Octávio V. Gonçalves: Yo no credo en "escutas" pero que las hay, las hay

03-07-2011
marcar artigo


In Expresso, 25/09/2009Mesmo dando de barato que a gestão do "caso das escutas", tal como tem vindo a ser feita por Cavaco Silva, assume contornos de inesperado amadorismo e tende a prejudicar eleitoralmente o PSD, o problema é que existe aqui um fundo de verdade, sob a forma de condicionamento pelo rumor e pela casca de banana (para quem se deixa escorregar, como foi o caso do presidente da República).Por um lado, é verdade que Cavaco Silva nem ata nem desata, deixando sinais e gestos contraditórios que, no essencial, foram aproveitados pelos homens de mão de Sócrates para desacreditar a tese da asfixia democrática do PSD (mesmo sendo inegável que existe condicionamento democrático de facto, e os exemplos abundam).Mas o crucial destes processos, como, aliás, já ocorreu no caso dos magistrados que investigam o Freeport, é fazer-se passar a ideia e alimentar o rumor de que estas entidades podem estar sob escuta (mesmo que na prática não o estejam de facto), pois dessa forma atinge-se o objectivo desejado, isto é, lançar a incerteza e a crença na possibilidade de que se pode estar a ser escutado e, dessa forma, limitar-se o campo de actuação desses actores. Ou será que é assim tão transcendente perceber a estratégia que tem sido montada nas situações incómodas para Sócrates e que passam pelo cerceamento, de forma mais directa ou mais indirecta, da liberdade de actuação daqueles que se lhe opõem?O que é absolutamente lastimável é que os portugueses venham a premiar, eleitoralmente, as estratégias do condicionamento da comunicação social, do condicionamento das magistraturas, da humilhação pública dos professores (1), da provocação de outros órgãos de soberania, do ataque troglodita ao funcionalismo público, das mentiras e das promessas por cumprir.Para acabarmos assim talvez nos devêssemos questionar se terá valido a pena o 25 de Abril.(1) Parece que há por aí uma minoria de colegas que se excitam com afrontas, assim como há alguns políticos que se afirmam do lado dos professores, indo, pela manhã, às escolas defender os docentes, para à noite se mostrarem agradados com a vitória de Sócrates - vejam-se as declarações de quem por estratégia política e por sedução do poder acaba por mandar às malvas as concepções e os princípios, com base nos quais fizeram (e bem) uma oposição encarniçada a Sócrates e ao que ele representa. Afirmou, ontem, Marisa Matias do BE: "O risco não é a vitória de José Sócrates". Olhe que para os professores é, exactamente, esse o risco.


In Expresso, 25/09/2009Mesmo dando de barato que a gestão do "caso das escutas", tal como tem vindo a ser feita por Cavaco Silva, assume contornos de inesperado amadorismo e tende a prejudicar eleitoralmente o PSD, o problema é que existe aqui um fundo de verdade, sob a forma de condicionamento pelo rumor e pela casca de banana (para quem se deixa escorregar, como foi o caso do presidente da República).Por um lado, é verdade que Cavaco Silva nem ata nem desata, deixando sinais e gestos contraditórios que, no essencial, foram aproveitados pelos homens de mão de Sócrates para desacreditar a tese da asfixia democrática do PSD (mesmo sendo inegável que existe condicionamento democrático de facto, e os exemplos abundam).Mas o crucial destes processos, como, aliás, já ocorreu no caso dos magistrados que investigam o Freeport, é fazer-se passar a ideia e alimentar o rumor de que estas entidades podem estar sob escuta (mesmo que na prática não o estejam de facto), pois dessa forma atinge-se o objectivo desejado, isto é, lançar a incerteza e a crença na possibilidade de que se pode estar a ser escutado e, dessa forma, limitar-se o campo de actuação desses actores. Ou será que é assim tão transcendente perceber a estratégia que tem sido montada nas situações incómodas para Sócrates e que passam pelo cerceamento, de forma mais directa ou mais indirecta, da liberdade de actuação daqueles que se lhe opõem?O que é absolutamente lastimável é que os portugueses venham a premiar, eleitoralmente, as estratégias do condicionamento da comunicação social, do condicionamento das magistraturas, da humilhação pública dos professores (1), da provocação de outros órgãos de soberania, do ataque troglodita ao funcionalismo público, das mentiras e das promessas por cumprir.Para acabarmos assim talvez nos devêssemos questionar se terá valido a pena o 25 de Abril.(1) Parece que há por aí uma minoria de colegas que se excitam com afrontas, assim como há alguns políticos que se afirmam do lado dos professores, indo, pela manhã, às escolas defender os docentes, para à noite se mostrarem agradados com a vitória de Sócrates - vejam-se as declarações de quem por estratégia política e por sedução do poder acaba por mandar às malvas as concepções e os princípios, com base nos quais fizeram (e bem) uma oposição encarniçada a Sócrates e ao que ele representa. Afirmou, ontem, Marisa Matias do BE: "O risco não é a vitória de José Sócrates". Olhe que para os professores é, exactamente, esse o risco.

marcar artigo