Vejo António José Teixeira e Luis Delgado na Sic-Notícias e finalmente, saída da penumbra, vislumbro a razão da depressão nacional. Demasiados braços preguiçosos, demasiados cérebros ociosos. Minutos depois, começa Fight Club na TVI. Yuppies mimados e frustrados em busca de sensações fortes, o Santo Graal da Pós-Modernidade, organizando sessões de tabefe e carolo em arenas improvisadas. Podia-lhes dar dar para bem pior. Podiam, por exemplo, inventar uma crise política e depois apregoar a solução, em espasmos orgásmicos, como fazem os comentaristas Teixeira e Delgado, sempre investidos da sua reconhecida e comprovada "independência". Há, de facto, na análise do actual impasse político, um excesso de linguagem do comentarismo profissional. Até melhor prova em contrário, a crise não existe. E se a coisa se arrasta, como bem notou o Vasco Rato ali em baixo, tudo se deve ao hype presidencial da situação. Não me parece difícil de ver que Sampaio, o mais ocioso dos braços caídos (ex officio, é certo), não quis perder a oportunidade de gozar a sua autoridade. Em vez de aproveitar os mecanismos normais de uma democracia estável, assente circunstancialmente numa maioria parlamentar, e optar pela solução mais óbvia, preferiu fruir o momento - esticando-o ao máximo suportável - e tentar a posteridade. É uma atitude típica, que o Presidente partilha com grande parte dos nossos comentaristas. Portugal é uma sensaboria pasmacenta sem o mínimo interesse para o comentário político. Não declaramos guerras, os nossos partidos partilham mesa, tecto e leito, a vida flui sem grandes solavancos. Por isso, em face da actual situação, só diz que estamos em "crise" quem quer eleições, quem perdeu memória ou vergonha (olá Engenheira Pintassilgo) e quem sonha um dia debater uma invasão militar ou um impeachment, em mangas de camisa, na CNN. Em resumo, quem precisa de empolar a sua circunstância para esquecer a banalidade da sua condição. Assim como os yuppies de Fight Club, a única Grande Depressão que algum dia viverão é a da sua própria vida. Felizmente, nem todos são assim. Ainda há os que escarnecem as teorias do apocalipse, os que dão opinião sem se esconder numa alegada "independência" e os que têm dúvidas, fundadas dúvidas, como o Pedro Lomba e o Pedro Mexia. Os restantes, esses, ensaiam pose de Estado, esboçam semblante grave e sobem acima do comum dos mortais. Porque eles sabem que existe uma crise. E são eles que têm a resposta. Aliás, como no filme, uma das regras do seu clube é nunca fazerem perguntas. [Francisco Mendes da Silva]
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Vejo António José Teixeira e Luis Delgado na Sic-Notícias e finalmente, saída da penumbra, vislumbro a razão da depressão nacional. Demasiados braços preguiçosos, demasiados cérebros ociosos. Minutos depois, começa Fight Club na TVI. Yuppies mimados e frustrados em busca de sensações fortes, o Santo Graal da Pós-Modernidade, organizando sessões de tabefe e carolo em arenas improvisadas. Podia-lhes dar dar para bem pior. Podiam, por exemplo, inventar uma crise política e depois apregoar a solução, em espasmos orgásmicos, como fazem os comentaristas Teixeira e Delgado, sempre investidos da sua reconhecida e comprovada "independência". Há, de facto, na análise do actual impasse político, um excesso de linguagem do comentarismo profissional. Até melhor prova em contrário, a crise não existe. E se a coisa se arrasta, como bem notou o Vasco Rato ali em baixo, tudo se deve ao hype presidencial da situação. Não me parece difícil de ver que Sampaio, o mais ocioso dos braços caídos (ex officio, é certo), não quis perder a oportunidade de gozar a sua autoridade. Em vez de aproveitar os mecanismos normais de uma democracia estável, assente circunstancialmente numa maioria parlamentar, e optar pela solução mais óbvia, preferiu fruir o momento - esticando-o ao máximo suportável - e tentar a posteridade. É uma atitude típica, que o Presidente partilha com grande parte dos nossos comentaristas. Portugal é uma sensaboria pasmacenta sem o mínimo interesse para o comentário político. Não declaramos guerras, os nossos partidos partilham mesa, tecto e leito, a vida flui sem grandes solavancos. Por isso, em face da actual situação, só diz que estamos em "crise" quem quer eleições, quem perdeu memória ou vergonha (olá Engenheira Pintassilgo) e quem sonha um dia debater uma invasão militar ou um impeachment, em mangas de camisa, na CNN. Em resumo, quem precisa de empolar a sua circunstância para esquecer a banalidade da sua condição. Assim como os yuppies de Fight Club, a única Grande Depressão que algum dia viverão é a da sua própria vida. Felizmente, nem todos são assim. Ainda há os que escarnecem as teorias do apocalipse, os que dão opinião sem se esconder numa alegada "independência" e os que têm dúvidas, fundadas dúvidas, como o Pedro Lomba e o Pedro Mexia. Os restantes, esses, ensaiam pose de Estado, esboçam semblante grave e sobem acima do comum dos mortais. Porque eles sabem que existe uma crise. E são eles que têm a resposta. Aliás, como no filme, uma das regras do seu clube é nunca fazerem perguntas. [Francisco Mendes da Silva]