Devaneios Desintéricos: portugalidade

21-01-2012
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O orgulho pátrio tem destas coisas: não se cinge a uma qualquer bandeira colocada numa qualquer varanda porque o Filipão mandou. Galvaniza-se, também, com a Inauguração do Novo Campo Pequeno. Sintomático e simbólico da pequenez de um país. Há uns tempos, aquando da discussão de Barrancos, o país colocou-se diante de um dilema: dar sustento legal à mais abjecta barbárie, travestindo-a de "especifidade cultural" local ou, noutro sentido, apostar no proibicionismo de uma prática que as mentes urbanas viam como uma sinistra forma de bajular o sofrimento de um animal. Cedo se ergueram os defensores do integralismo, alguns deles dentro da própria esquerda, clamando pela ofensa à "portugalidade" de um povo. Guterres e Sampaio, na senda de uma Justiça impotente, cornearam décadas de progresso civilizacional ao aprovar o Estatuto especial para Barrancos que foi, como se imaginava, copiado por todo o país. Mas o que é isto, então, "portugalidade"? A inauguração do Campo Pequeno dá-nos uma pista assaz conclusiva. A RTP transmitiu como acontecimento nacional a inauguração de uma Praça de Touros em plena urbe, num espectáculo decadente de pimbalhada tauromáquica ou não tivesse Filipe La Féria produzido mais um dos seus shows cheio de dançarin@s exóticos. Houve passadeiras vermelhas, muito perfume, flashes e flama. Entrevistas a cavalheiros de botão de punho de ouro e a damas de estonteantes vestidos de noite. Ao contrário de Barrancos, aqui existia a "limpeza e asseio civilizacional" da urbe. A rudeza boçal da populaça substuída integralmente pela "façon de vivre" das "boas gentes", clamando aos quatro ventos o inquestionável «carácter cultural» da inauguração de um centro comercial com uma Praça de Touros. Sintomático e simbólico da "portugalidade" em pleno século XXI: não abandonamos a inqualificável barbárie. Simplesmente, ornamentamo-la com a única modernidade que o Povo português parece conhecer: o fast food e a escada rolante.Daqui a uns dias não se esqueçam de, orgulhosamente e de peito inchado, colocarem a vossa bandeirita nos carros e nas varandas...MSD


O orgulho pátrio tem destas coisas: não se cinge a uma qualquer bandeira colocada numa qualquer varanda porque o Filipão mandou. Galvaniza-se, também, com a Inauguração do Novo Campo Pequeno. Sintomático e simbólico da pequenez de um país. Há uns tempos, aquando da discussão de Barrancos, o país colocou-se diante de um dilema: dar sustento legal à mais abjecta barbárie, travestindo-a de "especifidade cultural" local ou, noutro sentido, apostar no proibicionismo de uma prática que as mentes urbanas viam como uma sinistra forma de bajular o sofrimento de um animal. Cedo se ergueram os defensores do integralismo, alguns deles dentro da própria esquerda, clamando pela ofensa à "portugalidade" de um povo. Guterres e Sampaio, na senda de uma Justiça impotente, cornearam décadas de progresso civilizacional ao aprovar o Estatuto especial para Barrancos que foi, como se imaginava, copiado por todo o país. Mas o que é isto, então, "portugalidade"? A inauguração do Campo Pequeno dá-nos uma pista assaz conclusiva. A RTP transmitiu como acontecimento nacional a inauguração de uma Praça de Touros em plena urbe, num espectáculo decadente de pimbalhada tauromáquica ou não tivesse Filipe La Féria produzido mais um dos seus shows cheio de dançarin@s exóticos. Houve passadeiras vermelhas, muito perfume, flashes e flama. Entrevistas a cavalheiros de botão de punho de ouro e a damas de estonteantes vestidos de noite. Ao contrário de Barrancos, aqui existia a "limpeza e asseio civilizacional" da urbe. A rudeza boçal da populaça substuída integralmente pela "façon de vivre" das "boas gentes", clamando aos quatro ventos o inquestionável «carácter cultural» da inauguração de um centro comercial com uma Praça de Touros. Sintomático e simbólico da "portugalidade" em pleno século XXI: não abandonamos a inqualificável barbárie. Simplesmente, ornamentamo-la com a única modernidade que o Povo português parece conhecer: o fast food e a escada rolante.Daqui a uns dias não se esqueçam de, orgulhosamente e de peito inchado, colocarem a vossa bandeirita nos carros e nas varandas...MSD

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