CRÓNICAS DO PLANALTO: Estradas

02-10-2009
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Não era noite nem dia.Eram campos campos camposabertos num sonho quieto.Eram cabeços redondosde estevas adormecidas.E barrancos entre encostascheias de azul e silêncio.Silêncio que se derramapela terra escalavradae chega no horizontesuando nuvens de sangue.Era hora do poente.Quase noite e quase dia.E nos campos campos camposabertos num sonho quietosequer os passos de Nenana branca estrada se ouviam.Passavam árvores serenas,nem as ramagens mexiam,e Nena, pra lá do morro,na curva desaparecia.Já de noite que avançavaos longes escureciam.Já estranhos rumores de folhasentre as esteveiras andavam,quando, saindo um atalho,veio à estrada um vulto esguio.Tremeram os seios de Nenasob o corpete justinho.E uma oliveira amareladebruçou-se da encostacom os cabelos caídos!Não era ladrão de estradas,nem caminheiro pedinte,nem nenhum maltês errante.Era António Valmorimque estava na sua frente.— Ó nena de Montes Velhos,se te quisessem matarquem te haverá de acudir?Sob este corpete justinhouniram-se os seios de Nena.— Vai te António Valmorim.Não tenho medo da morte,só tenho medo de ti.Mas já noite fechavaa saída dos caminhos.Já do corpete bordadoos seios de Nena saíam— como duas flores abertaspor escuras mãos amparadas!Aí que perfume se elevado campo de rosmaninho!Aí como a boca de Nenase entreabre fria fria!Caiu-lhe da mão o sacojunto ao atalho das silvase sobre a sua cabeçao céu de estrelas se abriu!Ao longe subiu a luacomo um sol inda meninopasseando na charneca…Caminhos iluminadoseram fios correndo cerros.Era um grito agudo e altoque uma estrela cintilou.Eram cabeços redondosde estevas surpreendidas.Eram campos campos camposabertos de espanto e sonho…(Manuel da Fonseca)


Não era noite nem dia.Eram campos campos camposabertos num sonho quieto.Eram cabeços redondosde estevas adormecidas.E barrancos entre encostascheias de azul e silêncio.Silêncio que se derramapela terra escalavradae chega no horizontesuando nuvens de sangue.Era hora do poente.Quase noite e quase dia.E nos campos campos camposabertos num sonho quietosequer os passos de Nenana branca estrada se ouviam.Passavam árvores serenas,nem as ramagens mexiam,e Nena, pra lá do morro,na curva desaparecia.Já de noite que avançavaos longes escureciam.Já estranhos rumores de folhasentre as esteveiras andavam,quando, saindo um atalho,veio à estrada um vulto esguio.Tremeram os seios de Nenasob o corpete justinho.E uma oliveira amareladebruçou-se da encostacom os cabelos caídos!Não era ladrão de estradas,nem caminheiro pedinte,nem nenhum maltês errante.Era António Valmorimque estava na sua frente.— Ó nena de Montes Velhos,se te quisessem matarquem te haverá de acudir?Sob este corpete justinhouniram-se os seios de Nena.— Vai te António Valmorim.Não tenho medo da morte,só tenho medo de ti.Mas já noite fechavaa saída dos caminhos.Já do corpete bordadoos seios de Nena saíam— como duas flores abertaspor escuras mãos amparadas!Aí que perfume se elevado campo de rosmaninho!Aí como a boca de Nenase entreabre fria fria!Caiu-lhe da mão o sacojunto ao atalho das silvase sobre a sua cabeçao céu de estrelas se abriu!Ao longe subiu a luacomo um sol inda meninopasseando na charneca…Caminhos iluminadoseram fios correndo cerros.Era um grito agudo e altoque uma estrela cintilou.Eram cabeços redondosde estevas surpreendidas.Eram campos campos camposabertos de espanto e sonho…(Manuel da Fonseca)

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