CIDADANIA LX: Governo estuda portagens nas cidades e recua nas renováveis

24-01-2012
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Por Ricardo Garcia in Público Novo plano climático em elaboração não apostará em mais barragens ou parques eólicos e poderá incluir portagens urbanasO Ministério do Ambiente vai ponderar a introdução de portagens urbanas, no âmbito de um novo plano para o combate às alterações climáticas em fase de preparação. Já a aposta em novos projectos de energias renováveis - como parques eólicos ou barragens - será travada, em troca de mais eficiência energética. A nova estratégia deverá substituir o actual Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), cujas medidas visavam reduzir, até 2012, as emissões em Portugal de gases responsáveis pelo aquecimento global. Com o PNAC quase a expirar e com metas europeias ainda a cumprir no médio prazo, o Governo vai propor um novo plano no próximo ano."Estamos a rever o PNAC e vamos apresentar um novo instrumento para 2013-2020, que planeamos ter pronto em 2012", disse ao PÚBLICO a ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas.Sem adiantar muitos pormenores, Cristas afirma que haverá novidades no sector dos transportes, em especial nos "bons comportamentos" relacionados com uso do automóvel privado. "Esta é uma área em que vamos apresentar com certeza medidas relevantes", diz.Partilha do carroUma das ideias é incentivar a partilha de automóveis - conhecida pelo termo inglês car-pooling. Mas as portagens urbanas também estão na mira da ministra. "É uma questão que está no nosso menu, embora, se compararmos com estratégias como o car-pooling, me pareça mais difícil de implementar", afirma Assunção Cristas. "Numa primeira fase, numa altura em que o país tem poucos recursos, vamos procurar avançar com soluções mais baratas", completa.A área dos transportes é uma das mais problemáticas na política climática nacional. Algumas medidas centrais para o sector no PNAC estão atrasadas, contribuindo para o défice do plano em relação ao que estava previsto. Até ao final de 2010, o efeito do PNAC na redução de emissões estava abaixo da meta em cerca de sete milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) ­- quase 10% das emissões totais do país por ano.O problema nos transportes seria hoje muito pior, se não fosse a crise económica. Em Setembro passado, o consumo de combustíveis rodoviários foi 7,4% menor do que no mesmo mês de 2010, segundo o índice E.Value, criado por uma empresa de consultoria e que mede a trajectória das emissões de CO2 nos transportes e na produção eléctrica. Foco na eficiênciaO Governo pretende também reorientar a política energética nacional, que até agora privilegiava numa forte expansão das energias renováveis. "Não vamos deixar de ter preocupação nesse ponto, mas vamos ter o nosso foco na eficiência energética e de outros recursos, como a própria água", diz a ministra do Ambiente. "No mix energético, a eficiência deve ter um peso maior", completa.Pressionado pelos compromissos assumidos no âmbito da ajuda financeira do FMI e da União Europeia, o Governo já manifestara antes a intenção de reduzir ou eliminar os subsídios às energias renováveis. Assunção Cristas diz também que não quer mais barragens - uma bandeira importante do Governo de José Sócrates. A ministra está consciente de que pouco pode fazer em relação aos contratos já assinados, no âmbito do Plano Nacional de Barragens. Mas diz: "Nalguns casos, pode haver necessidade de revisão de um ponto ou outro. O nosso ponto hoje é diferente do ponto de há cinco anos".Novos projectos estão fora de questão. "O nosso maior desafio não está em acrescentar fontes de energia, está em reduzir os consumos e induzir comportamnetos eficientes. Os planos vão estar muito alinhados por este objectivo", justifica.Na prática, isto põe em causa a meta definida em 2010 de instalação de novos parques eólicos que aumentariam quase em 50% a potência que se prevê instalada até ao final de 2012.Antes do novo PNAC, o ministério do Ambiente conta apresentar, já no princípio do próximo ano, um "roteiro de baixo carbono" - uma espécie de guia de como o país poderá conseguir reduções ainda mais ambiciosas das emissões de CO2 no futuro. Até 2020, a UE quer reduzir em 20% as suas emissões. Mas na repartição deste esforço pelos Estados-membros, Portugal poderá ainda aumentar em 1% as emissões, em relação a 2005. Mas até 2050, a ambição europeia é de 80% a 95% de redução. Nenhum país poderá escapar a cortes drásticos, o que implica mudanças radicais no uso da energia. O roteiro de baixo carbono trabalhará sobre estes dois cenários temporais e, segundo Assunção Cristas, deverá ser apresentado em Janeiro de 2012.


