O sol que assim se abate sobre mimé meu, na implausibilidadeda palavra, na negaçãoda ideiaCondição implacável,esta de ter um céu,quase ter Deus,ver abismos de frente e retornar depoisaos minúsculos gestosde pôr a mesa, arrumar papéis,organizar a vida— contas, subtracções, que é precisoaquecer, como o destinoNo ajuste do sol,o meu sonho esta noite foicontigoE é como se vivesse em diferido:frases de frente,sílabas que se impõem, perfiladassó me deixam dormir em haustosmuito curtos,como se respirasse sem conforto,a chuva num horror de vidroclaroE todavia, tenho um céu,avesso do que sabe redimir,mas céuQue mística haveráneste colocar versos, uns sobre osoutros, peças de jogar, pirâmidesde plástico ou madeira,os faraós ausentes?Convoco o sol, que é meu,mas não aqueceE sou quase completa nessaimperfeiçãoANA LUÍSA AMARALInédito
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O sol que assim se abate sobre mimé meu, na implausibilidadeda palavra, na negaçãoda ideiaCondição implacável,esta de ter um céu,quase ter Deus,ver abismos de frente e retornar depoisaos minúsculos gestosde pôr a mesa, arrumar papéis,organizar a vida— contas, subtracções, que é precisoaquecer, como o destinoNo ajuste do sol,o meu sonho esta noite foicontigoE é como se vivesse em diferido:frases de frente,sílabas que se impõem, perfiladassó me deixam dormir em haustosmuito curtos,como se respirasse sem conforto,a chuva num horror de vidroclaroE todavia, tenho um céu,avesso do que sabe redimir,mas céuQue mística haveráneste colocar versos, uns sobre osoutros, peças de jogar, pirâmidesde plástico ou madeira,os faraós ausentes?Convoco o sol, que é meu,mas não aqueceE sou quase completa nessaimperfeiçãoANA LUÍSA AMARALInédito