NOVA ÁGUIA: O BLOGUE DA LUSOFONIA: A Nov'Ilha do Mar: (de) Tétis*

23-05-2009
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(Wikipédia) Regresso à Pangeia: Terra de Pã«A vaca receberáA nova gente que vem,Com prazer de tanto bemSeu lei-te derramará.As chagas do Redemptor,E SalvadorSão as armas de nosso Rei:Porque guarda bem a Lei,E assim a greiDo mui alto Creador.Nenhum Rei, e Imperador,Nem grão SenhorNunca teve tal signal,Como este por leal,E das gentes guardador.Oh! quem tivera poderPera dizer,Os sonhos que o homem sonha!Mas hei medo, que me ponhaGrão vergonhaDe mos não quererem crer. Vi um grande Leão correrSem se deterLevar sua viagem,Tomar o porco selvagemNa passagem,Sem nada lho defender.Tirará toda a erroniaSerá paz em todo o MundoDe quatro Reis o segundoHaverá toda a victória.Sonhava com grão prazer,Que os mortos ressuscitavam,E todos se alevantavam,E tornavam a nascer.E via aos que estãoTrás os rios escondidos;Sonhava, que eram saídosFora daquela prisão.Vejo um alto engenhoEm uma roda triunfanteVejo subir um InfanteNo alto de todo o lenho.Desamparar o cortiçoUma abelha mestra vejo;As outras com muito pejoNão têm asas para isso.»Bandarra, Trovas«(...) o disse João - só na terceira o Espírito virá pleno e, dissolvendo o fenómeno, dará a todos aquela santidade, aquele perder-se no Inominado, sem que perda haja, que só foi até hoje o de raros - e talvez sobretudo o daqueles que anónimos a Igreja celebra no dia que, em termos do porvir, mais fundo vai - o de Todos os Santos. Reino de Deus sem rei, porque sem súbditos; Império sem número algum, porque sem memória de que lhe antecederam e sem nenhum que venha a suceder-lhe; Sociedade sem classes, porque soltos os homens da política que os distingue; e da economia que os separa; da morte que a todo vivo a vida empalidece. Idade que virá e de que foi profeta o Cristo de João, ou o Abade Joaquim de Fiori, que Dante cita; Idade que fugazmente foi povo em Portugal e é Povo nas Ilhas atlânticas e é Povo no Brasil; naquele Portugal de Pessoa ortónimo ou heterónimo que em Dora vive, como outra ressurrecta ânfora, toda fremente de Mar Universal, mesmo que de lágrimas feito, e naquele Brasil, futuro do passado, que em Dora tão plenamente também vive, apesar de São Paulo - afinal tão mártir de uma técnica que, por ainda, como em todo o mundo, tateando seus passos, opressora parece, quando afinal em si traz mensagem plena de liberdade. Aquela liberdade por que ansiaram os gregos - e lhes foi apenas Democracia e Democracia de raros, como aliás o têm sido todas as Democracias; a liberdade que possuíram, depois, os Santos em sua Comunhão; mas Liberdade que só se afirmará, não sendo por ter substituído todo o ortodoxo e todo o heterodoxo pelo Paradoxo que tão raros ousaram e por ele morreram; mas que por ele ressurgirão num outro terceiro dia, em que mais escola alguma matará a Criança Eterna que todos deveríamos ser e se sentarão, como nós todos, se o ousarmos ser já, à mão direita de um Deus que não terá mais nenhum culto, se não o que a si próprio, por o ser, a Divindade se presta. Ancorada, como parece, na primeira Idade, a ligeira galera de cuja amurada Dora transparece as águas, voga ela à Terceira e no Atlântico de África e Brasil se transformará na Barca divina dos mais antigos que os gregos, aqueles que, fechando o ciclo, serão os primeiros dos últimos. Simultâneos primeiros e últimos, no único tempo que verdadeiramente importa: o que é contemporâneo do eterno.»Agostinho da Silva, Carta de Agostinho da Silva sobre Talhamar (1988)«Ornada de nastrosfareja a espuma,olhos chamejantes, ante o mar.