Com este texto dou início à minha participação no Devaneios, de que sou leitora assídua há vários anos. Agradeço ao Max o convite, que representa para mim um estímulo e uma prova de confiança. Dentro de pouco tempo tenciono mudar-me para a Noruega. Perante tal decisão, dizia-me um amigo em tom de brincadeira que eu parecia estar a desenvolver uma estranha fixação por penínsulas, referindo-se às minhas origens ibéricas e à minha especialização na região dos Balcãs. É certo que os Balcãs não são propriamente uma península, facto de que o meu amigo estava consciente, sendo ele próprio da região. Ainda assim, o seu comentário não deixou de ser acertado. As periferias da Europa interessam-me muito mais do que o centro.
Quando comecei a estudar a região dos Balcãs, um dos motivos da minha escolha foi a vontade de me distanciar da realidade portuguesa e procurar compreender uma outra sobre a qual não sabia praticamente nada. O que tenho observado e aprendido permitiu-me ficar a conhecer Portugal bem melhor, enquanto que o facto de ser portuguesa, ou seja, oriunda de uma região periférica em termos europeus, acabou por constituir uma vantagem, tantos verifiquei serem os pontos em comum entre a nossa cultura e a cultura da região, apesar de percursos históricos completamente diferentes. Esses pontos comuns incluem, pela positiva, a afabilidade das pessoas, no gosto em receber, numa certa forma de gozar os pequenos prazeres da vida, mas também, pela negativa, a pobreza de espírito das respectivas elites, a facilidade com que situações de corrupção são encaradas como normais, o fatalismo, a tendência para a vitimização, etc. Tendo a possibilidade de contactar com uma realidade marcada por problemas muito mais profundos e difíceis de ultrapassar do que aqueles que se vivem em Portugal, confesso que por vezes me canso deste verdadeiro desporto nacional que é a auto-comiseração, mas tenho muita dificuldade em explicar o que está errado com este país, que parece ter tudo para dar certo, mas se revela sistematicamente incapaz de concretizar o seu potencial. Talvez o contacto com um país bastante mais desenvolvido e uma cultura bastante mais distante como a norueguesa me permita encontrar respostas para a minha perplexidade em relação a Portugal.
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Com este texto dou início à minha participação no Devaneios, de que sou leitora assídua há vários anos. Agradeço ao Max o convite, que representa para mim um estímulo e uma prova de confiança. Dentro de pouco tempo tenciono mudar-me para a Noruega. Perante tal decisão, dizia-me um amigo em tom de brincadeira que eu parecia estar a desenvolver uma estranha fixação por penínsulas, referindo-se às minhas origens ibéricas e à minha especialização na região dos Balcãs. É certo que os Balcãs não são propriamente uma península, facto de que o meu amigo estava consciente, sendo ele próprio da região. Ainda assim, o seu comentário não deixou de ser acertado. As periferias da Europa interessam-me muito mais do que o centro.
Quando comecei a estudar a região dos Balcãs, um dos motivos da minha escolha foi a vontade de me distanciar da realidade portuguesa e procurar compreender uma outra sobre a qual não sabia praticamente nada. O que tenho observado e aprendido permitiu-me ficar a conhecer Portugal bem melhor, enquanto que o facto de ser portuguesa, ou seja, oriunda de uma região periférica em termos europeus, acabou por constituir uma vantagem, tantos verifiquei serem os pontos em comum entre a nossa cultura e a cultura da região, apesar de percursos históricos completamente diferentes. Esses pontos comuns incluem, pela positiva, a afabilidade das pessoas, no gosto em receber, numa certa forma de gozar os pequenos prazeres da vida, mas também, pela negativa, a pobreza de espírito das respectivas elites, a facilidade com que situações de corrupção são encaradas como normais, o fatalismo, a tendência para a vitimização, etc. Tendo a possibilidade de contactar com uma realidade marcada por problemas muito mais profundos e difíceis de ultrapassar do que aqueles que se vivem em Portugal, confesso que por vezes me canso deste verdadeiro desporto nacional que é a auto-comiseração, mas tenho muita dificuldade em explicar o que está errado com este país, que parece ter tudo para dar certo, mas se revela sistematicamente incapaz de concretizar o seu potencial. Talvez o contacto com um país bastante mais desenvolvido e uma cultura bastante mais distante como a norueguesa me permita encontrar respostas para a minha perplexidade em relação a Portugal.