O Acidental: Não quero que fiques mal habituado, Diogo

03-07-2011
marcar artigo

1.Os europeus passam horas a discutir o sexo dos anjos. Melhor: passam horas a discutir mitos políticos. O mais forte é o mito imbecil do Império Americano. Coisa que não existe. Às vezes, tenho a impressão que este mito é uma espécie de pílula para a depressão que os europeus engolem assolapadamente. É uma forma de fugir à realidade. É uma forma de não encarar que, de facto, a Europa já não é o centro do mundo. É uma forma, por exemplo, de não encarar de frente um facto da política internacional do século XXI: a aliança entre Washington e Tóquio é mais importante do que a aliança entre Washington e a “Europa”. 2. Um Japão forte e rico é a peça vital na estratégia americana para a Ásia. E a Ásia é o que está a dar. Sem o Japão, não é possível continuar a integrar a China no actual staus quo. A aliança Japão-EUA é o pilar da Ásia e, muito provavelmente, de todo o sistema. Façam o seguinte exercício: imaginem um mundo no qual o Japão não é aliado da América. Estão a imaginar? O que vêem? Pois é, é um mundo estranho e perigoso. Um mundo onde não há aliança entre Tóquio e Washington é um estranho novo mundo. E incrivelmente perigoso. Com um grau de instabilidade que não se conhece desde os tempos da II Guerra. 3.A estabilidade do sistema tolera crises no Atlântico entre americanos e europeus, mas não tolerará uma crise trans-pacífica entre Washington e Tóquio. A aliança Japão-EUA é o elo estratégico mais importante do mundo. Por muito que isso custe aos europeus. 4. E um aviso para quem afirma que os EUA não querem uma Europa forte: Washington está a preparar-se para aceitar a reemergência do Japão enquanto grande potência política e militar. A subalternidade vivida na Guerra-Fria vai dar lugar a uma relação entre iguais. [Henrique Raposo]Bibliografia (com um abraço para o camarada Diogo; para quando esse copo no teu doce lar?): James J. Przystup, “U.S.-Japan Relations: Towards a Mature Partnership”, Institute for National Strategic Studies – Occasional Studies 2, Washington, National Defense University Press, 2005; Akio Watanabe, “A Continuum of Change”, The Washington Quarterly, Autumn 2004, Vol. 27, N.º 4. David Fouse, “Japan’s FY 2005 National Defense Program Outline: New Concepts, Old Compromises”, in Asia-Pacific Center for Security Studies, vol. 4, n.º3 (March 2005).

1.Os europeus passam horas a discutir o sexo dos anjos. Melhor: passam horas a discutir mitos políticos. O mais forte é o mito imbecil do Império Americano. Coisa que não existe. Às vezes, tenho a impressão que este mito é uma espécie de pílula para a depressão que os europeus engolem assolapadamente. É uma forma de fugir à realidade. É uma forma de não encarar que, de facto, a Europa já não é o centro do mundo. É uma forma, por exemplo, de não encarar de frente um facto da política internacional do século XXI: a aliança entre Washington e Tóquio é mais importante do que a aliança entre Washington e a “Europa”. 2. Um Japão forte e rico é a peça vital na estratégia americana para a Ásia. E a Ásia é o que está a dar. Sem o Japão, não é possível continuar a integrar a China no actual staus quo. A aliança Japão-EUA é o pilar da Ásia e, muito provavelmente, de todo o sistema. Façam o seguinte exercício: imaginem um mundo no qual o Japão não é aliado da América. Estão a imaginar? O que vêem? Pois é, é um mundo estranho e perigoso. Um mundo onde não há aliança entre Tóquio e Washington é um estranho novo mundo. E incrivelmente perigoso. Com um grau de instabilidade que não se conhece desde os tempos da II Guerra. 3.A estabilidade do sistema tolera crises no Atlântico entre americanos e europeus, mas não tolerará uma crise trans-pacífica entre Washington e Tóquio. A aliança Japão-EUA é o elo estratégico mais importante do mundo. Por muito que isso custe aos europeus. 4. E um aviso para quem afirma que os EUA não querem uma Europa forte: Washington está a preparar-se para aceitar a reemergência do Japão enquanto grande potência política e militar. A subalternidade vivida na Guerra-Fria vai dar lugar a uma relação entre iguais. [Henrique Raposo]Bibliografia (com um abraço para o camarada Diogo; para quando esse copo no teu doce lar?): James J. Przystup, “U.S.-Japan Relations: Towards a Mature Partnership”, Institute for National Strategic Studies – Occasional Studies 2, Washington, National Defense University Press, 2005; Akio Watanabe, “A Continuum of Change”, The Washington Quarterly, Autumn 2004, Vol. 27, N.º 4. David Fouse, “Japan’s FY 2005 National Defense Program Outline: New Concepts, Old Compromises”, in Asia-Pacific Center for Security Studies, vol. 4, n.º3 (March 2005).

marcar artigo