A B S O R T O: REQUIEM POR SALVADOR ALLENDE

30-06-2009
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Fotografia de Hélder Gonçalves(…)Foi no ano de mil novecentos e setentaano em que eu fiquei a apodrecer no meu paísque uma coligação do tipo frente popular tomoupela via legal conta do poder no Chilelegalidade sempre respeitada por ti allendemas por fim desrespeitada pelos militares pelas direitas pelacristã democracia partido bem pouco cristão e pouco democráticofalavas tu dizias a verdadeuma bala na boca nessa boca donde ainda pouco antessaíam as palavras na verdade belas como balassalvador allende guerrilheiro sem metralhadora e sem boinade casaco e gravata para essas guerrilhas no parlamentoguerrilhas todas elas tão contrárias à guerra quão favoráveis à pazessa palavra alada como ave ave não só de georges braquemas de nós todos aves verticais aves a última estaçãoárvores desfolhadas num definitivo invernoallende do cansaço dos problemas da preocupação constante em jogares limpo]com quem em vez de mãos utensílio de paz vinha com bombasem lugar das mãos]allende já há muito tempo sem uns olhos para olhares o mare sem poderes olhar as pedras preciosas de que falapablo neruda teu e meu poeta teu íntimo amigoem las piedras del cielo esse livro puríssimoe são pedras do céu mas mais do que do céu pedras da terraSol que te pões e nascerás no Chileleva-me a um país que em criança conhecíamos apenasdos sacos de serapilheira com o nome impresso de um nitratoe não por dar o nome a uma pequena mas confusa praça de lisboanem por sair nas páginas diárias dos jornais(…)Ruy Belo[No dia do funeral do ditador a versão integral do poema.]In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”Assírio & Alvim – 2ª edição (Outubro de 2004)

Fotografia de Hélder Gonçalves(…)Foi no ano de mil novecentos e setentaano em que eu fiquei a apodrecer no meu paísque uma coligação do tipo frente popular tomoupela via legal conta do poder no Chilelegalidade sempre respeitada por ti allendemas por fim desrespeitada pelos militares pelas direitas pelacristã democracia partido bem pouco cristão e pouco democráticofalavas tu dizias a verdadeuma bala na boca nessa boca donde ainda pouco antessaíam as palavras na verdade belas como balassalvador allende guerrilheiro sem metralhadora e sem boinade casaco e gravata para essas guerrilhas no parlamentoguerrilhas todas elas tão contrárias à guerra quão favoráveis à pazessa palavra alada como ave ave não só de georges braquemas de nós todos aves verticais aves a última estaçãoárvores desfolhadas num definitivo invernoallende do cansaço dos problemas da preocupação constante em jogares limpo]com quem em vez de mãos utensílio de paz vinha com bombasem lugar das mãos]allende já há muito tempo sem uns olhos para olhares o mare sem poderes olhar as pedras preciosas de que falapablo neruda teu e meu poeta teu íntimo amigoem las piedras del cielo esse livro puríssimoe são pedras do céu mas mais do que do céu pedras da terraSol que te pões e nascerás no Chileleva-me a um país que em criança conhecíamos apenasdos sacos de serapilheira com o nome impresso de um nitratoe não por dar o nome a uma pequena mas confusa praça de lisboanem por sair nas páginas diárias dos jornais(…)Ruy Belo[No dia do funeral do ditador a versão integral do poema.]In “Todos os Poemas – III” – “Toda a Terra” – I Parte “Areias de Portugal”Assírio & Alvim – 2ª edição (Outubro de 2004)

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