O Acidental: O outro general na revolução

03-07-2011
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Caro Vital Moreira,Não sei se não percebeu, não quis perceber ou fingiu que não percebeu a minha menção ao “fascismo”. Eu sei que isso lhe permite passar à vitimização (acusando-me de lhe atribuir erroneamente certas palavras e intenções), mas, como deveria ser evidente, eu referia-me à linguagem da época. E à época, como muito bem sabe, o vocábulo “fascista” era usado a torto e a direito. A esquerda passou o ano que vai de Abril de 74 a Março de 75 a acusar Spínola de querer reinstaurar o “fascismo”, invocando até o exemplo do Chile e de Pinochet. Eu sei que o Vital Moreira não quereria dizer agora que Spínola quis reinstaurar o fascismo, mas à época deve ter dito – estou apenas a adivinhar, não tenho a certeza…Quanto aos factos, como poderia eu negar os factos? E vejo que o Vital Moreira se congratula com isso. Ora, também eu me congratulo por o Vital Moreira, como representante da nossa esquerda ideológica (e assim lhe devolvo a classificação que tanto parece apreciar), não negar os outros factos que apresento no artigo e no post: a colonização do poder civil, militar e económico pelo PCP, o MDP/CDE, o PS e o esquerdismo até Março de 75, acompanhado a partir de certa altura pela generalização das prisões políticas e da tortura até Novembro de 75. Comprova-se, portanto, que é apenas na interpretação de factos (os quais nenhum de nós nega) que reside a nossa divergência.O argumento de que é tudo culpa de Spínola é muito conveniente, porque desresponsabiliza aqueles que nesse período efectivamente radicalizaram a revolução ou seguiram uma estratégia surda de tomada do poder: para dar apenas um exemplo, talvez se o PCP não se tivesse atirado como gato a bofe ao poder local, aos sindicatos e ao exército o general Spínola não tivesse pretextos para as suas ideias mais desagradáveis.Eu acho que o Vital Moreira continua sem dar o benefício da dúvida ao general. Eu estou de acordo que ele queria criar uma situação de autoridade mais musculada. O que não sei é se era duradoura ou transitória. Nesta última hipótese, essa situação serviria apenas para preparar as eleições para a Constituinte. Já percebi que o Vital Moreira não acredita nesta hipótese. Mas a mim não me parece impossível.Um pouco mais incompreensível é a animosidade unilateral do Vital Moreira contra o general, que afinal (se era autoritário) não teve possibilidades de aplicar o autoritarismo, quando houve tanto autoritário de esquerda que à época conseguiu levar à prática as suas magníficas ideias.Enfim, interpretações diferentes, provavelmente representativas de duas posições diferentes: a da esquerda ideológica e a da direita ideológica.Com os melhores cumprimentos,[Luciano Amaral]

Caro Vital Moreira,Não sei se não percebeu, não quis perceber ou fingiu que não percebeu a minha menção ao “fascismo”. Eu sei que isso lhe permite passar à vitimização (acusando-me de lhe atribuir erroneamente certas palavras e intenções), mas, como deveria ser evidente, eu referia-me à linguagem da época. E à época, como muito bem sabe, o vocábulo “fascista” era usado a torto e a direito. A esquerda passou o ano que vai de Abril de 74 a Março de 75 a acusar Spínola de querer reinstaurar o “fascismo”, invocando até o exemplo do Chile e de Pinochet. Eu sei que o Vital Moreira não quereria dizer agora que Spínola quis reinstaurar o fascismo, mas à época deve ter dito – estou apenas a adivinhar, não tenho a certeza…Quanto aos factos, como poderia eu negar os factos? E vejo que o Vital Moreira se congratula com isso. Ora, também eu me congratulo por o Vital Moreira, como representante da nossa esquerda ideológica (e assim lhe devolvo a classificação que tanto parece apreciar), não negar os outros factos que apresento no artigo e no post: a colonização do poder civil, militar e económico pelo PCP, o MDP/CDE, o PS e o esquerdismo até Março de 75, acompanhado a partir de certa altura pela generalização das prisões políticas e da tortura até Novembro de 75. Comprova-se, portanto, que é apenas na interpretação de factos (os quais nenhum de nós nega) que reside a nossa divergência.O argumento de que é tudo culpa de Spínola é muito conveniente, porque desresponsabiliza aqueles que nesse período efectivamente radicalizaram a revolução ou seguiram uma estratégia surda de tomada do poder: para dar apenas um exemplo, talvez se o PCP não se tivesse atirado como gato a bofe ao poder local, aos sindicatos e ao exército o general Spínola não tivesse pretextos para as suas ideias mais desagradáveis.Eu acho que o Vital Moreira continua sem dar o benefício da dúvida ao general. Eu estou de acordo que ele queria criar uma situação de autoridade mais musculada. O que não sei é se era duradoura ou transitória. Nesta última hipótese, essa situação serviria apenas para preparar as eleições para a Constituinte. Já percebi que o Vital Moreira não acredita nesta hipótese. Mas a mim não me parece impossível.Um pouco mais incompreensível é a animosidade unilateral do Vital Moreira contra o general, que afinal (se era autoritário) não teve possibilidades de aplicar o autoritarismo, quando houve tanto autoritário de esquerda que à época conseguiu levar à prática as suas magníficas ideias.Enfim, interpretações diferentes, provavelmente representativas de duas posições diferentes: a da esquerda ideológica e a da direita ideológica.Com os melhores cumprimentos,[Luciano Amaral]

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