Respondendo às queixas de quem já considera o Devaneios demasiado parado, regressamos, em jeito de penitência, a um tema que sabemos interessar quem se queixou - o leste europeu.
E, nesse esforço de análise que vimos fazendo, tem faltado um olhar sobre a Moldávia, país que já tanto diz à matriz social portuguesa e, paradoxalmente, do qual tão pouco se fala por cá.Desde de 6 de Abril que os tumultos tomaram conta das ruas de Chişinău em consequência das eleições legislativas que, pela terceira vez seguida, deram a vitória ao Partido Comunista da Moldávia do Presidente Vladimir Voronin. O panorama tem sido, desde então, o comummente observável em todas as revoluções "coloridas" a que temos assistido no leste europeu e Cáucaso: os milhares de manifestantes, descontentes com os resultados de eleições quase sempre consideradas por eles fraudulentas, protestam invadindo órgãos de soberania e exigindo uma recontagem dos votos.Verdade ou não, o facto é que, por estes dias, o presidente tenta dominar a tensão das ruas falando ao país sempre pelos canais oficiais, para tanto fazendo uso, por exemplo, do Moldova Suverana, um site noticioso pró- Partido Comunista que, curiosamente ou talvez não, tem sido o único a funcionar sem interrupções por estes dias. Mas, talvez não seja de espantar.Senão vejamos: o diário romeno Cotidianul contava, há dias atrás, a situação de bloqueio de facto que a imprensa moldava atravessa, com editores a braços com a impossibilidade de acesso da população aos seus conteúdos por imposição de grande parte das empresas fornecedoras de internet. Por outro lado, o historial pouco democrático do Poder moldavo é conhecido. Em 2004, por exemplo e na sequência das eleições que deram vitória a este mesmo partido, o Senado norte americano notou a existência de um preocupante fenómeno de detenção e ameaça de candidatos políticos da Oposição bem como episódios de supressão de Liberdade de Imprensa e favoritismo da Imprensa estatal, não hesitando mesmo em fazer uso da expressão "autoritarismo moldavo".A Amnistia Internacional, por seu turno, fornece-nos casos concretos: entre muitos, refira-se o desaparecimento de Gheorghe Ionel, presidente de uma Câmara do partido da Oposição, visto pela última vez a ser forçado a entrar num veículo das autoridades por cerca de 20 agentes.É neste contexto que a imprensa romena - convenhamos, talvez assim não tão desinteressada - nota o advento da geração twitter e da possibilidade de partilha rápida de conteúdos. Enquanto o Presidente falava, na TV oficial, da necessidade de esmagar a "pugna de fascistas que procuravam a destruição do Estado", as mensagens rápidas circulavam e levavam à revolta.Contudo, os paralelismos políticos com outros casos que temos analisado no Devaneios não se ficam, apenas, pelos factores internos. A Rússia - que vem apoiando os separatistas da Transdnistria - território de jure moldavo mas de facto não controlado pelo Governo de Chişinău fala da necessidade de composição pacífica da altercação. Ito, ao mesmo tempo que Alexei Ostrovski - Responsável da Duma - Parlamento Russo -pelas questões da CEI - acusava os interesses ocidentais de estarem na base das revoltas moldavas, procurando obter mais outra «revolução colorida» (sic). A agência noticiosa estatal russa Interfax tem acusado, em particular, o Governo de Bucareste. O Presidente Moldavo, embalado na "sugestão" russa, tratou de prontamente expulsar o Embaixador Romeno Filip Teodorescu, reintroduzindo a obrigatoriedade de vistos para todos os cidadãos romenos.A Moldávia é mais um exemplo daquilo que a Comunidade Internacional tarda em querer ver na Rússia. Tudo em aberto, por estes dias, em Chişinău enquanto, à semelhança de Belgrado, Tiblissi, Kiev ou Bishek, se vai jogando mais uma peça do xadrez...
