Segunda-feira, o Diário Económico publica um estudo da KPMG que comprova que a carga fiscal em Portugal é mais pesada do que nos países mais ricos da Europa.
Segunda-feira, o Diário Económico publica um estudo da KPMG que comprova que a carga fiscal em Portugal é mais pesada do que nos países mais ricos da Europa. Clamor geral contra a subida de impostos. Quarta-feira, o Governo divulga o estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) com um conjunto de medidas para reduzir a despesa pública em Portugal. As mesmas pessoas que reclamam com a subida de impostos protestam aos gritos contra as conclusões do Fundo. É uma reacção louca e pouco compreensível. Nas últimas décadas, os portugueses só pensam em direitos e esquecem que também têm obrigações. Querem tudo do Estado, independentemente do custo, mas não querem pagar impostos. Isso não é mais possível. Até agora foi-se levando com défices orçamentais e um endividamento elevado. A crise mostrou que é uma vida insustentável. Não há credor internacional que esteja disposto a pagar, por isso acabámos com a ‘troika' em Lisboa.
Independentemente dos lapsos, o relatório do FMI tem vários méritos. Desde logo, faz uma boa radiografia dos problemas da Administração Pública: a dimensão excessiva tendo em conta a produção de riqueza em Portugal, largas ineficiências e uma forte iniquidade. Basta olhar para o primeiro gráfico do relatório ou ver os dados para o peso dos salários do Estado no PIB para verificar que a despesa do Estado em Portugal supera as médias internacionais. Os técnicos do FMI tiraram bem as medidas ao monstro. Este relatório vem actualizar um diagnóstico feito há muito.
Contudo, o documento do Fundo não apresenta um roteiro para a reforma do Estado. Limita-se a apresentar um conjunto de medidas para várias áreas com o objectivo de cortar quatro mil milhões de euros. Esse era objectivo do relatório e foi atingido com distinção. Por isso, os ataques aos técnicos do FMI não fazem sentido. Foram-lhes pedidas sugestões e eles fizeram o seu trabalho, embora muitas das medidas sejam despropositadas.
Agora é a vez dos portugueses também fazerem o seu trabalho. A reforma do Estado é difícil e dolorosa, mas fundamental para o futuro do País. E nenhuma instituição internacional concretizará as mudanças por nós. Os partidos e a sociedade civil devem alcançar os consensos mínimos para a reforma da Administração Pública. É necessário definir as funções do Estado, o número de funcionários, melhorar o sistema de pensões e as prestações sociais. E depois verificar que nível de impostos deve ser cobrado para pagar esse Estado. Como se vê, questões fracturantes que exigem ponderação no debate.
Mas está a ser tudo feito ao contrário. O debate político é próprio de um manicómio, com culpas para todos os lados. O Governo introduziu o debate com atraso e da forma errada - agarrado a um relatório de técnicos com algumas medidas exageradas. Já o PS prefere reclamar por eleições antecipadas quando não tem uma alternativa política. Qual é o plano de Seguro? Manter o Estado como está? Já todos vimos que não é possível.
Os portugueses adoram cortes e reformas desde que não seja no seu quintal. Enquanto os políticos estiverem entretidos com discussões estéreis, as diversas corporações vão conseguindo bloquear as mudanças. A crise não pode ser só para alguns.
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Segunda-feira, o Diário Económico publica um estudo da KPMG que comprova que a carga fiscal em Portugal é mais pesada do que nos países mais ricos da Europa.
Segunda-feira, o Diário Económico publica um estudo da KPMG que comprova que a carga fiscal em Portugal é mais pesada do que nos países mais ricos da Europa. Clamor geral contra a subida de impostos. Quarta-feira, o Governo divulga o estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) com um conjunto de medidas para reduzir a despesa pública em Portugal. As mesmas pessoas que reclamam com a subida de impostos protestam aos gritos contra as conclusões do Fundo. É uma reacção louca e pouco compreensível. Nas últimas décadas, os portugueses só pensam em direitos e esquecem que também têm obrigações. Querem tudo do Estado, independentemente do custo, mas não querem pagar impostos. Isso não é mais possível. Até agora foi-se levando com défices orçamentais e um endividamento elevado. A crise mostrou que é uma vida insustentável. Não há credor internacional que esteja disposto a pagar, por isso acabámos com a ‘troika' em Lisboa.
Independentemente dos lapsos, o relatório do FMI tem vários méritos. Desde logo, faz uma boa radiografia dos problemas da Administração Pública: a dimensão excessiva tendo em conta a produção de riqueza em Portugal, largas ineficiências e uma forte iniquidade. Basta olhar para o primeiro gráfico do relatório ou ver os dados para o peso dos salários do Estado no PIB para verificar que a despesa do Estado em Portugal supera as médias internacionais. Os técnicos do FMI tiraram bem as medidas ao monstro. Este relatório vem actualizar um diagnóstico feito há muito.
Contudo, o documento do Fundo não apresenta um roteiro para a reforma do Estado. Limita-se a apresentar um conjunto de medidas para várias áreas com o objectivo de cortar quatro mil milhões de euros. Esse era objectivo do relatório e foi atingido com distinção. Por isso, os ataques aos técnicos do FMI não fazem sentido. Foram-lhes pedidas sugestões e eles fizeram o seu trabalho, embora muitas das medidas sejam despropositadas.
Agora é a vez dos portugueses também fazerem o seu trabalho. A reforma do Estado é difícil e dolorosa, mas fundamental para o futuro do País. E nenhuma instituição internacional concretizará as mudanças por nós. Os partidos e a sociedade civil devem alcançar os consensos mínimos para a reforma da Administração Pública. É necessário definir as funções do Estado, o número de funcionários, melhorar o sistema de pensões e as prestações sociais. E depois verificar que nível de impostos deve ser cobrado para pagar esse Estado. Como se vê, questões fracturantes que exigem ponderação no debate.
Mas está a ser tudo feito ao contrário. O debate político é próprio de um manicómio, com culpas para todos os lados. O Governo introduziu o debate com atraso e da forma errada - agarrado a um relatório de técnicos com algumas medidas exageradas. Já o PS prefere reclamar por eleições antecipadas quando não tem uma alternativa política. Qual é o plano de Seguro? Manter o Estado como está? Já todos vimos que não é possível.
Os portugueses adoram cortes e reformas desde que não seja no seu quintal. Enquanto os políticos estiverem entretidos com discussões estéreis, as diversas corporações vão conseguindo bloquear as mudanças. A crise não pode ser só para alguns.