Octávio V. Gonçalves: É pró menino e prá menina

30-06-2011
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Mesmo descontando os problemas de dicção e as já referenciadas dificuldades de construção sintáctica e de estruturação frásica, que nem seriam graves se não estivéssemos perante uma escritora, uma professora e uma ministra da Educação, esta declaração de Isabel Alçada é bem provável que venha a constituir-se como um exemplo paradigmático do que não deve ser uma comunicação eficaz e bem estruturada, pelo menos na base das seguintes razões:
- mistura caoticamente os públicos-alvo a que se dirige, entre "meninos" e "professores", sem que ocorra alteração do registo infantilizado da postura e da mensagem;
- secundarizou, absolutamente, a função e a relevância dos professores, para já não falar de um certo desprezo pelas famílias ("e até") e pela responsabilização dos encarregados de educação;
- Isabel Alçada não é apenas ministra dos jardins-de-infância e das escolas do 1º ciclo, sendo o tom e o conteúdo da mensagem recebido e interpretado pelos alunos do ensino secundário, por exemplo, como absolutamente pueril e ridículo;
- mesmo que sem intencionalidade subjacente, menorizou o estatuto intelectual e o nível de desenvolvimento cognitivo e emocional de uma parte significativa dos alunos portugueses que já não respondem àquele tipo de denotação, de argumentação e de afectividade maternal;
- a ministra levou longe de mais a tentativa de dessacralização do poder e da responsabilidade da figura institucional que representa, incorrendo numa desnecessária infantilização e banalização do discurso e veiculando uma imagem de negligenciação pedagógica e motivacional, tendo em conta tratar-se de um discurso de uma ministra da Educação que se dirigia aos agentes educativos, no início de um novo ano lectivo;
- do ponto de vista estrito do conteúdo do discurso, as analogias e os argumentos utilizados para suportar a importância do estudo são de uma indigência confrangedora, confundindo meios e fins (o desenvolvimento cerebral não é um fim em si mesmo), e de muito limitada dinâmica motivacional (ninguém estuda com a finalidade de realizar uma espécie de fitness cerebral);
- em consequência de tudo isto, a comunicação social e a blogosfera sacrificaram o conteúdo da mensagem à forma e, sobretudo, à sua redutora exposição picaresca, o que o esvazia de qualquer eficácia pedagógica, uma vez reduzida a mensagem às incidências caricatas da peça que a suporta.


Mesmo descontando os problemas de dicção e as já referenciadas dificuldades de construção sintáctica e de estruturação frásica, que nem seriam graves se não estivéssemos perante uma escritora, uma professora e uma ministra da Educação, esta declaração de Isabel Alçada é bem provável que venha a constituir-se como um exemplo paradigmático do que não deve ser uma comunicação eficaz e bem estruturada, pelo menos na base das seguintes razões:
- mistura caoticamente os públicos-alvo a que se dirige, entre "meninos" e "professores", sem que ocorra alteração do registo infantilizado da postura e da mensagem;
- secundarizou, absolutamente, a função e a relevância dos professores, para já não falar de um certo desprezo pelas famílias ("e até") e pela responsabilização dos encarregados de educação;
- Isabel Alçada não é apenas ministra dos jardins-de-infância e das escolas do 1º ciclo, sendo o tom e o conteúdo da mensagem recebido e interpretado pelos alunos do ensino secundário, por exemplo, como absolutamente pueril e ridículo;
- mesmo que sem intencionalidade subjacente, menorizou o estatuto intelectual e o nível de desenvolvimento cognitivo e emocional de uma parte significativa dos alunos portugueses que já não respondem àquele tipo de denotação, de argumentação e de afectividade maternal;
- a ministra levou longe de mais a tentativa de dessacralização do poder e da responsabilidade da figura institucional que representa, incorrendo numa desnecessária infantilização e banalização do discurso e veiculando uma imagem de negligenciação pedagógica e motivacional, tendo em conta tratar-se de um discurso de uma ministra da Educação que se dirigia aos agentes educativos, no início de um novo ano lectivo;
- do ponto de vista estrito do conteúdo do discurso, as analogias e os argumentos utilizados para suportar a importância do estudo são de uma indigência confrangedora, confundindo meios e fins (o desenvolvimento cerebral não é um fim em si mesmo), e de muito limitada dinâmica motivacional (ninguém estuda com a finalidade de realizar uma espécie de fitness cerebral);
- em consequência de tudo isto, a comunicação social e a blogosfera sacrificaram o conteúdo da mensagem à forma e, sobretudo, à sua redutora exposição picaresca, o que o esvazia de qualquer eficácia pedagógica, uma vez reduzida a mensagem às incidências caricatas da peça que a suporta.

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