Rabiscos e Garatujas: Veias

30-09-2009
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Há dias no mês em que isto acontece. Descobri-o nos primeiros dias de gravidez e nunca mais falhou. A pele fica transparente e, generosa, mostra-me os caminhos que o meu sangue percorre . Começam nas faces, descem pelo queixo, riscam a garganta, galgam os montículos que se avizinham e, num verde vivo, ramificam-se e desaguam nos círculos protuberantes. Reaparecem aqui e ali no sexo escondido. Nos braços, ganham relevo. O líquido da vida pulsa, muito nitidamente, nos cursos cefálico e basílico. E, a partir do antebraço, o trilho segue até às palmas das mãos onde o verde mais escuro se torna azulado. Nas coxas, os riscos miudinhos, são de um vermelho-roxo ameaçador. Recuperam a cor verde um pouco mais abaixo. A partir da dobra do joelho, traçam a barriga das pernas e multiplicam-se no dorso e na planta dos pés.Nestes dias do mês esqueço o grotesco do meu corpo. Dispo-me. Enfrento o espelho. A imagem que ele devolve seduz-me. O meu corpo todo riscado a verde fervilha vida. Parece uma obra de arte, pintada, exposta num museu qualquer de fotografia contemporânea.


Há dias no mês em que isto acontece. Descobri-o nos primeiros dias de gravidez e nunca mais falhou. A pele fica transparente e, generosa, mostra-me os caminhos que o meu sangue percorre . Começam nas faces, descem pelo queixo, riscam a garganta, galgam os montículos que se avizinham e, num verde vivo, ramificam-se e desaguam nos círculos protuberantes. Reaparecem aqui e ali no sexo escondido. Nos braços, ganham relevo. O líquido da vida pulsa, muito nitidamente, nos cursos cefálico e basílico. E, a partir do antebraço, o trilho segue até às palmas das mãos onde o verde mais escuro se torna azulado. Nas coxas, os riscos miudinhos, são de um vermelho-roxo ameaçador. Recuperam a cor verde um pouco mais abaixo. A partir da dobra do joelho, traçam a barriga das pernas e multiplicam-se no dorso e na planta dos pés.Nestes dias do mês esqueço o grotesco do meu corpo. Dispo-me. Enfrento o espelho. A imagem que ele devolve seduz-me. O meu corpo todo riscado a verde fervilha vida. Parece uma obra de arte, pintada, exposta num museu qualquer de fotografia contemporânea.

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