Este ano celebra-se a passagem do centésimo aniversário de uma das séries de banda desenhada mais fabulosas de sempre:A primeira prancha foi publicada em 15 de Outubro de 1905 e prolongou-se, com interrupções várias, até 1927. No entanto, a série original, publicada entre 1905 e 23 de Abrl de 1911, corresponde ao seu período de maior esplendor.Nemo é um miúdo, com seis anos, que todas as noites tem sonhos fantásticos, sempre passados nesse país maravilhoso, a Terra dos Sonhos (Slumberland). Eram esses sonhos que o leitor acompanhava, semanalmente, e que terminavam com o Nemo a acordar no seu quarto, irritado pela interrupção. Para ele, o sonho seria retomado na noite seguinte, mas o leitor teria de esperar até ao Domingo seguinte...Ora, tratando-se de um universo onírico, então tudo é possível. Nas suas aventuras, Nemo cruza-se com monstros, gigantes e anões, animais ferozes, feiticeiros, plantas e seres extraordinários, além de visitar florestas encantadas e palácios maravilhosos, numa versão bem mais fantástica do que a de “Alice no País das Maravilhas”...Na história, a realidade resume-se a um pequeno quadradinho – quando Nemo acorda – tudo o resto constituindo matéria integrante do sonho, território sem limites. Ora, em 1905, com as teorias de Freud a desenvolverem-se, a banda desenhada é a forma de expressão ideal para plasmar essa realidade. O desenhador tem toda a liberdade para construir os mundos que entender, de fazer nascer as personagens que gostar e, o melhor de tudo, tem o infinito como limite.É, obviamente, nos desenhos que o trabalho de Winsor McCay atinge a genialidade. As cenas são profusa e pormenorizadamente desenhadas, as cores são criteriosamente escolhidas, a planificação das vinhetas é soberba e, ao mesmo tempo, absolutamente original. A influência de motivos do movimento estético Arte Nova são omnipresentes, embora, por vezes, descaia para o barroco, tal a profusão de pormenores.Maurice Horn escreveu em “The World Encyclopedia of Comics” que"Persistentemente, Winsor McCay prossegue com a sua exploração metódica do sonho. Dedicadamente, pormenoriza as suas transposições, as suas visões, as suas transformações. Graficamente e pictoricamente, recria as suas sensações, o sentido de queda livre, do voo; o sentimento de vertigem, de afastamento".À época, a série foi um sucesso extraordinário. Era publicada em páginas inteiras e os desenhos saiam enormes. Por outro lado, a impressão a cor dava os primeiros passos, e o processo de produção era de tal qualidade que faria inveja a qualquer jornal de hoje.Quem gosta de BD sabe que “Little Nemo” é o primeiro grande trabalho de fôlego a credibilizar a 9ªArte e, por isso, um marco absolutamente marcante na sua História.No entanto, em Portugal, a versão portuguesa apenas surgiu 1990, pela Livros Horizonte. Eram para sair quatro volumes, mas, tanto quanto me apercebi, apenas dois viram a luz do dia. Foi pena, já que era uma belíssima edição, onde foi posto muito cuidado ao nível do texto e da cor. Há poucos anos, a Taschen editaria uma versão integral, que rapidamente esgotou. “Nemo” é, ainda, o nome da fanzine que o poveiro Manuel Caldas editava sobre BD, ele que é uma das maiores autoridades nacionais sobre o assunto. No universo franco-belga, Jean Giraud (Moebius) e Bruno Marchand, respectivamente no texto e no desenho, revisitaram o universo de "Little Nemo", em quatro álbuns, entre 1994 e 2002. Finalmente, este ano, o Salão Internacional de Banda Desenhada da Amadora irá assinalar o 100º aniversário do nascimento de Nemo, com uma mostra de trabalhos originais de Winsor McCay. Isto numa altura em que esta obra caiu no domínio público... Se quiser adquirir a obra em nova edição e no seu formato original, pode ir até aqui.O nosso conterrâneo kafka assinalou a passagem, em tempo, do aniversário de Little Nemo e Guilherme de Oliveira Martins também (via Beco das Imagens). O blasfemo Gabriel também recordou a data.Dupont
