"Filósofos, políticos, passo grave entre as muralhas da Biblioteca, um dia Xana veio-me ali chamar. Era tarde, não havia já ninguém, entre montanhas de papel. E a espantosa proliferação dos teorizadores, dos sábios que tiveram razão para a eternidade e já não tinham, dos poetas que dedilharam na lira a sua melancolia para a comoção da intimidade das virgens e que nos fazem rir. E dos doutores dos concílios, dos ascetas, dos pregadores. Dos historiadores, dos salvadores do Mundo, dos foliculários. Mas em cada momento do passado, a reunião em torno de uma verdade como um bolo, tomai e comei. Levava-se para casa a fatia da ciência, da arte - e agora? Da explicação das causas e dos fins, da ordenação dos costumes, da regulamentação do choro e do riso, desde a melancolia do entardecer ao ranger do dente na treva, desde a distensão aérea dos lábios ao riso bronco e pançudo - e agora? Estou parado à varanda dos quatro pontos cardeais."in 'Para Sempre', Vergílio Ferreira
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"Filósofos, políticos, passo grave entre as muralhas da Biblioteca, um dia Xana veio-me ali chamar. Era tarde, não havia já ninguém, entre montanhas de papel. E a espantosa proliferação dos teorizadores, dos sábios que tiveram razão para a eternidade e já não tinham, dos poetas que dedilharam na lira a sua melancolia para a comoção da intimidade das virgens e que nos fazem rir. E dos doutores dos concílios, dos ascetas, dos pregadores. Dos historiadores, dos salvadores do Mundo, dos foliculários. Mas em cada momento do passado, a reunião em torno de uma verdade como um bolo, tomai e comei. Levava-se para casa a fatia da ciência, da arte - e agora? Da explicação das causas e dos fins, da ordenação dos costumes, da regulamentação do choro e do riso, desde a melancolia do entardecer ao ranger do dente na treva, desde a distensão aérea dos lábios ao riso bronco e pançudo - e agora? Estou parado à varanda dos quatro pontos cardeais."in 'Para Sempre', Vergílio Ferreira