(Na areia há poças de céu e nuvens,nódoas de negras mariposas.)A novilha baixa a cerviz, balindo,mas não se afasta: fareja o hálito do Paie à vaga se entrega (para a morte, para a vida,não sabe). Sopra o vento de Dionisos rubroe em velo de ouro seu corpo se transmuda.Fogem delfins. Alastram-se algas,seres híbridos de progênie incerta.A novilha flutua em luminoso torvelinhoàs fitas de ouro enlaçada;seus grandes olhos descem às profundezase vê as quatro portas do tenebroso Mar.Borbulha o abissal; deuses se forjam e o tempo,armam-se auroras de capacetes cintilantese sóis se diluem; do arcano do sononutrem-se sonhos e ao germinar infusotreva e luz são arrancadas.Vê os nomes primordiaisque às coisas conferem vida e esplendor:onde, sem nenhum apoio, finalmente está,onde, sem ontem e amanhã, finalmente estáe fulgura sem que nada a ilumine.A luz dali não vem, pois é a luz em seu primeiro vagido.Nome não tem e a tudo nomeianas entrançadas raízes das coisas por nascer.Não é, não existe, simplesmente está no Incontaminadoe fora do tempo, porque o tempo dele se origina.A um suspiro seu, a cadeia da vida se propaga.Diz a Palavra, desviando o olhar: A vidaé o ponto escolhido para o triunfo célere de um deus.Cada pedra, cada homem ou árvorevela e desvela uma face rápida e divina.(Os deuses espreitam a vida com olhos temerosos.)Porque a vida não é, a vida está.nada ia no barcoe tudo era o Mar»Dora Ferreira da Silva, Talhamar (1982)*«A deusa do mar, a mais jovem das Titânidas, filha de Urano, o Céu, e de Gaia, a Terra. Seu nome em grego significa ama, nutriz»Site


(Wikipédia) Regresso à Pangeia: Terra de Pã«A vaca receberáA nova gente que vem,Com prazer de tanto bemSeu lei-te derramará.As chagas do Redemptor,E SalvadorSão as armas de nosso Rei:Porque guarda bem a Lei,E assim a greiDo mui alto Creador.Nenhum Rei, e Imperador,Nem grão SenhorNunca teve tal signal,Como este por leal,E das gentes guardador.Oh! quem tivera poderPera dizer,Os sonhos que o homem sonha!Mas hei medo, que me ponhaGrão vergonhaDe mos não quererem crer. Vi um grande Leão correrSem se deterLevar sua viagem,Tomar o porco selvagemNa passagem,Sem nada lho defender.Tirará toda a erroniaSerá paz em todo o MundoDe quatro Reis o segundoHaverá toda a victória.Sonhava com grão prazer,Que os mortos ressuscitavam,E todos se alevantavam,E tornavam a nascer.E via aos que estãoTrás os rios escondidos;Sonhava, que eram saídosFora daquela prisão.Vejo um alto engenhoEm uma roda triunfanteVejo subir um InfanteNo alto de todo o lenho.Desamparar o cortiçoUma abelha mestra vejo;As outras com muito pejoNão têm asas para isso.»Bandarra, Trovas«(...) o disse João - só na terceira o Espírito virá pleno e, dissolvendo o fenómeno, dará a todos aquela santidade, aquele perder-se no Inominado, sem que perda haja, que só foi até hoje o de raros - e talvez sobretudo o daqueles que anónimos a Igreja celebra no dia que, em termos do porvir, mais fundo vai - o de Todos os Santos. Reino de Deus sem rei, porque sem súbditos; Império sem número algum, porque sem memória de que lhe antecederam e sem nenhum que venha a suceder-lhe; Sociedade sem classes, porque soltos os homens da política que os distingue; e da economia que os separa; da morte que a todo vivo a vida