Por Ricardo Garcia in Público Novo plano climático em elaboração não apostará em mais barragens ou parques eólicos e poderá incluir portagens urbanasO Ministério do Ambiente vai ponderar a introdução de portagens urbanas, no âmbito de um novo plano para o combate às alterações climáticas em fase de preparação. Já a aposta em novos projectos de energias renováveis - como parques eólicos ou barragens - será travada, em troca de mais eficiência energética. A nova estratégia deverá substituir o actual Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), cujas medidas visavam reduzir, até 2012, as emissões em Portugal de gases responsáveis pelo aquecimento global. Com o PNAC quase a expirar e com metas europeias ainda a cumprir no médio prazo, o Governo vai propor um novo plano no próximo ano."Estamos a rever o PNAC e vamos apresentar um novo instrumento para 2013-2020, que planeamos ter pronto em 2012", disse ao PÚBLICO a ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas.Sem adiantar muitos pormenores, Cristas afirma que haverá novidades no sector dos transportes, em especial nos "bons comportamentos" relacionados com uso do automóvel privado. "Esta é uma área em que vamos apresentar com certeza medidas relevantes", diz.Partilha do carroUma das ideias é incentivar a partilha de automóveis - conhecida pelo termo inglês car-pooling. Mas as portagens urbanas também estão na mira da ministra. "É uma questão que está no nosso menu, embora, se compararmos com estratégias como o car-pooling, me pareça mais difícil de implementar", afirma Assunção Cristas. "Numa primeira fase, numa altura em que o país tem poucos recursos, vamos procurar avançar com soluções mais baratas", completa.A área dos transportes é uma das mais problemáticas na política climática nacional. Algumas medidas centrais para o sector no PNAC estão atrasadas, contribuindo para o défice do plano em relação ao que estava previsto. Até ao final de 2010, o efeito do PNAC na redução de emissões estava abaixo da meta em cerca de sete milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) ­- quase 10% das emissões totais do país por ano.O problema nos transportes seria hoje muito pior, se não fosse a crise económica. Em Setembro passado, o consumo de combustíveis rodoviários foi 7,4% menor do que no mesmo mês de 2010, segundo o índice E.Value, criado por uma empresa de consultoria e que mede a trajectória das emissões de CO2 nos transportes e na produção eléctrica. Foco na eficiênciaO Governo pretende também reorientar a política energética nacional, que até agora privilegiava numa forte expansão das energias renováveis. "Não vamos deixar de ter preocupação nesse ponto, mas vamos ter o nosso foco na eficiência energética e de outros recursos, como a própria água", diz a ministra do Ambiente. "No mix energético, a eficiência deve ter um peso maior", completa.Pressionado pelos compromissos assumidos no âmbito da ajuda financeira do FMI e da União Europeia, o Governo já manifestara antes a intenção de reduzir ou eliminar os subsídios às energias renováveis. Assunção Cristas diz também que não quer mais barragens - uma bandeira importante do Governo de José Sócrates. A ministra está consciente de que pouco pode fazer em relação aos contratos já assinados, no âmbito do Plano Nacional de Barragens. Mas diz: "Nalguns casos, pode haver necessidade de revisão de um ponto ou outro. O nosso ponto hoje é diferente do ponto de há cinco anos".Novos projectos estão fora de questão. "O nosso maior desafio não está em acrescentar fontes de energia, está em reduzir os consumos e induzir comportamnetos eficientes. Os planos vão estar muito alinhados por este objectivo", justifica.Na prática, isto põe em causa a meta definida em 2010 de instalação de novos parques eólicos que aumentariam quase em 50% a potência que se prevê instalada até ao final de 2012.Antes do novo PNAC, o ministério do Ambiente conta apresentar, já no princípio do próximo ano, um "roteiro de baixo carbono" - uma espécie de guia de como o país poderá conseguir reduções ainda mais ambiciosas das emissões de CO2 no futuro. Até 2020, a UE quer reduzir em 20% as suas emissões. Mas na repartição deste esforço pelos Estados-membros, Portugal poderá ainda aumentar em 1% as emissões, em relação a 2005. Mas até 2050, a ambição europeia é de 80% a 95% de redução. Nenhum país poderá escapar a cortes drásticos, o que implica mudanças radicais no uso da energia. O roteiro de baixo carbono trabalhará sobre estes dois cenários temporais e, segundo Assunção Cristas, deverá ser apresentado em Janeiro de 2012.

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