Octávio V. Gonçalves: Poucas-vergonhas

24-01-2012
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Por força da minha formação inicial em Filosofia, cresci académica e identitariamente no cultivo da ironia e da maiêutica socráticas (de Sócrates, o autêntico), valorizando o criticismo que decorre da dúvida e do questionamento permanente, mesmo que incómodo, como a essência da minha actividade intelectual e da minha ipseidade.
Como tal, é-me simultaneamente penoso e inquietante assistir a um pretenso debate, ocorrido, ontem, na Edição da Noite da SICN, em que, além da ausência de contraditório e da concomitante intencionalidade clara de atacar Passos Coelho e redimir, até à mais nojenta desresponsabilização, Sócrates, se monta um simulacro de debate para censurar quem legitimamente questiona (não é vital conhecer todos os dados para acordar e, posteriormente, para governar?) e defender um Governo que reiteradamente mente e sonega informação à Assembleia da República, aos partidos, aos portugueses e aos próprios jornalistas.

Que tipo de jornalistas se indigna com a colocação de questões e que hierarquia ou escala de valores é a de comentaristas que sobrepõem a manipulação, os truques e o desconhecimento ao questionamento, ao esclarecimento e à desocultação da realidade e da verdade?
Num dia em que surgiram fortes indícios de o Governo ter incorrido em práticas fiscalmente criminosas (reter o IRS), como forma de encobrir e desencravar erros próprios, o instinto jornalístico destes cavalheiros foge-lhes  para a recriminação pública do questionamento e do apuramento de responsabilidades?
Vossas Excelências não têm vergonha do exemplo que passam aos jovens e daquilo que são e representam, enquanto guardiões da inautenticidade, da opacidade e da complacência com a mentira e a irresponsabilidade?

Como não resisto ao impulso e à atracção das questões, permitam-me que conclua este texto-desabafo com quatro perguntas muito despretensiosas e relativamente às quais nem sequer nutro a expectativa de resposta:
1. Nunca votei ou votaria em Sócrates e, no entanto, fui roubado em 150 euros mensais do rendimento do meu trabalho para suportar as consequências de políticas desastrosas que nunca aprovei ou defendi. Vossas Excelências que, certamente, votaram em Sócrates e andaram anos a fio a pôr as mãos por debaixo do rabo destas políticas (continua a cheirar-vos bem o que escreveram?), podiam dizer-nos qual é o montante do vosso sacrifício e do vosso contributo mensal para pagar os custos desta aventura irresponsável de Sócrates?
2. Sentem-se confortáveis como jornalistas, que são ou foram, no papel de censuradores de quem questiona e de quem procura conhecer as realidades em todas as suas dimensões? O vosso jornalismo é mais de causas e de encomendas?
3. Não consideram que seja obrigação estrita de um Governo fornecer toda a informação às instituições e aos partidos da oposição ou preferem as mentiras e o dito por não dito que tem caracterizado a chegada dos partidos à governação do país, sem o conhecimento prévio da real situação do Estado?
4. Defendem, porventura, para a governação do Estado, a mesma ligeireza e arbitrariedade de actuação como aquela que tem sido a pedra de toque de Vossas Excelências, sempre que se referem, em estado de ignorância absoluta, à avaliação dos professores?

No passado, havia fogueiras e dispositivos de tortura para aqueles que ousavam perguntar. Agora, parece que existem os "jornalistas" Helena Garrido, Nicolau Santos e Costa Pinto para atacar, imbecilmente, quem coloca questões. Apesar de tudo, sempre é um salto civilizacional.
Parece que Kadhafi e Mubarak também não apreciavam/apreciam questões.


Por força da minha formação inicial em Filosofia, cresci académica e identitariamente no cultivo da ironia e da maiêutica socráticas (de Sócrates, o autêntico), valorizando o criticismo que decorre da dúvida e do questionamento permanente, mesmo que incómodo, como a essência da minha actividade intelectual e da minha ipseidade.
Como tal, é-me simultaneamente penoso e inquietante assistir a um pretenso debate, ocorrido, ontem, na Edição da Noite da SICN, em que, além da ausência de contraditório e da concomitante intencionalidade clara de atacar Passos Coelho e redimir, até à mais nojenta desresponsabilização, Sócrates, se monta um simulacro de debate para censurar quem legitimamente questiona (não é vital conhecer todos os dados para acordar e, posteriormente, para governar?) e defender um Governo que reiteradamente mente e sonega informação à Assembleia da República, aos partidos, aos portugueses e aos próprios jornalistas.

Que tipo de jornalistas se indigna com a colocação de questões e que hierarquia ou escala de valores é a de comentaristas que sobrepõem a manipulação, os truques e o desconhecimento ao questionamento, ao esclarecimento e à desocultação da realidade e da verdade?
Num dia em que surgiram fortes indícios de o Governo ter incorrido em práticas fiscalmente criminosas (reter o IRS), como forma de encobrir e desencravar erros próprios, o instinto jornalístico destes cavalheiros foge-lhes  para a recriminação pública do questionamento e do apuramento de responsabilidades?
Vossas Excelências não têm vergonha do exemplo que passam aos jovens e daquilo que são e representam, enquanto guardiões da inautenticidade, da opacidade e da complacência com a mentira e a irresponsabilidade?

Como não resisto ao impulso e à atracção das questões, permitam-me que conclua este texto-desabafo com quatro perguntas muito despretensiosas e relativamente às quais nem sequer nutro a expectativa de resposta:
1. Nunca votei ou votaria em Sócrates e, no entanto, fui roubado em 150 euros mensais do rendimento do meu trabalho para suportar as consequências de políticas desastrosas que nunca aprovei ou defendi. Vossas Excelências que, certamente, votaram em Sócrates e andaram anos a fio a pôr as mãos por debaixo do rabo destas políticas (continua a cheirar-vos bem o que escreveram?), podiam dizer-nos qual é o montante do vosso sacrifício e do vosso contributo mensal para pagar os custos desta aventura irresponsável de Sócrates?
2. Sentem-se confortáveis como jornalistas, que são ou foram, no papel de censuradores de quem questiona e de quem procura conhecer as realidades em todas as suas dimensões? O vosso jornalismo é mais de causas e de encomendas?
3. Não consideram que seja obrigação estrita de um Governo fornecer toda a informação às instituições e aos partidos da oposição ou preferem as mentiras e o dito por não dito que tem caracterizado a chegada dos partidos à governação do país, sem o conhecimento prévio da real situação do Estado?
4. Defendem, porventura, para a governação do Estado, a mesma ligeireza e arbitrariedade de actuação como aquela que tem sido a pedra de toque de Vossas Excelências, sempre que se referem, em estado de ignorância absoluta, à avaliação dos professores?

No passado, havia fogueiras e dispositivos de tortura para aqueles que ousavam perguntar. Agora, parece que existem os "jornalistas" Helena Garrido, Nicolau Santos e Costa Pinto para atacar, imbecilmente, quem coloca questões. Apesar de tudo, sempre é um salto civilizacional.
Parece que Kadhafi e Mubarak também não apreciavam/apreciam questões.

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