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Respondendo às queixas de quem já considera o Devaneios demasiado parado, regressamos, em jeito de penitência, a um tema que sabemos interessar quem se queixou - o leste europeu.
E, nesse esforço de análise que vimos fazendo, tem faltado um olhar sobre a Moldávia, país que já tanto diz à matriz social portuguesa e, paradoxalmente, do qual tão pouco se fala por cá.Desde de 6 de Abril que os tumultos tomaram conta das ruas de Chişinău em consequência das eleições legislativas que, pela terceira vez seguida, deram a vitória ao Partido Comunista da Moldávia do Presidente Vladimir Voronin. O panorama tem sido, desde então, o comummente observável em todas as revoluções "coloridas" a que temos assistido no leste europeu e Cáucaso: os milhares de manifestantes, descontentes com os resultados de eleições quase sempre consideradas por eles fraudulentas, protestam invadindo órgãos de soberania e exigindo uma recontagem dos votos.Verdade ou não, o facto é que, por estes dias, o presidente tenta dominar a tensão das ruas falando ao país sempre pelos canais oficiais, para tanto fazendo uso, por exemplo, do Moldova Suverana, um site noticioso pró- Partido Comunista que, curiosamente ou talvez não, tem sido o único a funcionar sem interrupções por estes dias. Mas, talvez não seja de espantar.Senão vejamos: o diário romeno Cotidianul contava, há dias atrás, a situação de bloqueio de facto que a imprensa moldava atravessa, com editores a braços com a impossibilidade de acesso da população aos seus conteúdos por imposição de grande parte das empresas fornecedoras de internet. Por outro lado, o historial pouco democrático do Poder moldavo é conhecido. Em 2004, por exemplo e na sequência das eleições que deram vitória a este mesmo partido, o Senado norte americano notou a existência de um preocupante fenómeno de detenção e ameaça de candidatos políticos da Oposição bem como episódios de supressão de Liberdade de Imprensa e favoritismo da Imprensa estatal, não hesitando mesmo em fazer uso da expressão "autoritarismo moldavo".A Amnistia Internacional, por seu turno, fornece-nos casos concretos: entre muitos, refira-se o desaparecimento de Gheorghe Ionel, presidente de uma Câmara do partido da Oposição, visto pela última vez a ser forçado a entrar num veículo das autoridades por cerca de 20 agentes.É neste contexto que a imprensa romena - convenhamos, talvez assim não tão desinteressada - nota o advento da geração twitter e da possibilidade de partilha rápida de conteúdos. Enquanto o Presidente falava, na TV oficial, da necessidade de esmagar a "pugna de fascistas que procuravam a destruição do Estado", as mensagens rápidas circulavam e levavam à revolta.Contudo, os paralelismos políticos com outros casos que temos analisado no Devaneios não se ficam, apenas, pelos factores internos. A Rússia - que vem apoiando os separatistas da Transdnistria - território de jure moldavo mas de facto não controlado pelo Governo de Chişinău fala da necessidade de composição pacífica da altercação. Ito, ao mesmo tempo que Alexei Ostrovski - Responsável da Duma - Parlamento Russo -pelas questões da CEI - acusava os interesses ocidentais de estarem na base das revoltas moldavas, procurando obter mais outra «revolução colorida» (sic). A agência noticiosa estatal russa Interfax tem acusado, em particular, o Governo de Bucareste. O Presidente Moldavo, embalado na "sugestão" russa, tratou de prontamente expulsar o Embaixador Romeno Filip Teodorescu, reintroduzindo a obrigatoriedade de vistos para todos os cidadãos romenos.A Moldávia é mais um exemplo daquilo que a Comunidade Internacional tarda em querer ver na Rússia. Tudo em aberto, por estes dias, em Chişinău enquanto, à semelhança de Belgrado, Tiblissi, Kiev ou Bishek, se vai jogando mais uma peça do xadrez...