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Este ano celebra-se a passagem do centésimo aniversário de uma das séries de banda desenhada mais fabulosas de sempre:A primeira prancha foi publicada em 15 de Outubro de 1905 e prolongou-se, com interrupções várias, até 1927. No entanto, a série original, publicada entre 1905 e 23 de Abrl de 1911, corresponde ao seu período de maior esplendor.Nemo é um miúdo, com seis anos, que todas as noites tem sonhos fantásticos, sempre passados nesse país maravilhoso, a Terra dos Sonhos (Slumberland). Eram esses sonhos que o leitor acompanhava, semanalmente, e que terminavam com o Nemo a acordar no seu quarto, irritado pela interrupção. Para ele, o sonho seria retomado na noite seguinte, mas o leitor teria de esperar até ao Domingo seguinte...Ora, tratando-se de um universo onírico, então tudo é possível. Nas suas aventuras, Nemo cruza-se com monstros, gigantes e anões, animais ferozes, feiticeiros, plantas e seres extraordinários, além de visitar florestas encantadas e palácios maravilhosos, numa versão bem mais fantástica do que a de “Alice no País das Maravilhas”...Na história, a realidade resume-se a um pequeno quadradinho – quando Nemo acorda – tudo o resto constituindo matéria integrante do sonho, território sem limites. Ora, em 1905, com as teorias de Freud a desenvolverem-se, a banda desenhada é a forma de expressão ideal para plasmar essa realidade. O desenhador tem toda a liberdade para construir os mundos que entender, de fazer nascer as personagens que gostar e, o melhor de tudo, tem o infinito como limite.É, obviamente, nos desenhos que o trabalho de Winsor McCay atinge a genialidade. As cenas são profusa e pormenorizadamente desenhadas, as cores são criteriosamente escolhidas, a planificação das vinhetas é soberba e, ao mesmo tempo, absolutamente original. A influência de motivos do movimento estético Arte Nova são omnipresentes, embora, por vezes, descaia para o barroco, tal a profusão de pormenores.Maurice Horn escreveu em “The World Encyclopedia of Comics” que"Persistentemente, Winsor McCay prossegue com a sua exploração metódica do sonho. Dedicadamente, pormenoriza as suas transposições, as suas visões, as suas transformações. Graficamente e pictoricamente, recria as suas sensações, o sentido de queda livre, do voo; o sentimento de vertigem, de afastamento".À época, a série foi um sucesso extraordinário. Era publicada em páginas inteiras e os desenhos saiam enormes. Por outro lado, a impressão a cor dava os primeiros passos, e o processo de produção era de tal qualidade que faria inveja a qualquer jornal de hoje.Quem gosta de BD sabe que “Little Nemo” é o primeiro grande trabalho de fôlego a credibilizar a 9ªArte e, por isso, um marco absolutamente marcante na sua História.No entanto, em Portugal, a versão portuguesa apenas surgiu 1990, pela Livros Horizonte. Eram para sair quatro volumes, mas, tanto quanto me apercebi, apenas dois viram a luz do dia. Foi pena, já que era uma belíssima edição, onde foi posto muito cuidado ao nível do texto e da cor. Há poucos anos, a Taschen editaria uma versão integral, que rapidamente esgotou. “Nemo” é, ainda, o nome da fanzine que o poveiro Manuel Caldas editava sobre BD, ele que é uma das maiores autoridades nacionais sobre o assunto. No universo franco-belga, Jean Giraud (Moebius) e Bruno Marchand, respectivamente no texto e no desenho, revisitaram o universo de "Little Nemo", em quatro álbuns, entre 1994 e 2002. Finalmente, este ano, o Salão Internacional de Banda Desenhada da Amadora irá assinalar o 100º aniversário do nascimento de Nemo, com uma mostra de trabalhos originais de Winsor McCay. Isto numa altura em que esta obra caiu no domínio público... Se quiser adquirir a obra em nova edição e no seu formato original, pode ir até aqui.O nosso conterrâneo kafka assinalou a passagem, em tempo, do aniversário de Little Nemo e Guilherme de Oliveira Martins também (via Beco das Imagens). O blasfemo Gabriel também recordou a data.Dupont