1.Rousseau produziu algo. Este algo, inicialmente elitista, transformou-se, com o decorrer do tempo, num automatismo moral e emocional de massas. Este algo é isto: o Rico é mau, gordo, cínico e hipócrita enquanto que o Pobre é, naturalmente, bom, magricela, puro e verdadeiro. Criou-se o melodrama que anima românticos e esquerdistas há mais de dois séculos: carrasco vs. vítima, algoz vs. mártir. É a mesmo lógica das religiões. Rousseau fundiu economia com moral. Os critérios económicos começaram a bombardear aquilo que não tem qualquer natureza económica – a moral. Instituiu-se uma piedade ideológica. Aquilo que era uma emoção religiosa transformou-se num sistema ideológico fechado. É fechado a este ponto: não admite que alguém pobre defenda o Liberalismo. 2.Ainda hoje há consequências deste sistema moralista que entranhou toda a cultura ocidental. Algumas pessoas, contra todos os factos e evidências, ligam terrorismo à pobreza. Não percebem é que estão a insultar todos os pobres do mundo. Mais: percebe-se que têm uma visão mistificada de pobreza. É a visão de Rousseau, aquele que vivia da protecção dos… ricos. Na América, um desastre natural matou, aparentemente, milhares de pessoas. E o que reacção? Piedade? Qual quê?! Uma minoria lança as farpas: “São ricos”, “eles que se entendam”. E tudo é dito de forma fria. Ou seja, sem pudor. Sem vergonha. Pior: a maioria não diz nada. Não responde às farpas. Está igualmente indiferente. Conclusão: a América, porque é rica, não merece piedade. A piedade é só para os pobres. Há seres humanos X – os bons - e seres humanos Y – os patifes. É como ver um melodrama mexicano ou novela venezuelana. Uma tragédia num lado qualquer é mesmo uma tragédia. Uma tragédia na América não é bem uma tragédia mas um casualidade natural. Para alguns, não somos todos iguais. Na lógica de Rousseau, tudo depende do passaporte e, não esquecer, da bolsa. [Henrique Raposo]
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1.Rousseau produziu algo. Este algo, inicialmente elitista, transformou-se, com o decorrer do tempo, num automatismo moral e emocional de massas. Este algo é isto: o Rico é mau, gordo, cínico e hipócrita enquanto que o Pobre é, naturalmente, bom, magricela, puro e verdadeiro. Criou-se o melodrama que anima românticos e esquerdistas há mais de dois séculos: carrasco vs. vítima, algoz vs. mártir. É a mesmo lógica das religiões. Rousseau fundiu economia com moral. Os critérios económicos começaram a bombardear aquilo que não tem qualquer natureza económica – a moral. Instituiu-se uma piedade ideológica. Aquilo que era uma emoção religiosa transformou-se num sistema ideológico fechado. É fechado a este ponto: não admite que alguém pobre defenda o Liberalismo. 2.Ainda hoje há consequências deste sistema moralista que entranhou toda a cultura ocidental. Algumas pessoas, contra todos os factos e evidências, ligam terrorismo à pobreza. Não percebem é que estão a insultar todos os pobres do mundo. Mais: percebe-se que têm uma visão mistificada de pobreza. É a visão de Rousseau, aquele que vivia da protecção dos… ricos. Na América, um desastre natural matou, aparentemente, milhares de pessoas. E o que reacção? Piedade? Qual quê?! Uma minoria lança as farpas: “São ricos”, “eles que se entendam”. E tudo é dito de forma fria. Ou seja, sem pudor. Sem vergonha. Pior: a maioria não diz nada. Não responde às farpas. Está igualmente indiferente. Conclusão: a América, porque é rica, não merece piedade. A piedade é só para os pobres. Há seres humanos X – os bons - e seres humanos Y – os patifes. É como ver um melodrama mexicano ou novela venezuelana. Uma tragédia num lado qualquer é mesmo uma tragédia. Uma tragédia na América não é bem uma tragédia mas um casualidade natural. Para alguns, não somos todos iguais. Na lógica de Rousseau, tudo depende do passaporte e, não esquecer, da bolsa. [Henrique Raposo]