Insónia: Inês Lourenço said...

24-01-2012
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1.º poema do livro de poesia "Os dias pequenos charcos", Presença, Lisboa, p.13, 1981, de Joaquim Manuel Magalhães.PRINCIPIONo meio de frases destruídas,de cortes de sentido e de falsasimagens do mundo organizadaspor agressão ou por delíriocomo vou saber se a diferençanão há-de ser um pacto novo,um regresso às histórias e àsárduas gramáticas da preservação.Depois dos efeitos de recusase dissermos não, a que diremosnão?Que cânones são hoje dominantescontra que tem de refazer-sea triunfante inovação?Voltar junto dos outros, voltarao coração, voltar à ordemdas mágoas por uma linguagemlimpa, um equilibrio do que se dizao que se sente, um ímpetoao ritmo da língua e dizera catástrofe pela articuladaafirmação das palavras comuns,o abismo pela sujeição às formasdirectas do murmúrio, o terrorpela construída sintaxe sem compêndios.Voltar ao real, a esse desencantoque deixou de cantar, vê-lona figura sem espelho, na perspectivaquase de ninguém, de um corpopronto a dizer até às manchasa exacta superfície por que vaionde se perde. Em perigo.Entendo que me obriga uma certa trajectória de amor pela lucidez e desinteresse paroquial e de alergia à inveja e surda pequenez, a reproduzir este poema de 81 de JMM, do ano 1 da década de 80, admirável, sem dúvida, quando a poesia portuguesa mal refeita de sucessivos modismos, hermetismos balofos e outros tiques estéreis, estava cada vez mais a afastar-se da Língua e comunidade que a justifica. É célebre uma "Carta a Herberto Helder", do mesmo autor (JMM), onde outra vertente destas questões de influências poderosas e vórtices epigonais são referidos. Está no livro de ensaios "Os dois crepúsculos".Estou à vontade, segundo a teoria aqui exposta em alguns comentários, para falar limpa e direi mesmo com enorme admiração de Joaquim Manuel Magalhães, pois nunca escreveu uma linha a meu respeito. Colaborou isso sim, em 2 números, dos CADERNOS DE POESIA - HÍFEN (1987-1999), uma pouco pretensiosa colectânea de poemas e poetas, que de semestral passou a anual, onde eu não pretendia mais nada de relevante, do que pôr estéticas e formas de escrita em contraponto, perdendo, quiçá, algum dinheiro, desígnio que alcancei.Talvez tivesse sido esse meu desprendimento, que moveu JMM a responder às solicitações da Hífen, o que já na época, me valeu invejinhas e olhares de soslaio. Por que será? Será só porque há gente que vive num profundo autismo e não ouve mais nada? Tenho de reler o José Gil...Peço desculpa ao INSÓNIA de invadir o seu espaço. E deixe tombar a chuva excrementícia, pois anulando-se os comentários livres, os blogues mais não são que solilóquios e sociedades de "elogio mútuo", como tão bem diziam os nossos génios novecentistas, da "geração de 70".Boa tarde e a melhor poesia!Inês Lourenço

1.º poema do livro de poesia "Os dias pequenos charcos", Presença, Lisboa, p.13, 1981, de Joaquim Manuel Magalhães.PRINCIPIONo meio de frases destruídas,de cortes de sentido e de falsasimagens do mundo organizadaspor agressão ou por delíriocomo vou saber se a diferençanão há-de ser um pacto novo,um regresso às histórias e àsárduas gramáticas da preservação.Depois dos efeitos de recusase dissermos não, a que diremosnão?Que cânones são hoje dominantescontra que tem de refazer-sea triunfante inovação?Voltar junto dos outros, voltarao coração, voltar à ordemdas mágoas por uma linguagemlimpa, um equilibrio do que se dizao que se sente, um ímpetoao ritmo da língua e dizera catástrofe pela articuladaafirmação das palavras comuns,o abismo pela sujeição às formasdirectas do murmúrio, o terrorpela construída sintaxe sem compêndios.Voltar ao real, a esse desencantoque deixou de cantar, vê-lona figura sem espelho, na perspectivaquase de ninguém, de um corpopronto a dizer até às manchasa exacta superfície por que vaionde se perde. Em perigo.Entendo que me obriga uma certa trajectória de amor pela lucidez e desinteresse paroquial e de alergia à inveja e surda pequenez, a reproduzir este poema de 81 de JMM, do ano 1 da década de 80, admirável, sem dúvida, quando a poesia portuguesa mal refeita de sucessivos modismos, hermetismos balofos e outros tiques estéreis, estava cada vez mais a afastar-se da Língua e comunidade que a justifica. É célebre uma "Carta a Herberto Helder", do mesmo autor (JMM), onde outra vertente destas questões de influências poderosas e vórtices epigonais são referidos. Está no livro de ensaios "Os dois crepúsculos".Estou à vontade, segundo a teoria aqui exposta em alguns comentários, para falar limpa e direi mesmo com enorme admiração de Joaquim Manuel Magalhães, pois nunca escreveu uma linha a meu respeito. Colaborou isso sim, em 2 números, dos CADERNOS DE POESIA - HÍFEN (1987-1999), uma pouco pretensiosa colectânea de poemas e poetas, que de semestral passou a anual, onde eu não pretendia mais nada de relevante, do que pôr estéticas e formas de escrita em contraponto, perdendo, quiçá, algum dinheiro, desígnio que alcancei.Talvez tivesse sido esse meu desprendimento, que moveu JMM a responder às solicitações da Hífen, o que já na época, me valeu invejinhas e olhares de soslaio. Por que será? Será só porque há gente que vive num profundo autismo e não ouve mais nada? Tenho de reler o José Gil...Peço desculpa ao INSÓNIA de invadir o seu espaço. E deixe tombar a chuva excrementícia, pois anulando-se os comentários livres, os blogues mais não são que solilóquios e sociedades de "elogio mútuo", como tão bem diziam os nossos génios novecentistas, da "geração de 70".Boa tarde e a melhor poesia!Inês Lourenço

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