Daqui
Felizmente que as manifestações, de hoje, dos alunos dos ensinos básico e secundário não excederam, por local de concentração, mais que umas escassas dezenas de estudantes.
Mesmo assim, são, pela natureza da agenda reivindicativa, um preocupante indicador da influência que o modelo pedagógico consubstanciado no eduquês vai exercendo sobre as novas gerações de estudantes, muitos dos quais endoutrinados, em casa e nas escolas, por uma cultura laxista e complacente com a baixa exigência e a desvaloração do trabalho.
No essencial, os alunos manifestaram-se contra:
- as medidas que, no estatuto do aluno, devolvem alguma autoridade às escolas e aos professores, na tentativa de se poder penalizar e estancar o desrespeito por professores e colegas, a indisciplina e a violência, pois apenas, nestas situações, se aplicam "suspensões e expulsões" (estas últimas para casos de extrema gravidade que têm subjacente condutas que, certamente, os dirigentes associativos não sancionarão);
- a existência (no meu entender, ainda insuficiente) de exames nacionais, pugnando apenas pela avaliação traduzida nas classificações internas, com o argumento peregrino que os exames «põe em causa a avaliação contínua e barram a entrada de muitos [estudantes] no ensino superior».
Ora, os exames também são um instrumento de avaliação que afere o conhecimento que os alunos adquiriram dos conteúdos das disciplinas, permitindo diferenciar no espectro classificativo aqueles que mais sabem daqueles que menos sabem. Ou não é justo que os professores que mais se empenharam a ensinar e os alunos que mais estudaram e estão melhor preparados vejam o seu trabalho reconhecido e valorizado pelos resultados obtidos nos exames?
E esquecem estes alunos que os exames nacionais permitem alguma correcção de eventuais facilitações, negligenciações ou favorecimentos ocorridos na atribuição de classificações a alguns alunos, em algumas turmas e em algumas escolas (mesmo privadas), travando o descalabro de algumas situações de atribuição indiscriminada das classificações mais elevadas, com óbvia injustiça para os alunos que mais se esforçaram. Além de tudo isto, a introdução de exames nacionais tem um efeito mobilizador de professores e de alunos, respectivamente, para um ensino melhor preparado e para o estudo.
Finalmente, a esmagadora maioria dos alunos do ensino secundário não vê, hoje, barrado o seu acesso à universidade, uma vez que até se entra com médias baixíssimas. O que acontece é o facto de alguns alunos não entrarem nos cursos mais concorridos, mas esta contingência é inultrapassável, pois as vagas são limitadas e se o critério não for o da primazia aos melhores alunos, então que critério deveria ser? E a qualidade de melhores alunos também se afere nos exames nacionais.
Aquilo que os alunos deveriam reivindicar era a valorização e o reconhecimento justo, nas escolas, do esforço, do empenho e do trabalho, caso contrário será a qualificação, o desenvolvimento e a competitividade do país que continuarão nas ruas da amargura.
Não é por acaso que Portugal é um caso raro a nível mundial de quase ausência de crescimento económico, naquilo que foi uma década absolutamente desbaratada. E com as novas oportunidades a certificarem quase coisa nenhuma e a exigência nas escolas a ser reivindicada e progressivamente desmantelada, é uma evidência que a escola não vai no rumo que permita contrariar a nossa crescente indigência económica.
Só me espanta que estes alunos não tenham reivindicado o fim dos chumbos em todos os níveis de ensino e a proibição de atribuição de classificações inferiores a 16 valores.
Aguardam-se mais desenvolvimentos, protagonizados pelos novos guardiões das dinâmicas do eduquês.
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Felizmente que as manifestações, de hoje, dos alunos dos ensinos básico e secundário não excederam, por local de concentração, mais que umas escassas dezenas de estudantes.
Mesmo assim, são, pela natureza da agenda reivindicativa, um preocupante indicador da influência que o modelo pedagógico consubstanciado no eduquês vai exercendo sobre as novas gerações de estudantes, muitos dos quais endoutrinados, em casa e nas escolas, por uma cultura laxista e complacente com a baixa exigência e a desvaloração do trabalho.
No essencial, os alunos manifestaram-se contra:
- as medidas que, no estatuto do aluno, devolvem alguma autoridade às escolas e aos professores, na tentativa de se poder penalizar e estancar o desrespeito por professores e colegas, a indisciplina e a violência, pois apenas, nestas situações, se aplicam "suspensões e expulsões" (estas últimas para casos de extrema gravidade que têm subjacente condutas que, certamente, os dirigentes associativos não sancionarão);
- a existência (no meu entender, ainda insuficiente) de exames nacionais, pugnando apenas pela avaliação traduzida nas classificações internas, com o argumento peregrino que os exames «põe em causa a avaliação contínua e barram a entrada de muitos [estudantes] no ensino superior».
Ora, os exames também são um instrumento de avaliação que afere o conhecimento que os alunos adquiriram dos conteúdos das disciplinas, permitindo diferenciar no espectro classificativo aqueles que mais sabem daqueles que menos sabem. Ou não é justo que os professores que mais se empenharam a ensinar e os alunos que mais estudaram e estão melhor preparados vejam o seu trabalho reconhecido e valorizado pelos resultados obtidos nos exames?
E esquecem estes alunos que os exames nacionais permitem alguma correcção de eventuais facilitações, negligenciações ou favorecimentos ocorridos na atribuição de classificações a alguns alunos, em algumas turmas e em algumas escolas (mesmo privadas), travando o descalabro de algumas situações de atribuição indiscriminada das classificações mais elevadas, com óbvia injustiça para os alunos que mais se esforçaram. Além de tudo isto, a introdução de exames nacionais tem um efeito mobilizador de professores e de alunos, respectivamente, para um ensino melhor preparado e para o estudo.
Finalmente, a esmagadora maioria dos alunos do ensino secundário não vê, hoje, barrado o seu acesso à universidade, uma vez que até se entra com médias baixíssimas. O que acontece é o facto de alguns alunos não entrarem nos cursos mais concorridos, mas esta contingência é inultrapassável, pois as vagas são limitadas e se o critério não for o da primazia aos melhores alunos, então que critério deveria ser? E a qualidade de melhores alunos também se afere nos exames nacionais.
Aquilo que os alunos deveriam reivindicar era a valorização e o reconhecimento justo, nas escolas, do esforço, do empenho e do trabalho, caso contrário será a qualificação, o desenvolvimento e a competitividade do país que continuarão nas ruas da amargura.
Não é por acaso que Portugal é um caso raro a nível mundial de quase ausência de crescimento económico, naquilo que foi uma década absolutamente desbaratada. E com as novas oportunidades a certificarem quase coisa nenhuma e a exigência nas escolas a ser reivindicada e progressivamente desmantelada, é uma evidência que a escola não vai no rumo que permita contrariar a nossa crescente indigência económica.
Só me espanta que estes alunos não tenham reivindicado o fim dos chumbos em todos os níveis de ensino e a proibição de atribuição de classificações inferiores a 16 valores.
Aguardam-se mais desenvolvimentos, protagonizados pelos novos guardiões das dinâmicas do eduquês.