antonio boronha: ai, vasco !

26-06-2009
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no jornal 'o público' de hoje:(sem link).Ai, Carolina!Vasco Pulido ValenteO livro Eu, Carolina de Carolina Salgado (de que me limitei a ler a descrição dos jornais) parece ser de um género muito vulgar em Inglaterra e na América. Curiosamente aqui o escândalo não é sexual, mas de corrupção. A corrupção, e não o sexo, foi sempre o maior entusiasmo português. Não custa compreender porquê. A natureza igualitária do sexo deixa um país pobre indiferente a extravagâncias que ele próprio admite; e a Igreja Católica não incita, neste capítulo, a um especial rigor. A corrupção, pelo contrário, acentua o privilégio (os corrompidos, para já não falar dos corruptores, são por força gente de poder ou dinheiro) e, melhor ainda, "prova" que o sucesso e fortuna se adquirem por meios criminosos. A miséria tira da honestidade um grande consolo.A corrupção no futebol é, além disso, a corrupção mais popular. Não a mais grave, não a mais comum, nem sequer, coitada, a mais prejudicial. Os "negócios" fazem coisas com que nunca sonhou o pior aldrabão do futebol. Mas fazem o que fazem discretamente, sem um nome à vista e em operações tão complicadas que ninguém percebe. O futebol não goza desta penumbra. É público, primitivo e também ele indigente. Para começar, Portugal inteiro conhece as personagens que a polícia, a imprensa ou o ocasional denunciante acusam de "imperdoáveis" patifarias. Depois, não há qualquer mistério naquela espécie de delinquência: comprar um árbitro, traficar terrenos, pequenas trapalhadas com dinheiro. Nada que exceda a imaginação ou o intelecto do aficionado comum. De resto, o futebol está falido e viver de expedientes (fora da lei ou da decência) é um método familiar ao indígena.Nesta história, Carolina não espanta (espantaria mais que, tarde ou cedo, não viesse ao de cima uma Carolina qualquer), espanta a extraordinária importância que os jornais de referência, a "opinião" política, o Parlamento e o Governo indirectamente lhe deram. Ressuscitou a eterna investigação do Apito Dourado. As listas de candidatura para a Federação Portuguesa de Futebol atraíram de repente a atenção de meio mundo. O sr. ministro da Justiça prometeu um serviço da Judiciária exclusivamente dedicada ao futebol. Só falta uma declaração do dr. Cavaco. Carolina pisou de facto o formigueiro. Sucede que a corrupção no futebol é uma ínfima parte da corrupção geral do país. E serve sobretudo para a esconder.


no jornal 'o público' de hoje:(sem link).Ai, Carolina!Vasco Pulido ValenteO livro Eu, Carolina de Carolina Salgado (de que me limitei a ler a descrição dos jornais) parece ser de um género muito vulgar em Inglaterra e na América. Curiosamente aqui o escândalo não é sexual, mas de corrupção. A corrupção, e não o sexo, foi sempre o maior entusiasmo português. Não custa compreender porquê. A natureza igualitária do sexo deixa um país pobre indiferente a extravagâncias que ele próprio admite; e a Igreja Católica não incita, neste capítulo, a um especial rigor. A corrupção, pelo contrário, acentua o privilégio (os corrompidos, para já não falar dos corruptores, são por força gente de poder ou dinheiro) e, melhor ainda, "prova" que o sucesso e fortuna se adquirem por meios criminosos. A miséria tira da honestidade um grande consolo.A corrupção no futebol é, além disso, a corrupção mais popular. Não a mais grave, não a mais comum, nem sequer, coitada, a mais prejudicial. Os "negócios" fazem coisas com que nunca sonhou o pior aldrabão do futebol. Mas fazem o que fazem discretamente, sem um nome à vista e em operações tão complicadas que ninguém percebe. O futebol não goza desta penumbra. É público, primitivo e também ele indigente. Para começar, Portugal inteiro conhece as personagens que a polícia, a imprensa ou o ocasional denunciante acusam de "imperdoáveis" patifarias. Depois, não há qualquer mistério naquela espécie de delinquência: comprar um árbitro, traficar terrenos, pequenas trapalhadas com dinheiro. Nada que exceda a imaginação ou o intelecto do aficionado comum. De resto, o futebol está falido e viver de expedientes (fora da lei ou da decência) é um método familiar ao indígena.Nesta história, Carolina não espanta (espantaria mais que, tarde ou cedo, não viesse ao de cima uma Carolina qualquer), espanta a extraordinária importância que os jornais de referência, a "opinião" política, o Parlamento e o Governo indirectamente lhe deram. Ressuscitou a eterna investigação do Apito Dourado. As listas de candidatura para a Federação Portuguesa de Futebol atraíram de repente a atenção de meio mundo. O sr. ministro da Justiça prometeu um serviço da Judiciária exclusivamente dedicada ao futebol. Só falta uma declaração do dr. Cavaco. Carolina pisou de facto o formigueiro. Sucede que a corrupção no futebol é uma ínfima parte da corrupção geral do país. E serve sobretudo para a esconder.

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