Octávio V. Gonçalves: POESIA INSPIRADORA EM TEMPOS DE CONTESTAÇÃO

22-01-2012
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"Congresso Internacional do Medo"Provisoriamente não cantaremos o amor,que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,não cantaremos o ódio porque esse não existe,existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,o medo dos soldados, o medo das mães, o medo dasigrejas,cantaremos o medo dos ditadores, o medo dosdemocratas,cantaremos o medo da morte e o medo de depois damorte,depois morreremos de medoe sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas emedrosas.Carlos Drummond de Andrade.Poema Pouco Original do MedoO medo vai ter tudopernasambulânciase o luxo blindadode alguns automóveisVai ter olhos onde ninguém o vejamãozinhas cautelosasenredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no tectono murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidosO medo vai ter tudo fantasmas na óperasessões contínuas de espiritismomilagrescortejosfrases corajosasmeninas exemplaresseguras casas de penhormaliciosas casas de passeconferências váriascongressos muitosóptimos empregospoemas originaise poemas como esteprojectos altamente porcos heróis(o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários(assim assim)escriturários(muitos)intelectuais(o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a delesVai ter capitaispaísessuspeitas como toda a gentemuitíssimos amigosbeijosnamorados esverdeadosamantes silenciososardentese angustiadosAh o medo vai ter tudo tudo(Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer)O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratosSima ratosAlexandre O'Neill.Há homens que lutam um dia, e são bons;Há outros que lutam um ano, e são melhores;Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;Porém há os que lutam toda a vida.Estes são os imprescindíveis.Bertold Brecht.Elogio da DialécticaA injustiça avança hoje a passo firmeOs tiranos fazem planos para dez mil anosO poder apregoa: as coisas continuarão a ser como sãoNenhuma voz além da dos que mandamE em todos os mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começoMas entre os oprimidos muitos há que agora dizemAquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremosQuem ainda está vivo não diga: nuncaO que é seguro não é seguroAs coisas não continuarão a ser como sãoDepois de falarem os dominantesFalarão os dominadosQuem pois ousa dizer: nuncaDe quem depende que a opressão prossiga? De nósDe quem depende que ela acabe? Também de nósO que é esmagado que se levante!O que está perdido, lute!O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenhaE nunca será: ainda hojePorque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhãBertold BrechtSelecção: La Salette Loureiro


"Congresso Internacional do Medo"Provisoriamente não cantaremos o amor,que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,não cantaremos o ódio porque esse não existe,existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,o medo dos soldados, o medo das mães, o medo dasigrejas,cantaremos o medo dos ditadores, o medo dosdemocratas,cantaremos o medo da morte e o medo de depois damorte,depois morreremos de medoe sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas emedrosas.Carlos Drummond de Andrade.Poema Pouco Original do MedoO medo vai ter tudopernasambulânciase o luxo blindadode alguns automóveisVai ter olhos onde ninguém o vejamãozinhas cautelosasenredos quase inocentes ouvidos não só nas paredes mas também no chão no tectono murmúrio dos esgotos e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidosO medo vai ter tudo fantasmas na óperasessões contínuas de espiritismomilagrescortejosfrases corajosasmeninas exemplaresseguras casas de penhormaliciosas casas de passeconferências váriascongressos muitosóptimos empregospoemas originaise poemas como esteprojectos altamente porcos heróis(o medo vai ter heróis!) costureiras reais e irreais operários(assim assim)escriturários(muitos)intelectuais(o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha com a certeza a delesVai ter capitaispaísessuspeitas como toda a gentemuitíssimos amigosbeijosnamorados esverdeadosamantes silenciososardentese angustiadosAh o medo vai ter tudo tudo(Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer)O medo vai ter tudo quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratosSima ratosAlexandre O'Neill.Há homens que lutam um dia, e são bons;Há outros que lutam um ano, e são melhores;Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;Porém há os que lutam toda a vida.Estes são os imprescindíveis.Bertold Brecht.Elogio da DialécticaA injustiça avança hoje a passo firmeOs tiranos fazem planos para dez mil anosO poder apregoa: as coisas continuarão a ser como sãoNenhuma voz além da dos que mandamE em todos os mercados proclama a exploração; isto é apenas o meu começoMas entre os oprimidos muitos há que agora dizemAquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremosQuem ainda está vivo não diga: nuncaO que é seguro não é seguroAs coisas não continuarão a ser como sãoDepois de falarem os dominantesFalarão os dominadosQuem pois ousa dizer: nuncaDe quem depende que a opressão prossiga? De nósDe quem depende que ela acabe? Também de nósO que é esmagado que se levante!O que está perdido, lute!O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenhaE nunca será: ainda hojePorque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhãBertold BrechtSelecção: La Salette Loureiro

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