A recente polémica do cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, ter afirmado que "o preservativo não resolve o problema da Sida, torna-o pior" (uma frase para a História) em vésperas de partir para África, o continente mais assolado pelo vírus, caíu mesmo muito mal. Da ONU a profissionais de saúde (a ministra da Saúde portuguesa Ana Jorge desaprovou hoje as afirmações do Papa), passando por membros da própria Igreja Católica, ninguém gostou de ouvir o Papa dizer que afinal o preservativo "faz mal". Não se podem entender as afirmações de Bento XVI de outra forma.Considero que a Igreja está no seu pleno direito de transmitir aos católicos que não aprova o uso do preservativo, e é preciso não esquecer que Bento XVI não chegou aos Camarões e Angola e impôs aos católicos uma espécie de veto ao preservativo. Nada disso. Só que o Papa é o líder de uma religião seguida por quase mil milhões de pessoas, e muitas dão-lhe ouvidos. Sim, não adianta que venham agora católicos dizer que é "só deixar o Papa falar". Existem católicos convictos que dão ouvidos ao Papa, e conheço mesmo alguns pessoalmente. O senhor (o Papa, entenda-se) tem uma responsabilidade com os católicos, que é a de os orientar no melhor caminho. Ao negar o facto de que o uso do preservativo pode salvar vidas, está a alimentar uma polémica escusada.Está comprovado que o uso correcto do preservativo diminui em quase 100% o risco de doenças sexualmente transmissíveis, e foram anos e anos, milhões e milhões de dólares, libras, euros, reais, kwanzas e rublos gastos a tornar a população mais segura. Não foi fácil convencer um mundo simplesmente humano, e como tal vulnerável e pecador, que a prevenção é a única solução. Principalmente os jovens, já de si um poço de hormonas saltitantes, que provavelmente pensam que usar o preservativo e como comer um rebuçado embrulhado no papel. Nem me passa pela cabeça o que poderia ter acontecido com os números já de si trágicos da SIDA no mundo se não fosse o preservativo. É como naquela publicidade: é um salva-vidas.A abstinência e a monogamia são valores morais sólidos que fazem todo o sentido, só que não passa pela cabeça de ninguém que a mensagem de Bento XVI nesse sentido tenha eficácia. Creio que nem ele acredita. É já de si trágico saber que neste momento algures no mundo há alguém a ter relações sexuais desprotegidas e a engrossar o número daquela tragédia a que chamaram a "peste do século XX", e é também trágico que se subentenda na mensagem do Papa que é melhor morrer de uma doença horrível do que "pecar" usando o preservativo. Não quero acreditar que a mensagem tenha passado. Quero antes acreditar que alguém com dois dedos de testa acha estas afirmações do Papa simplesmente ridículas. E pelos outros resta-me apenas rezar.
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A recente polémica do cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, ter afirmado que "o preservativo não resolve o problema da Sida, torna-o pior" (uma frase para a História) em vésperas de partir para África, o continente mais assolado pelo vírus, caíu mesmo muito mal. Da ONU a profissionais de saúde (a ministra da Saúde portuguesa Ana Jorge desaprovou hoje as afirmações do Papa), passando por membros da própria Igreja Católica, ninguém gostou de ouvir o Papa dizer que afinal o preservativo "faz mal". Não se podem entender as afirmações de Bento XVI de outra forma.Considero que a Igreja está no seu pleno direito de transmitir aos católicos que não aprova o uso do preservativo, e é preciso não esquecer que Bento XVI não chegou aos Camarões e Angola e impôs aos católicos uma espécie de veto ao preservativo. Nada disso. Só que o Papa é o líder de uma religião seguida por quase mil milhões de pessoas, e muitas dão-lhe ouvidos. Sim, não adianta que venham agora católicos dizer que é "só deixar o Papa falar". Existem católicos convictos que dão ouvidos ao Papa, e conheço mesmo alguns pessoalmente. O senhor (o Papa, entenda-se) tem uma responsabilidade com os católicos, que é a de os orientar no melhor caminho. Ao negar o facto de que o uso do preservativo pode salvar vidas, está a alimentar uma polémica escusada.Está comprovado que o uso correcto do preservativo diminui em quase 100% o risco de doenças sexualmente transmissíveis, e foram anos e anos, milhões e milhões de dólares, libras, euros, reais, kwanzas e rublos gastos a tornar a população mais segura. Não foi fácil convencer um mundo simplesmente humano, e como tal vulnerável e pecador, que a prevenção é a única solução. Principalmente os jovens, já de si um poço de hormonas saltitantes, que provavelmente pensam que usar o preservativo e como comer um rebuçado embrulhado no papel. Nem me passa pela cabeça o que poderia ter acontecido com os números já de si trágicos da SIDA no mundo se não fosse o preservativo. É como naquela publicidade: é um salva-vidas.A abstinência e a monogamia são valores morais sólidos que fazem todo o sentido, só que não passa pela cabeça de ninguém que a mensagem de Bento XVI nesse sentido tenha eficácia. Creio que nem ele acredita. É já de si trágico saber que neste momento algures no mundo há alguém a ter relações sexuais desprotegidas e a engrossar o número daquela tragédia a que chamaram a "peste do século XX", e é também trágico que se subentenda na mensagem do Papa que é melhor morrer de uma doença horrível do que "pecar" usando o preservativo. Não quero acreditar que a mensagem tenha passado. Quero antes acreditar que alguém com dois dedos de testa acha estas afirmações do Papa simplesmente ridículas. E pelos outros resta-me apenas rezar.