Jornal "I", 16-01-2012
Enquanto partidário de todas as liberdades, não me incomoda nada que cada professor, como qualquer outro cidadão, decida fazer as formações que lhe aprouver e espatifar, como o entender, o seu próprio dinheiro.
Além do mais, a incorporação de saberes e de competências pode sempre constituir um fator de desenvolvimento pessoal, mesmo que a formação obtida não conduza, na prática, a qualquer tipo de reconhecimento profissional, mercê do interminável e entorpecedor inverno que se instalou na carreira dos professores.
De qualquer forma, a situação para que a notícia remete devia levar-nos a refletir sobre o estado em que seis desgraçados anos de socratismo deixaram a escola pública e, especificamente, a formação contínua de professores.
Desde 2008 que, em nome do promíscuo casamento socialista entre um ímpeto controleiro, um desinvestimento na educação, um deslumbramento tecnológico inconsequente e um desejo de planificação centralizada, se destruiu a autonomia dos centros de formação e se paralisaram as suas atividades, acabando-se com a diversidade e a regularidade das ofertas formativas. De tal forma, que a formação contínua direta ou indiretamente proporcionada pelo MEC é quase inexistente e desligada das lacunas pedagógicas e didáticas diagnosticadas pelos professores, em si próprios e em cada escola.
Todavia, esta procura da formação obrigatória fora das escolas e dos centros de formação, e, como tal, paga, não corresponde, na maioria dos casos, a necessidades genuínas de formação e a projetos articulados com a docência, antes a um espírito de se procurar "ser mais papista que o Papa" e obter uma qualquer vantagem (que ninguém vislumbra) ou de receio infundado de ser prejudicado na avaliação ou de ser ultrapassado pelos colegas, uma vez que o docente não é obrigado a pagar a sua formação contínua, devendo apenas fundamentar a inexistência de oferta formativa ou a não seleção para a frequência daquela que tenha sido oferecida.
Se, neste país, até os funcionários do Banco de Portugal têm um subsídio anual para aquisição de livros, material informático, automóveis e segundas habitações, será que os professores, vergastados com cortes nos seus salários, congelamentos das suas progressões e confisco dos seus subsídios, ainda têm uma particular disponibilidade e voluntariedade para reduzirem mais os seus rendimentos e para se mortificarem com formações que, no fundamental, são iscos por medida e de que não tiram qualquer proveito pedagógico, didático e de compensação na carreira?
Será que aquilo que os move é só o receio de poderem vir a progredir (antecipando um qualquer descongelamento que ninguém vislumbra para esta década) ou a prudência em se precaverem relativamente a qualquer possibilidade de competição virtual com os colegas ou, mesmo, uma ambição de colecionar mais certificados?
Eu, pela minha parte, não pago nenhuma formação contínua obrigatória, nem que chamem o MEC!
Além da necessidade de reabilitação dos centros de formação e da urgência no estabelecimento de protocolos entre o MEC e as universidades, era fundamental que os centros de formação também funcionassem como centros de certificação dos planos pessoais e autodidatas de formação, para aqueles professores que investem, em tempo, em artigos científicos, em livros, em projetos ou em pesquisas/investigações, na sua própria atualização pedagógica e científica.
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Jornal "I", 16-01-2012
Enquanto partidário de todas as liberdades, não me incomoda nada que cada professor, como qualquer outro cidadão, decida fazer as formações que lhe aprouver e espatifar, como o entender, o seu próprio dinheiro.
Além do mais, a incorporação de saberes e de competências pode sempre constituir um fator de desenvolvimento pessoal, mesmo que a formação obtida não conduza, na prática, a qualquer tipo de reconhecimento profissional, mercê do interminável e entorpecedor inverno que se instalou na carreira dos professores.
De qualquer forma, a situação para que a notícia remete devia levar-nos a refletir sobre o estado em que seis desgraçados anos de socratismo deixaram a escola pública e, especificamente, a formação contínua de professores.
Desde 2008 que, em nome do promíscuo casamento socialista entre um ímpeto controleiro, um desinvestimento na educação, um deslumbramento tecnológico inconsequente e um desejo de planificação centralizada, se destruiu a autonomia dos centros de formação e se paralisaram as suas atividades, acabando-se com a diversidade e a regularidade das ofertas formativas. De tal forma, que a formação contínua direta ou indiretamente proporcionada pelo MEC é quase inexistente e desligada das lacunas pedagógicas e didáticas diagnosticadas pelos professores, em si próprios e em cada escola.
Todavia, esta procura da formação obrigatória fora das escolas e dos centros de formação, e, como tal, paga, não corresponde, na maioria dos casos, a necessidades genuínas de formação e a projetos articulados com a docência, antes a um espírito de se procurar "ser mais papista que o Papa" e obter uma qualquer vantagem (que ninguém vislumbra) ou de receio infundado de ser prejudicado na avaliação ou de ser ultrapassado pelos colegas, uma vez que o docente não é obrigado a pagar a sua formação contínua, devendo apenas fundamentar a inexistência de oferta formativa ou a não seleção para a frequência daquela que tenha sido oferecida.
Se, neste país, até os funcionários do Banco de Portugal têm um subsídio anual para aquisição de livros, material informático, automóveis e segundas habitações, será que os professores, vergastados com cortes nos seus salários, congelamentos das suas progressões e confisco dos seus subsídios, ainda têm uma particular disponibilidade e voluntariedade para reduzirem mais os seus rendimentos e para se mortificarem com formações que, no fundamental, são iscos por medida e de que não tiram qualquer proveito pedagógico, didático e de compensação na carreira?
Será que aquilo que os move é só o receio de poderem vir a progredir (antecipando um qualquer descongelamento que ninguém vislumbra para esta década) ou a prudência em se precaverem relativamente a qualquer possibilidade de competição virtual com os colegas ou, mesmo, uma ambição de colecionar mais certificados?
Eu, pela minha parte, não pago nenhuma formação contínua obrigatória, nem que chamem o MEC!
Além da necessidade de reabilitação dos centros de formação e da urgência no estabelecimento de protocolos entre o MEC e as universidades, era fundamental que os centros de formação também funcionassem como centros de certificação dos planos pessoais e autodidatas de formação, para aqueles professores que investem, em tempo, em artigos científicos, em livros, em projetos ou em pesquisas/investigações, na sua própria atualização pedagógica e científica.