Homem; há culturas, há dezenas de correntes de pensamento, etc. Não, não sou pessimista. Sou pluralista. Essa coisa do “és pessimista” é mais uma das armadilhas morais de um debate cultural sempre enviesado à esquerda (e não é só em Portugal). Os ditos optimistas nunca respondem a uma pergunta: “Então, e se alguns homens não concordarem com essa utopia? E se alguns homens discordarem desse Bem? O que se faz com esses homens?”. A História do XX deu algumas respostas. Os optimistas mataram com o sorriso nos lábios. Aliás, continuam a matar. Optimismo, em politíca, é uma porta para o autoritarismo.3. Um “gajo de direita” (em Portugal, é assim que os “pluralistas” de esquerda falam dos seus adversários) sabe que qualquer indivíduo pode ser um anjo e uma besta no mesmo minuto. Isto é pessimismo? Não. É sensatez. E, já agora, também é humildade: sabe que ninguém é perfeito. O monista, ao invés, como tem deus no peito, julga-se acima do erro.Eu não sou pessimista. Tenho fé nos homens (não no Homem). Acredito no indivíduo. Acredito naquilo que cada um é capaz de fazer. Quem idolatra o Homem detesta estes homens, detesta o indivíduo. Quem tem o Bem optimista no bolso cospe sempre nos seus patrícios. O “optimismo sonhador” da retórica é sinal de disparates ou massacres.[Henrique Raposo]

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