Pintura de António Colaço, que integrou a exposição comemorativa
do 25 de Abril inaugurada há um ano na Associação 25 de Abril, em Lisboa. António Colaço vai expôr em Évora, no Hotel D. Fernando,
a partir de 8 de Maio.
Aproximam-se as comemorações de uma data histórica para Portugal. A minha geração, gente já da liberdade, vai à festa sem memória e passada aquela hora volta para casa descansado.
Mas para os outros, para aqueles que a ditadura marcou este é um tempo de ferida.
Dei-me conta disto uma noite destas à hora do jantar. No jornal da noite falava-se nos problemas económicos do país, da pobreza que alastrava, na dificuldade da justiça. Depois foi tempo dos casos polémicos do primeiro-ministro e, de novo, os números do desemprego que não param de aumentar.
Ao longo dessa hora e meia, o meu pai sentado ao meu lado, foi falando cada vez menos, foi ficando taciturno e triste….preocupei-me e inquiri-o sobre esse facto (podia ter dito algo, sem saber, que o magoasse ou que o aborrecesse): não! Estava a pensar na vida, no seu sofrimento de menino, nas lutas travadas na adolescência, na porrada que levou de cada vez que se revoltou com a desumanidade. Estava a pensar na sua esperança, hoje perdida, quando estourou a revolução e estava a pensar nos seus camaradas mortos, uns no Ultramar, outros nas cadeias portuguesas.
Os olhos daquele ancião cheios de água, tocaram-me fundo. Ali estava a imagem de uma geração de gente que sonhou com um pais livre e melhor e que hoje olhava para ele com mágoa, tristeza e desespero por já não ter forças para lutar e por já não ter tempo de vida para ver o seu país mudar.
Aproximamo-nos da data em que muitos vão divertir-se - os da minha geração. Enquanto outros ficarão em casa a chorar pela esperança perdida - a geração que sonhou com a Liberdade!
Lurdes23 Abril, 2010 11:33
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Pintura de António Colaço, que integrou a exposição comemorativa
do 25 de Abril inaugurada há um ano na Associação 25 de Abril, em Lisboa. António Colaço vai expôr em Évora, no Hotel D. Fernando,
a partir de 8 de Maio.
Aproximam-se as comemorações de uma data histórica para Portugal. A minha geração, gente já da liberdade, vai à festa sem memória e passada aquela hora volta para casa descansado.
Mas para os outros, para aqueles que a ditadura marcou este é um tempo de ferida.
Dei-me conta disto uma noite destas à hora do jantar. No jornal da noite falava-se nos problemas económicos do país, da pobreza que alastrava, na dificuldade da justiça. Depois foi tempo dos casos polémicos do primeiro-ministro e, de novo, os números do desemprego que não param de aumentar.
Ao longo dessa hora e meia, o meu pai sentado ao meu lado, foi falando cada vez menos, foi ficando taciturno e triste….preocupei-me e inquiri-o sobre esse facto (podia ter dito algo, sem saber, que o magoasse ou que o aborrecesse): não! Estava a pensar na vida, no seu sofrimento de menino, nas lutas travadas na adolescência, na porrada que levou de cada vez que se revoltou com a desumanidade. Estava a pensar na sua esperança, hoje perdida, quando estourou a revolução e estava a pensar nos seus camaradas mortos, uns no Ultramar, outros nas cadeias portuguesas.
Os olhos daquele ancião cheios de água, tocaram-me fundo. Ali estava a imagem de uma geração de gente que sonhou com um pais livre e melhor e que hoje olhava para ele com mágoa, tristeza e desespero por já não ter forças para lutar e por já não ter tempo de vida para ver o seu país mudar.
Aproximamo-nos da data em que muitos vão divertir-se - os da minha geração. Enquanto outros ficarão em casa a chorar pela esperança perdida - a geração que sonhou com a Liberdade!
Lurdes23 Abril, 2010 11:33