empalidece. Idade que virá e de que foi profeta o Cristo de João, ou o Abade Joaquim de Fiori, que Dante cita; Idade que fugazmente foi povo em Portugal e é Povo nas Ilhas atlânticas e é Povo no Brasil; naquele Portugal de Pessoa ortónimo ou heterónimo que em Dora vive, como outra ressurrecta ânfora, toda fremente de Mar Universal, mesmo que de lágrimas feito, e naquele Brasil, futuro do passado, que em Dora tão plenamente também vive, apesar de São Paulo - afinal tão mártir de uma técnica que, por ainda, como em todo o mundo, tateando seus passos, opressora parece, quando afinal em si traz mensagem plena de liberdade. Aquela liberdade por que ansiaram os gregos - e lhes foi apenas Democracia e Democracia de raros, como aliás o têm sido todas as Democracias; a liberdade que possuíram, depois, os Santos em sua Comunhão; mas Liberdade que só se afirmará, não sendo por ter substituído todo o ortodoxo e todo o heterodoxo pelo Paradoxo que tão raros ousaram e por ele morreram; mas que por ele ressurgirão num outro terceiro dia, em que mais escola alguma matará a Criança Eterna que todos deveríamos ser e se sentarão, como nós todos, se o ousarmos ser já, à mão direita de um Deus que não terá mais nenhum culto, se não o que a si próprio, por o ser, a Divindade se presta. Ancorada, como parece, na primeira Idade, a ligeira galera de cuja amurada Dora transparece as águas, voga ela à Terceira e no Atlântico de África e Brasil se transformará na Barca divina dos mais antigos que os gregos, aqueles que, fechando o ciclo, serão os primeiros dos últimos. Simultâneos primeiros e últimos, no único tempo que verdadeiramente importa: o que é contemporâneo do eterno.»Agostinho da Silva, Carta de Agostinho da Silva sobre Talhamar (1988)«Ornada de nastrosfareja a espuma,olhos chamejantes, ante o mar.(Na areia há poças de céu e nuvens,nódoas de negras mariposas.)A novilha baixa a cerviz, balindo,mas não se afasta: fareja o hálito do Paie à vaga se entrega (para a morte, para a vida,não sabe). Sopra o vento de Dionisos rubroe em velo de ouro seu corpo se transmuda.Fogem delfins. Alastram-se algas,seres híbridos de progênie incerta.A novilha flutua em luminoso torvelinhoàs fitas de ouro enlaçada;seus grandes olhos descem às profundezase vê as quatro portas do tenebroso Mar.Borbulha o abissal; deuses se forjam e o tempo,armam-se auroras de capacetes cintilantese sóis se diluem; do arcano do sononutrem-se sonhos e ao germinar infusotreva e luz são arrancadas.Vê os nomes primordiaisque às coisas conferem vida e esplendor:onde, sem nenhum apoio, finalmente está,onde, sem ontem e amanhã, finalmente estáe fulgura sem que nada a ilumine.A luz dali não vem, pois é a luz em seu primeiro vagido.Nome não tem e a tudo nomeianas entrançadas raízes das coisas por nascer.Não é, não existe, simplesmente está no Incontaminadoe fora do tempo, porque o tempo dele se origina.A um suspiro seu, a cadeia da vida se propaga.Diz a Palavra, desviando o olhar: A vidaé o ponto escolhido para o triunfo célere de um deus.Cada pedra, cada homem ou árvorevela e desvela uma face rápida e divina.(Os deuses espreitam a vida com olhos temerosos.)Porque a vida não é, a vida está.nada ia no barcoe tudo era o Mar»Dora Ferreira da Silva, Talhamar (1982)*«A deusa do mar, a mais jovem das Titânidas, filha de Urano, o Céu, e de Gaia, a Terra. Seu nome em grego significa ama, nutriz»Site

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