Se a medida tiver o mérito de quebrar o tabu e provocar essa nova atitude, então caiam todas as gravatas
O anúncio recente da ministra da Agricultura e do Ambiente de que os homens vão deixar de usar gravata no seu ministério para poupar no ar condicionado, para não ser folclórica, como Ricardo Costa o definiu no Expresso da semana passada, deveria ser acompanhado de um plano de custo/poupança para que os portugueses e as portuguesas percebessem os benefícios de tamanho sacrifício para os homens. Porque se há limites para os sacrifícios, como o Presidente da República anunciou no seu discurso de tomada de posse, não nos detenhamos em pedir sacrifícios inúteis.
De todo o modo, parece-me haver uma eficácia para essa medida, provavelmente ainda não ponderada pela ministra, apesar de ser mulher, que se poderá traduzir na emergência de novas masculinidades, essas sim, fundamentais para mudar de paradigma, como Barack Obama anunciou no seu discurso de tomada de posse em Janeiro de 2009, e criar um novo modelo de crescimento, baseado em regras de ética e valores que vão para além do mercado e do lucro. Ou seja, como dizia Mário Soares, um modelo onde as pessoas contem mais do que o dinheiro, assente no respeito pela dignidade no trabalho, nos direitos humanos, na solidariedade e na justiça social.
A nova senhora do FMI, Christine Lagarde, chegou mesmo a denunciar há dois anos, no eclodir da crise mundial, o excesso de testosterona na liderança das instituições financeiras internacionais, indiciando desse modo a necessidade de se mudar o modelo de dominação dominante dos corredores do poder político e financeiro.
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Necessitamos de novas regras no exercício do poder, de valorizar a inovação e a criatividade introduzidas pela diversidade, não só de género, mas também pela valorização e integração de grupos minoritários, como pessoas homossexuais, minorias étnicas, pessoas com deficiência, etc, etc, etc. Precisamos de valorizar o contacto com as pessoas e permitir que todas as suas potencialidades se possam manifestar, e isto faz-se com políticas de proximidade, reforçando o diálogo com as pessoas, com investimentos reforçados em políticas de conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal para mulheres e para homens. Enfim, precisamos de uma nova atitude face ao desperdício e, sobretudo, face ao desperdício de recursos humanos, e romper estereótipos que têm amputado vontades individuais e construções colectivas.
É aí que a medida "homens sem gravata" se deve encaixar - deixar emergir novas masculinidades, direi mesmo "novos homens" que deixem de se orientar pelas imagens estereotipadas do masculino e do feminino, que deixem de definir funções sociais em função de diferenças biológicas, onde as funções reprodutivas e competitivas possam ser assumidas indistintamente por homens e mulheres em função das suas competências e aptidões e não de determinismos biológicos associados ao sexo com que nascemos. A "queda da gravata", como símbolo fálico de uma masculinidade que terá de ser reinventada, deverá funcionar como estímulo à interiorização e vivência dos afectos que permitirão aos homens chorar sem inibição ou vergonha e viver o insucesso sem sofrimento, mas como estímulo para um novo desafio.
Só assim teremos ganhos de eficácia e competitividade, com ou sem gravata, necessários à invenção de uma nova civilização de que a humanidade necessita. Se a medida tiver o mérito de quebrar o tabu e provocar essa nova atitude, então caiam todas as gravatas, não só no Verão mas também no Inverno, as usadas pelos homens e também as usadas pelas mulheres. Deputada do PS, ex-secretária de Estado da Igualdade
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Se a medida tiver o mérito de quebrar o tabu e provocar essa nova atitude, então caiam todas as gravatas
O anúncio recente da ministra da Agricultura e do Ambiente de que os homens vão deixar de usar gravata no seu ministério para poupar no ar condicionado, para não ser folclórica, como Ricardo Costa o definiu no Expresso da semana passada, deveria ser acompanhado de um plano de custo/poupança para que os portugueses e as portuguesas percebessem os benefícios de tamanho sacrifício para os homens. Porque se há limites para os sacrifícios, como o Presidente da República anunciou no seu discurso de tomada de posse, não nos detenhamos em pedir sacrifícios inúteis.
De todo o modo, parece-me haver uma eficácia para essa medida, provavelmente ainda não ponderada pela ministra, apesar de ser mulher, que se poderá traduzir na emergência de novas masculinidades, essas sim, fundamentais para mudar de paradigma, como Barack Obama anunciou no seu discurso de tomada de posse em Janeiro de 2009, e criar um novo modelo de crescimento, baseado em regras de ética e valores que vão para além do mercado e do lucro. Ou seja, como dizia Mário Soares, um modelo onde as pessoas contem mais do que o dinheiro, assente no respeito pela dignidade no trabalho, nos direitos humanos, na solidariedade e na justiça social.
A nova senhora do FMI, Christine Lagarde, chegou mesmo a denunciar há dois anos, no eclodir da crise mundial, o excesso de testosterona na liderança das instituições financeiras internacionais, indiciando desse modo a necessidade de se mudar o modelo de dominação dominante dos corredores do poder político e financeiro.
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Necessitamos de novas regras no exercício do poder, de valorizar a inovação e a criatividade introduzidas pela diversidade, não só de género, mas também pela valorização e integração de grupos minoritários, como pessoas homossexuais, minorias étnicas, pessoas com deficiência, etc, etc, etc. Precisamos de valorizar o contacto com as pessoas e permitir que todas as suas potencialidades se possam manifestar, e isto faz-se com políticas de proximidade, reforçando o diálogo com as pessoas, com investimentos reforçados em políticas de conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal para mulheres e para homens. Enfim, precisamos de uma nova atitude face ao desperdício e, sobretudo, face ao desperdício de recursos humanos, e romper estereótipos que têm amputado vontades individuais e construções colectivas.
É aí que a medida "homens sem gravata" se deve encaixar - deixar emergir novas masculinidades, direi mesmo "novos homens" que deixem de se orientar pelas imagens estereotipadas do masculino e do feminino, que deixem de definir funções sociais em função de diferenças biológicas, onde as funções reprodutivas e competitivas possam ser assumidas indistintamente por homens e mulheres em função das suas competências e aptidões e não de determinismos biológicos associados ao sexo com que nascemos. A "queda da gravata", como símbolo fálico de uma masculinidade que terá de ser reinventada, deverá funcionar como estímulo à interiorização e vivência dos afectos que permitirão aos homens chorar sem inibição ou vergonha e viver o insucesso sem sofrimento, mas como estímulo para um novo desafio.
Só assim teremos ganhos de eficácia e competitividade, com ou sem gravata, necessários à invenção de uma nova civilização de que a humanidade necessita. Se a medida tiver o mérito de quebrar o tabu e provocar essa nova atitude, então caiam todas as gravatas, não só no Verão mas também no Inverno, as usadas pelos homens e também as usadas pelas mulheres. Deputada do PS, ex-secretária de Estado da Igualdade